Contos Desta e Doutra Vida

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Capítulo VII

Servir mais


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Efraim ben Assef, caudilho de Israel contra o poderio romano, viera a Jerusalém para levantar as forças da resistência, e, informado de que Jesus, o profeta, fora recebido festivamente na cidade, resolveu procurá-lo, na casa de Obede, o guardador de cabras, a fim de ouvi-lo.

— Mestre — falou o guerreiro —, não te procuro como quem desconhece a justiça de Deus, que corrige os erros do mundo, todos os dias… Tenho necessidade de instrução para a minha conduta pessoal no auxílio do povo. Como agir, quando o orgulho dos outros se agiganta e nos entrava o caminho?… quando a vaidade ostenta o poder e multiplica as lágrimas de quem chora?

— É preciso ser mais humilde e servir mais — respondeu o Senhor, fixando nele o olhar translúcido.

— Mas… e quando a maldade se ergue, espreitando-nos a porta? que fazer, quando os ímpios nos caluniam à feição de verdugos?

E Jesus:

— É preciso mais amor e servir mais.

— Senhor, e a palavra feroz? que medidas tomar para coibi-la? como proceder, quando a boca do ofensor cospe fogo de violência, qual nuvem de tempestade, arremessando raios de morte?

— É preciso mais brandura e servir mais.

— E diante dos golpes? há criaturas que se esmeram na crueldade, ferindo-nos até o sangue… De que modo conduzir nosso passo, à frente dos que nos perseguem sem motivo e odeiam sem razão?

— É preciso mais paciência e servir mais.

— E a pilhagem, Senhor? que diretrizes buscar, perante aqueles que furtam, desapiedados e poderosos, assegurando a própria impunidade à custa do ouro que ajuntam sobre o pranto dos semelhantes?

— É preciso mais renúncia e servir mais.

— E os assassinos? que comportamento adotar, junto daqueles que incendeiam campos e lares, exterminando mulheres e crianças?

— É preciso mais perdão e servir mais.

Exasperado, por não encontrar alicerces ao revide político que aspirava a empreender em mais larga escala, indagou Efraim:

— Mestre, que pretendes dizer por “servir mais”?

Jesus afagou uma das crianças que o procuravam e replicou, sem afetação:

— Convencidos de que a justiça de Deus está regendo a vida, a nossa obrigação, no mundo íntimo, é viver retamente na prática do bem, com a certeza de que a Lei cuidará de todos. Não temos, desse modo, outro caminho mais alto senão servir ao bem dos semelhantes, sempre mais…

O chefe israelita, manifestando imenso desprezo, abandonou a pequena sala, sem despedir-se.

Decorridos dois dias, quando os esbirros do Sinédrio chegaram, em companhia de Judas, para deter o Messias, Efraim ben Assef estava à frente. E, sorrindo, ao algemar-lhe o pulso, qual se prendesse temível salteador, perguntou, sarcástico:

— Não reages, galileu?

Mas o Cristo pousou nele, de novo, o olhar tranquilo e disse apenas:

— É preciso compreender e servir mais.

(.Humberto de Campos)


Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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