Coração e Vida

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Capítulo XXIV

Tempo e vida


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Depois da morte é que vemos,

Quando a luz se nos revela,

Quanta sombra e bagatela

Guardamos no coração.

Quantos lamentos inúteis

Complicavam-nos a vida,

Quanta palavra perdida,

Quanto tempo gasto em vão!…


Quantas horas desprezadas,

De espírito desatento

Nos enganos de um momento

Que o próprio tempo desfaz!

Quanta contenda improfícua,

Quanto disfarce no rosto

Que se transforma em desgosto

Furtando a esperança e a paz.


Alma querida, não creias

Seja a morte o fim de tudo,

O tempo — esse sábio mudo —

Concede-nos voz e vez,

Acompanha-nos o passo,

Age, segundo a segundo,

E nos conhece no mundo

Tudo aquilo que se fez.


Ama, esclarece, abençoa,

Sofre e luta, mas não temas,

Ninguém vive sem problemas,

Onde estiver e onde for;

Vida é lavoura perfeita,

Morte é o braço que a preserva,

Que só replanta ou conserva

O que se faz por amor.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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