Colheita do Bem

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Capítulo LVII

Duas épocas de espiritualidade


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06/09/1950


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês todos, conferindo-lhes muita paz e alegria na sementeira do progresso e do bem.

Vivendo o nosso lar pátrio horas difíceis, creiam que constitui para mim uma verdadeira bênção observar-lhes o recanto de trabalho e de harmonia. No Brasil, por enquanto, relevem-me vocês o comentário confidencial, existem atormentada. A primeira é a do Carnaval e a segunda é a da política, quando se faz acompanhar por eclosões apaixonadas nas disputas eleitorais periódicas.

Tão grande antagonismo assinala ambas as palavras que nos sentimos acanhados ao enunciar a presente conceituação. Somos, contudo, uma agremiação nacional muito nova e, por enquanto, os dois períodos a que me reporto estão caracterizados, em nosso modo provisório de ser, por muitas paixões em franco desvairamento. Almas de máscara vagueiam nas mais diversas direções e a caça aos prazeres e aos postos gera dissidências sinistras e dramas ocultos que não vale a pena investigar. Refiro-me ao assunto para render graças ao Senhor em companhia de vocês por nos haver concedido abençoada permanência neste campo de harmonia e de amor, em cuja intimidade podemos comungar com as silenciosas lições da natureza. Daqui, do santuário verde e tranquilo em que nossos pensamentos residem juntos, roguemos a Jesus estenda o seu manto de luz sobre a nossa gente para que o dia não destrua tanta lavoura do bem iniciante em obras admiráveis, no plano evolutivo, através das quais podemos verificar as probabilidades do futuro. Em posições coletivas, qual a que enfrentamos, todo cuidado nas manifestações pessoais merece valiosa intensificação à face dos ânimos aparentemente serenados, mas inquietos no fundo, onde os caprichos de poderosas individualidades e grupos enormes se acham em expectação aflitiva e imanifesto desespero. Tememos distúrbios e perturbações, e cabe-nos a projeção viva e ativa dos poderes da oração, em favor do bem comum.

E em nos reportando ao nosso iluminado campo cheio de árvores e flores devo dizer a vocês que muitos companheiros desencarnados são trazidos até aqui para que novas facilidades da nossa Esfera lhes auxiliem o necessário reajustamento. Quando a terra se mantém sem o concurso do homem, é quase impraticável estabelecermos o serviço de socorro na paisagem inculta, de vez que aí não dispomos de recursos educados para o ministério do bem que nos cabe executar. Quando, porém, o solo pode contar com a colaboração inteligente e humana, o serviço espiritual pode lançar nele raízes benfeitoras e sólidas. Aqui, quase sempre, há entidades em refazimento por dias e dias consecutivos, fortalecendo-se para a caminhada.

Hoje tive a satisfação de trazer a nossa Marcelina. Precisa receber novas “injeções” de energia vitalizante para o organismo perispiritual. Está admirada com a beleza da paisagem, quase irreconhecível agora ao seu olhar. Bendiz o trabalho terrestre que lhe colocou o espírito em contato com a afeição de vocês e tem para todas as particularidades do novo meio uma risonha e comovida expressão de carinho e de prece.

Embora pareça estranho o remédio a vocês, a nossa venerável amiga aqui receberá certa medicação, destinada ao revigoramento, através da condensação de perfumes. Eu não sei se vocês já meditaram sobre o destino do perfume produzido na Terra. Conhecem que as águas têm utilidade imediata na sustentação da vida física, que o ar é básico na estruturação e alimentação de todos os seres vivos, que a terra possui aplicações especiais com todas as suas reservas imensas… Mas e as emanações das plantas? Sabemos no mundo tanto a respeito dessas “ondas balsâmicas” de plantas e flores como sabemos das “ondas mentais” de nosso próprio pensamento. O aroma, porém, se reveste de muita importância para as Esferas imediatas ao meio de progresso do homem, mormente para as entidades que abandonaram recentemente a carne. Um dia, talvez, não remoto, a própria ciência do planeta saberá distribuir com o perfume a vida e o refazimento, e se o Alto ainda não autorizou maior amplitude de ação à inteligência do homem nesse setor da experiência terrestre, é que todo progresso é arma de dois gumes. Pela inteligência apurada, há elevação e queda, glória ou decadência, porquanto a solução da prosperidade real e eterna resultará do problema de direção. O perfume que contém princípios sublimes para restaurar o tecido vital do corpo denso e do perispírito pode igualmente ser o portador da morte, segundo a aplicação que lhe dermos. Por agora, pois, baste a vocês a boa notícia de que a nossa inolvidável amiga permanece melhor e com alguns dias de estágio por aqui restabelecer-se-á muito mais depressa. Há companheiros recém-desencarnados que necessitam de fluidos ou perfumes do mar, enquanto que outros reclamam as irradiações ou aromas do campo. Tudo é belo e sublime na Criação. Nada se perde. Alguns gramas de pão se transformam em energia para a reconstituição do corpo de carne; algumas gotas de óleo podem ser convertidas em sublimadas emanações de luz na reestruturação de certas forças da vida e da natureza, e algumas flores podem realizar milagres com as ondas invisíveis de força que projetam no lugar em que vivem.

A glória de Deus é uma coroa divina que fulgura nos seres mais humildes e apagados do Universo, tanto quanto brilha na fronte dos anjos. Que o Senhor conceda a vocês muita paz, alegria e luz. Esperando que as bênçãos dele, nosso divino Mestre, nos fortifiquem o espírito em todos os passos da senda, reúne-os num apertado e grande abraço o papai reconhecido e afetuoso de sempre,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier

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