Dádivas de Amor

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Capítulo X

Conversa no Campo Santo


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Sim, alma irmã,

Teremos sempre um Dia de Finados,

Dia de sonhos mortos,

Supostamente mortos, porque todos eles

Ressurgem renovados,

No clima de outros portos,

Onde a vida,

Revelada em beleza indefinida,

É perene manhã.


Agradeço-te as preces,

Recamadas de flores,

E as doces vibrações nas quais me aqueces

Com pensamentos reconfortadores.

Olha, porém, comigo, alma querida e boa,

Este campo de mármores lavrados,

Quantas vezes mais belos

Que a mais formosa porcelana!…

Aqui, em miniaturas de castelos,

Gemem segredos de ternura humana…


Ali, os rendilhados

Criam lauréis no brilho das legendas;

Além, anjos parados de mãos postas,

Em lacrimosas oferendas,

Mostram cruzes depostas,

Vinculadas ao chão…

Ainda além, primores de escultura,

Em lápides custosas,

São tesouros de amor e desventura,

Orvalhados de pranto e de aflição!…


Na triste majestade que se estampa,

Por traço de amargura, campa em campa,

Não vemos luxo e sim o sofrimento

De quem ficou a sós,

De coração entregue ao desalento…


Entretanto, alma boa,

Este reino de pedras lapidadas,

Quais lâminas de dor,

Quer largar-se da morte,

A fim de partilhar

A construção de um mundo superior…


Estas altas riquezas esquecidas

Ficariam mais nobres

Se pudessem levar sustentação

Às áreas de outras vidas,

As vidas que se vão apagando, ao relento,

Ante a febre, ante a noite e as injúrias do vento,

A sonharem amparo, teto e pão,

Livro, afeto, agasalho,

Proteção e trabalho,

Paz e renovação…


Nesses doces assuntos,

Oremos todos juntos…

E peçamos a Deus

Para que os mortos redivivos

Possam solicitar aos seus entes amados

A desejada alteração,

A fim de que o lugar dos supostos finados

Não precise brilhar entre fortunas mortas,

Pois todos nós, na vida, em sentido profundo,

Queremos mais conforto e alegria no mundo!…


Para que nos lembremos uns dos outros,

Bastam as nossas dores como são,

Uma pequena cruz, um nome e a relva verde e mansa,

Que nos falem de paz e de esperança

Na saudade sem fim do coração.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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