Coração e Vida

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Capítulo XXXIII

Canção do Tempo


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Ao Homem que caíra em franco desalento

O Tempo apareceu, qual companheiro atento,

E falou-lhe, depois, com carinho invulgar:

— Amigo, não te dês à tristeza vazia,

O Céu nos recomenda em cada novo dia:

— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…


Isso é de lei na própria Natureza,

Quando a tormenta cai sobre a erva indefesa,

Qual gigante rugindo a pleno ar,

A vida a renascer do vale à serra,

Determina, em silêncio, ao coração da Terra:

— Servir e prosseguir, confiar, confiar…


O rio ataca os muros da represa,

Esbraveja, ante as forças de defesa,

Buscando a fuga por qualquer lugar;

Vence, depois, sem freio que o detenha

E a água proclama quando se despenha:

— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…


Para a semente vale por insulto

O gesto que a retém num canto oculto,

Qual se fora um veneno a desprezar;

Mas, atenta à recôndita energia,

Germina procurando o sol que canta de alegria:

— Servir e prosseguir, confiar, confiar…


Quem aceitou do Céu, como um favor divino,

Burilar-se a sofrer e guardar por destino

O dom de se esquecer e auxiliar,

Por mais lute nas trilhas em que avança,

Ouve em si a palavra da esperança:

— Servir e prosseguir, trabalhar, trabalhar…


O Homem que se pusera, enternecido, à escuta.

Sentiu-se aliviado, ante os riscos da luta,

E o Tempo rematou, pedindo-lhe pensar:

— Mágoas e provações? Trabalha por vencê-las,

E feliz ouvirás a canção das estrelas:

— Servir e prosseguir, confiar, confiar…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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