Colheita do Bem

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Capítulo LXXII

À nossa querida Maria


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10/01/1951


Meus caros filhos, Deus abençoe a vocês, concedendo-lhes muita saúde e paz, ao lado dos nossos bons amigos General Aurélio e irmã Júlia.

Prazerosamente, desejo trazer o abraço carinhoso de felicitações pelo aniversário. Não é mais uma primavera colhida, segundo a crença popular, e sim mais uma primavera incorporada ao seu jardim interior, onde as flores nunca morrem. Seja a data de seu natalício, minha querida filha, repetida indefinidamente no curso do tempo, trazendo-nos sempre a doce e vigorosa alegria de nos sentirmos reconfortados com a luz de sua presença junto de nossos corações.

Tenho ouvido seus pensamentos, suas reflexões. Sua “conversação sem palavras” toca-me o espírito. Eu acredito que poucas esposas e poucas mães terão tido, quanto você, a glória de uma felicidade tão grande, porque a sua paz está vinculada ao dever bem cumprido e ao ideal superior com que você alimenta as suas decisões. Eu me honro de anotar, sem lisonja, nesta carta, que em todos os anos atuais e tempos de nossa convivência nunca vi seu coração inclinar-se para a injustiça. Alma temperada em experiências e lutas que muitas vezes lhe custaram sacrifícios extremos, observo a serenidade que você coloca nas mais íntimas resoluções. Não me refiro aqui à orientadora do lar e ao coração que sempre se confia aos que o Céu lhe confiou ao amor no altar doméstico, refiro-me à sua personalidade imperecível, às mais íntimas associações de suas ideias e sentimentos para expressar-me pela maneira que hoje o faço, buscando destacar não só o carinho, mas também o respeito e a admiração que você sempre me inspirou. Jesus conceda à sua alma sensível a fortaleza precisa diante das tempestades humanas. Quando traçamos uma diretriz segura a seguir, quando desejamos uma posição de equilíbrio no desempenho das obrigações que a vida nos confia, e quando sabemos o que desejamos nos objetivos finais do bem, nem sempre somos compreendidos. Cada criatura que se não afina pelos nossos princípios como que nos reclama para a esfera em que se movimenta e em nos observando a marcha sem oscilações nos move gratuita guerra que o tempo, contudo, se encarrega de desfazer. Não se impressione ante as rajadas perturbadoras que em muitas ocasiões nos visitam de perto. Sabe Jesus quanto custou ao seu coração amoroso preservar o campo de paz e alegria que todos desfrutamos, em torno de suas realizações. A esposa é o coração do lar e o espírito materno é a luz da vida. Quando esse coração vacila, o homem treme e desfalece ante o imperativo de luta incessante no mundo, e quando essa luz empalidece, as criaturas erram sem rumo para se precipitar nos despenhadeiros da ignorância ou da insensatez. Tenho a presunção de conhecer a essência de sua abnegação e de seus sacrifícios.

Não importa que outros passem indiferentes ante uma lâmpada acesa. A cegueira não é moléstia de eliminação muito acessível. Continue seu ministério, centralizando seus sentimentos no grande futuro. Ouço-lhe as indagações últimas com respeito ao Roberto e com respeito à Wanda… Não se preocupe em excesso. Que não estará bem, onde somente cogitamos do bem? Cada filho tem o seu caminho, a sua luta e a sua experiência. Um casal, às vezes, me parece como sendo uma árvore abençoada. O esposo é o tronco e a esposa é a copa florida ou frutescente. Os filhos são pássaros que se aninham. Por muito tempo descansam nos ramos viridentes e frondejantes, mas um dia experimentam voar e começam a enriquecer os grandes patrimônios da vida. Mas quem retiraria a força divina do tronco e da copa que se ajustam pelo milagre da seiva? E quem poderia subtrair essa seiva que é o amor imortal, sublime alimento das almas? Vinculada ao amor celeste, essa árvore mística desafia todas as invernias, todas as tempestades, todos os ventos! Reconstitui-se, refloresce e frutifica, invariável, no espaço e no tempo, espalhando obras de luz e santificação no rumo da vida inteira. Tranquilize os pensamentos e vivamos felizes cada vez mais. Temos à nossa disposição um celeiro de bênçãos na fé viva a ligar-nos com os poderes mais altos e em comunicação com a vida abundante que o Mestre nos legou avançaremos vitoriosos para diante.

Trago-lhe, pois, o meu abraço muito carinhoso e muito alegre. No canteiro de seus ideais, prossiga cultivando como sempre as flores da alegria, do otimismo, da concórdia e do bem. A vanguarda é infinita. E os dias belos não se apagam para quem colocou no centro da própria visão a imagem da imortalidade, com o trabalho permanente do bem. Creia que estaremos ao seu lado nas horas difíceis ou alegres para decifrarmos juntos os problemas da luta santificante. Jesus conserve a sua alma, que nos é tão querida, no castelo íntimo dos seus princípios pessoais de justiça, equilíbrio, serviço, ordem, beleza e luz a serviço do coração que palpita pela felicidade de nós todos. São os meus votos ardentes e incessantemente repetidos, esperando que as bênçãos do Alto floresçam ao redor de seu caminho em todos os momentos de suas abençoadas experiências na dedicação com que você assinala a sublime tarefa ao nosso lado.

Minhas visitas afetuosas a todos, com os meus rogos ao divino Médico para que vejamos o nosso amigo General Aurélio fortalecido e refeito em breve tempo. Hoje, não desejo dilatar-me em muitos assuntos. A carta desta noite é do meu paterno coração e não me permito incluir outros temas.

Boa noite para todos. Que a paz do Senhor nos felicite, são os votos do papai e amigo de sempre que lhes deixa carinhoso abraço,




A. .Joviano
Francisco Cândido Xavier

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