Coração e Vida

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Capítulo XXVI

Súplica de todos


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Companheiros enganados

São tantos que, às vezes, penso

Que ninguém conseguiria

Enumerá-los num censo

A nomes de cada um…


Enquanto estive na Terra,

Via este quadro comum:

Nas sendas por onde vão,

Nunca soube o que pediam

Por dentro do coração.


Passavam como eu passava,

Uns de carro, outros a pé,

Muitos deles se arrastavam

Clamando falta de fé.


Quantos nobres cavalheiros

Seguiam de fronte erguida,

Intentando dominar

As fontes da própria vida!…

Outros muitos caminhavam,

Face triste e passo lento,

Revelando sem palavras

Amargura e sofrimento.


De muitos, eu me afastava,

Ao vê-los em grandes crises,

Agressivos, revoltados,

Coléricos e infelizes…


Quantas mulheres passavam

Arquitetando aventura!…

Guardava comigo a ideia

De vê-las arrebatadas

Aos turbilhões da loucura.

De muitas somente ouvia

Os mais arrojados planos

Para a conquista de laços

Que acabam em desenganos.

Outras seguiam adiante,

Indiferentes à vida,

Tristes irmãs desprezadas,

De alma doente e sofrida.


Via passar homens fortes

Sob estranho cativeiro,

Queriam ouro e mais ouro,

Atolados em dinheiro.


Fitava moças e moços

Parecendo, mais ou menos,

Alucinados da Terra,

Usando estranhos venenos;

Quantos deles se mostravam

Irresponsáveis? Não sei.

Sabia apenas notá-los

Por irmãos fora da lei.


Em minha severidade,

Culpava filhos e pais,

Minhas censuras a esmo

Subiam cada vez mais.


No entanto, a morte surgiu,

Transformou-me, de repente,

Foi então que vi, de perto,

As lutas de tanta gente…


Esses passantes do mundo

Que encontrara, face à face,

Nunca haviam merecido

Palavra que os condenasse.

Morando agora, no Além,

Conheço, em alta razão:

Ninguém caminha na Terra

Buscando reprovação.

Sei hoje a grande verdade

Que sinto e não sei expor:

Todos nós, dentro da vida,

Pedimos somente amor.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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