Correio Fraterno

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Capítulo XLI

A mania do Rangel


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Aquilo já era mania.

Conquanto espírita esclarecido, Alcindo Rangel cultivava a brincadeira de mau gosto. Introduzia boatos na conversação séria ou articulava silvos agudos, amedrontando companheiros desprevenidos.

Vez por outra, depois da caçoada, a vítima era constrangida a medicação, a fim de se refazer. Nas reuniões mediúnicas, Bernardo, o amigo espiritual que o atendia, frequentemente não se cansava de aconselhar:

— Alcindo, meu irmão, alegria e pilhéria são assuntos opostos. Alegria é saúde espiritual, pilhéria é desequilíbrio vibratório. Gracejo inconveniente é dardo invisível. Evitemos manejá-lo. Piada infeliz pode determinar desastre e morte. Imagine você, dirigindo um carro, sob a tensão de notícia falsa ou levando um choque, de corpo desgastado pela doença…

Rangel ouvia as admoestações, respeitoso e calado, mas prosseguia no antigo vezo. Quando não fantasiava gemidos e clamores, ei-lo a fabricar escorpiões e cobras de borracha ou papel, pelo simples prazer de intimidar pessoas e fazer anedotas.

Certa feita, o diretor de oficinas veio chamá-lo no escritório para registrar a solicitação de um cliente. Dirigindo-se para o local de atendimento, reconheceu um amigo na presença do homem a quem observava pelas costas.

Amaciou o passo, aproximou-se, pé ante pé, e, renteando com ele, pespegou-lhe enorme grito aos ouvidos desavisados.

O homem tombou de susto e, com ele, caiu no piso um objeto que guardava entre as mãos, produzindo forte estampido.

Era um revólver que o amigo trazia a conserto. Na queda, a arma disparara a última bala que se lhe encravara no pente, alvejando Rangel no tórax e obrigando-o a receber socorro imediato da cirurgia, com semanas de aflição e meses de hospital.




Hilário Silva
Francisco Cândido Xavier


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