Conversa Firme

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Capítulo XX

Vivos e mortos

Você meu caro Antonino,

Pergunta com seus cuidados

Por que se faz tão difícil

Ouvir os mortos amados.


E acentua: — “Sempre tive

Muitos amigos no Além

Entretanto, peço, peço…

Chamo e não vejo ninguém.


“Que dizer Cornélio amigo,

Desta busca inacabada?

Faço preces, grito nomes,

Depois… é silêncio e nada…”


Entendo prezado amigo,

Toda a sua inquietação,

Mas ouça: somos quais somos

E as cousas são como são!…


Tudo espera tempo próprio

Onde o melhor se processa…

A verdade surge aos poucos

Sem ocupar-se da pressa.


Atendendo à luta humana,

Que dá tanto que pensar

O homem, ao pé da morte,

Raciocina devagar.


Por outro lado, as ideias,

Que a Terra criou no caso,

Nas portas do grande assunto

Despejou montões de atraso.


No mundo, lembra-se a morte,

E temos pessoas pasmas,

Falando em luto, agonia,

Cinzas, pedras e fantasmas!…


Isso cria tanto entrave,

Tanta sombra e tanta trica,

Que os vivos do Além não acham

A ligação com quem fica.


Basta que um morto qualquer

Dê sinal ou reapareça

E alongam-se fantasias

Tisnando muita cabeça.


Recorde: Joana, a viúva

Do Marciano Toledo

Chamava o esposo e ele vindo

A moça tombou de medo.


Tonho quis ver o irmão morto

E ao tê-lo junto de si,

Gritou e caiu de susto

Na estrada de Mandaqui.


Desejou ver o pai morto

O nosso amigo Aristeu,

Um dia, o rapaz, ao vê-lo,

Desmaiou e adoeceu.


Após a morte do tio

Totó buscava encontrá-lo,

Notando o tio na roca

Totó caiu do cavalo.


Marina chamava o esposo,

O falecido Teotônio,

Vendo o marido, a mulher

Dizia que era o demônio.


Júlia pedia ao marido

Auxílio num grande apuro,

O finado apareceu

Ela rezou no esconjuro.


Sabino encontrou em prece

Um irmão já desencarnado,

Gritou, chorou… Depois disse

Que estivera alucinado.


Perdeu Silvino a mulher…

Quis vê-la, a Dona Ceição,

Tendo a esposa junto dele

Clamou que era assombração.


Zelão contou haver visto

A noiva desencarnada…

Chorou, mas disse, em seguida,

Que era tudo patacoada.


Chamava o esposo, a Cecília,

Mulher do Janjão Salerno,

Vendo o finado, a viúva

Mandou Janjão para o inferno.


Doca chamava o pai morto

Em frases de imenso amor…

Quando o pai voltou a ela,

Falou que era obsessor.


Ante os problemas da morte

São muitos tropeços juntos,

E a verdade pede ao tempo

Que lhe prepare os assuntos…


Não se agaste, caro irmão,

O mundo é um contraste em si:

Os vivos buscando os mortos

E os mortos andando aí!…




Cornélio Pires
Francisco Cândido Xavier

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