Colheita do Bem

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Capítulo LXIX

Dezesseis anos de vida nova


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13-14/12/1950


Meu caro Rômulo, Deus nos abençoe nestas horas de comunhão espiritual, como sempre, derramando sobre nós a luz do entendimento, a fim de que a estrada se faça sempre mais clara à nossa visão.

Você hoje está aparentemente mais sozinho no santuário doméstico e as vozes do grande silêncio ecoam, com mais força, nas abóbadas da mente e nas raízes do coração.

Não venho dizer dos que me felicitam o espírito, apesar da gratidão que me vem do carinho de vocês todos, transformada em celeste perfume para o grande caminho da redenção. Estou sempre reconhecido a vocês e o meu júbilo não pode, sem dúvida, alterar-se mais que nos outros dias em que os vejo marchar comigo pelas subidas ásperas da fé.

Venho transferir as alegrias dessas horas ao seu espírito e ao coração de nossa querida Maria, ante as realizações do Roberto. Em verdade, eu também me sinto contente e comovido. Chegamos ao término de um grande compromisso. As lutas e fadigas de muitos anos se converterão em tranquilidade e experiências novas… Do filho querido fizeram vocês um filho prestimoso da humanidade. Um título de serviço é o ingresso do trabalhador na comunidade maior. Do que era sementeira imprecisa vocês fizeram uma floração promissora e do que era flor frágil retiram vocês agora o fruto maduro, que oferecemos, orgulhosamente, a Deus, ao mundo e a ele próprio — o neto que me é tão caro, em cujo espírito ressoam os ensinos de muitos anos. Sejam felizes e guardem o tesouro desta bendita hora de perfeita harmonia. Partilho com vocês a satisfação do dever bem cumprido.

Quando voltei, impus a mim mesmo a obrigação de seguir nosso Roberto, passo a passo. Vezes inúmeras, viajei junto dele, à distância de vocês, para que não lhe faltasse ao celeiro do espírito o material necessário à grande compreensão. Em muitas oportunidades, acalentei-lhe o sono e as esperanças juvenis para que a serenidade lhe visitasse as atitudes nas horas nevrálgicas da luta. E vocês, que fizeram antes do meu esforço tão pálido? Vocês colocaram-no dentro do próprio coração! Suportaram-no nos braços e guardaram-lhe o coração como um tesouro do Céu entre nós!…

Tudo isso, meu filho, deve ser lembrado para sabermos dar semelhante riqueza ao patrimônio comum. Dar é sempre melhor que receber. A distribuição do bem vale muito mais que a retenção dele. Estamos, assim, todos alegres e tão felizes como é possível regozijar-se o Espírito ainda ligado às lutas da Terra! É natural que a saudade permaneça dentro de nós, saudade dos próprios cuidados que a sua meninice e juventude primeira nos impuseram… Mas o soldado de Jesus no progresso está adestrado por habilitações que nos honram. Desejemos a ele a merecida vitória e acompanhemo-lo com os nossos pensamentos de paz.

Entendo o seu estado d’alma nestes dias. É um longo trabalho paciente e difícil que termina. Vocês levantaram o mapa do futuro e traçaram novas diretrizes. Tudo quanto prometeram foi cumprido. Roberto — espiritual — exigia braços e bênçãos, e vocês dois criaram os recursos necessários à grande realização. Que melhor recompensa para nós, além dessa, de vê-lo enobrecido em busca da posição que lhe compete na vida?

No porvir próximo e remoto estará, doravante, mais junto a nós, embora pareça mais separado. O Roberto-homem, naturalmente possui os seus impositivos de roteiro e as suas lutas que fluem do pretérito a se projetarem na tela das realidades presentes, mas o Roberto-Espírito viajará conosco no mesmo carro de amor e de carinho, lutando por erguer, cada vez mais alto, os princípios que lhe assinalam a consciência reta. Nos dias fáceis e alegres, voltar-se-á para nós com imanifesta ternura e nas horas difíceis lembrará as nossas palavras velhas e sempre novas.

Os sucessos desta semana são a verdadeira vitória da alma — vitória íntima, com acréscimo de paz e de contentamento diante da vida. Que a joia entregue por vocês com tanto devotamento ao tesouro da comunidade brilhe sempre com as irradiações e com o fulgor que vocês dois lhe imprimiram.

É por isso, meu caro Rômulo, que antes de tudo meu abraço se dirige mais fortemente a vocês ambos, pelo valor com que se revelaram na causa de reerguimento dos nossos próprios destinos. O companheiro de muitos séculos é hoje um aliado efetivo para o presente e para o futuro. Sejam jorradas sobre ele as bênçãos e as inspirações do Céu. Até agora éramos nós quem nos manifestávamos — agora esperamos que o neto querido se manifeste.

A vida é um rio de luz na direção da imortalidade gloriosa. A luta é a romagem de nosso barco no dorso de suas águas. De qualquer modo, viajemos tranquilos. Quem maneja os remos da vontade esclarecida sabe o que deseja e não para. Serviços se sucedem e as missões da alma se fazem seguidas de outras tarefas sempre mais vastas.

Sejam vocês dois os intérpretes de minha satisfação no Rio. Estarei ao lado de todos, recebendo o meu quinhão de felicidade e encantamento. Muito temos recebido do Senhor e mais tem o Senhor para dar-nos. O bom lavrador decifra o mistério do campo penetrando-lhe a grandeza sublime e aprendendo que essa grandeza jamais alcança o fim. Tenhamos o nosso coração voltado para o bem e o bem nos conferirá milagres de triunfo no serviço de cada dia.

Como sabe você há sempre um mundo de ideias novas em cada oportunidade que nos surge ao entendimento, mas desejo no meu aniversário de hoje — 14 de dezembro, quase iniciante — concentrar as minhas alegrias em nosso “veterinário”. Que ele receba as melhores vibrações dos nossos sentimentos. Maria e Wanda lá estão na vanguarda, conduzindo até ele o nosso abraço e nós oramos no centro, na retaguarda da vida irradiante que é o lar, rogando ao Senhor o faça abençoado e vitorioso missionário do grande progresso, até que amanhã possamos igualmente seguir ao seu encontro.

Aqui interrompo assim a minha aventura escrita ou falada para continuar ao seu lado na melhor comunhão de espírito a espírito, no cultivo de nossa felicidade eterna.

Reunindo, pois, você e Maria em meus braços paternos e amigos, nestas horas de harmonia e de luz, deixa-lhes carinhoso abraço o papai e companheiro de sempre nas lutas redentoras de cada dia na Terra,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier

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