Dádivas de Amor

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Capítulo XVII

Desobsessão

O templo engalanava-se de luz.

Era uma festa em honra de Jesus.


As rosas pareciam joias solitárias,

Emoldurando extensas luminárias.

As flores do recinto eram doce fragrância

E os crentes demonstravam cimos de elegância.


No átrio, de onde se via o edifício repleto,

Eis um guarda a exclamar: “Sou um homem correto;

Pobres aqui não entram. Sou mandado.

Tenho as prerrogativas de um soldado.

Não quero ouvir pessoas descontentes,

A festa de Jesus não comporta indigentes.”


Certos grupos de damas mal vestidas

Carregavam crianças em feridas.

O chicote do guarda agitou-se no escuro

E ele disse: “Aqui hoje não pode haver monturo.”


Mas aparece, ali, família desolada

Que traz consigo jovem obsedada.

Ela profere frases sem respeito

E a mãezinha lhe diz com carinho e com jeito:

— “Cala-te, minha filha; esperemos a paz…”

O obsessor cruel exclama: “Para trás!

Sou das trevas e não suporto a luz,

Não queremos a fé, nem queremos Jesus…”

O guarda conduziu todo o grupo ao recanto,

Enquanto a mãe dizia, a desmandar-se em pranto:

“Quem nos trará, oh! Céus, a bênção do Senhor

Se não temos aqui acolhimento e amor?!…”


Das filas da pobreza, um moço desliza,

Vem à jovem que sofre e fala em voz amiga:

— “Posso tentar algum socorro agora?”

— “Tente, senhor!” — rogou a mãezinha que chora.

Quando o estranho, porém, se aproxima de todo,

O verdugo infeliz se atira ao chão de lodo

E brada: — “Sai daqui, Messias Nazareno,

A fim de injuriar-te eu não me desordeno.”


Calmo o moço lhe pediu: — “Oh! deixa a menina.

Acomodado à treva, o ódio te domina!…”

A entidade infeliz saiu, desesperada…

Logo o moço tocou a jovem desmaiada…

Ela acordou, beijando a mamãe com desvelo,

Qual se livrasse, ali, de horrível pesadelo.


Entre os pobres se ouviu enorme gritaria…

O salvador da moça quem seria?


O povo discutia tudo o que sucedeu..

No entanto, o herói da noite desapareceu…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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