Dádivas Espirituais

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Capítulo I

Miguel Elias Barquete


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1ª MENSAGEM

Querida mãezinha Irene, reunindo-a com o papai em meu carinho, sinto-me abençoado no coração de ambos, pela ternura com que me lembram.

Vou seguindo melhor, caminhando ao encontro de um novo Miguel, porque a liberação do corpo físico, devidamente aceita, é meio caminho andado para a nossa renovação.

Estou em companhia da vovó Leopoldina e do Paulo, assistidos por outros amigos.

Agradeço tudo o que a sua dedicação aliada ao carinho do papai e do Maurício, fazem por mim. Desejo solicitar ao seu coração querido, não se preocupar se outros por agora não me aceitam as palavras.

A incredulidade de muitos companheiros dá para rir, se o assunto não fosse tão sério. Impossível que me perdesse na boa terra de Brodósqui e me transformasse num punhado de cinzas.

Estou eu mesmo muito mais do que nos dias de camaradagem e estudo em companhia das afeições queridas, que Deus nos permitiu colecionar. E farei forças para que, muito breve, a companhia de todos irmãos pelo coração se conscientize de que deixei a roupa estragada em ferragens e peças de um carro para envergar outra vestimenta, em novas condições.

Imagine como são ilógicos os amigos, que não puderam me aceitar; se pensassem que a Sabedoria da Vida concedeu à lagarta o poder de improvisar um novo corpo a fim de até mesmo voar sobre a relva que lhe servia de residência, entenderiam decerto, que estou vivo em outra forma.

Por isso, ainda que a nossa Bete não queira aceitar as minhas notícias, espero que a nossa querida baixinha, pelo menos, conserve o benefício da dúvida correta. Muitas lembranças para aquelas amizades todas, que prezamos tanto.

Ani, Noêmia, Dulce, Glauce e Iara, estão sempre em minha memória e pelos cuidados da Ana Lúcia e da Lilian Denize, enviando-lhes flores no dia das mães. Estou muito agradecido, mãezinha Irene, muito obrigado por tudo.

As mães podem desapreciar a morte e guardarem da morte muitas queixas, mas nunca acreditam que ela tenha poder sobre a vida; e digo assim, porque as mães sabem que os filhos lhes alcançaram os corações, através de caminhos invisíveis de Deus e por isso não se resignam com a ilusão de um adeus impossível.

Agradeço ao querido irmão por todas as lembranças queridas, inclusive ao meu pai. Deus recompense a todos, pelas alegrias que me proporcionaram. Agora, é preciso que a parte final me venha do pensamento para as mãos; entretanto, onde a coragem de falar em “até depois”.

Apesar disso, é necessário que permaneça ao seu lado de outro modo e, por isso, beijando-lhe os cabelos, quero dizer ao seu carinho que continuo sendo a sua criança, o seu menino, sempre necessitado de suas atenções, sempre o filho cada vez mais reconhecido,


Miguel.

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em Uberaba, Minas, no dia 14/8/1981.)


Esclarecimentos


Miguel Elias Barquete

Nasceu em São Paulo, Capital, a 03/10/1962. Desencarnado de acidente de trânsito, em São Paulo, no dia 21/06/1980, quando cursava o 3º Colegial do “São Paulo da Cruz” e o Colégio Objetivo. Foi sepultado em Brodósqui, SP, pelas conversas mantidas com o pai em vida.

Sua mensagem de 30/01/1981 foi publicada no livro , de Francisco C. Xavier e Autores Diversos, Ed. GEEM, S. Bernardo do Campo, SP.

Pais: José Barqueti, Irene 1racema Barquete, Parque Domingos Luiz, 625, CEP. 02043-080 — São Paulo, SP.

Vovó Leopoldina — Maria Leopoldina, bisavó materna, desencarnada em São João da Boa Vista, em 1935.

Paulo —Paulo Francisco Ambrósio, colega de Miguel, desencarnado no mesmo acidente.

Maurício — Irmão de Miguel.

Bete — Ex-namorada e vizinha.

Ani, Glauce e Iara — colegas e vizinhas.

Dulce — Amiga da família e do Miguel desde a sua tenra idade.

Noêmia — Tia materna residente em São João da Boa Vista, SP.

Ana Lúcia e Lílian Denize — Estas irmãs, grandes amigas de Miguel, residentes em São Paulo, deram grande apoio à Dª Irene.


2ª MENSAGEM

Querida mamãe Irene, peço-lhe que me abençoe. Difícil descrever as mudanças que vou experimentando.

A princípio, incompreensão e lágrimas; no entanto, agora que os vejo a todos firmes na fé em Deus, na 5ida Espiritual a minha vida como que se renova.

Do acidente resta apenas aquela visão, que o tempo desfará um dia. O Paulo Francisco também pensa comigo nas mesmas bases.

As transformações são muitas e estamos vivos e cativos a novos deveres.

Mãezinha Irene, peço-lhe dizer tudo isso ao papai a fim de que ele se robusteça nas próprias energias e peço a você recondicionar a própria saúde física. Não se permita adoecer, pois isso nos assustaria, de vez que precisamos tê-la sempre forte, inspirando-nos no caminho a seguir. Creio que algum reconstituinte à sua escolha lhe fará bem, porquanto entendo que a intensidade do seu trabalho lhe exige muitas perdas de forças.

Hoje desejo ampliar minha lista de agradecimentos. Não posso esquecer quanto devo à bondade e à dedicação dos nossos amigos William e dona Ruth, com a Ré sempre amiga. Afinal mãezinha Irene, a amizade é a irmã do amor e ambos não morrem. Muito me dói observar o nosso Chico a parlamentar com o Carlinhos e com o Maurício como se o fato pudesse ser afastado de nós.

Diga, mamãe, para o Chico, que não existem motoristas privilegiados e ninguém está livre da indesejada, que não é aceita, mas vem mesmo assim, para cada pessoa.

Se aquela hora de estalo era encomendada pelos poderes que nos governam, para mim e para o Paulo Francisco, não havia como retirar o decreto de nós. Agora, felizmente, tudo vai passando e desejo ao Maurício com todos os nossos amigos muita felicidade e progresso; graças a Deus vejo e compreendo tudo, acalmando-me ao acalmar os outros e fico realmente reconfortado.

Querida mãezinha Irene, peço-lhe dizer à nossa Bete, a minha querida baixinha, para que nada receie de nós. Ela afirma que não crê possamos estar vivos em alguma parte, mas isso é só na conversa. No íntimo, ela sabe que escrevo com a realidade no alicerce das palavras; ela pode estar ciente de que desejo a ela um futuro feliz.

A Bete tudo faz por merecer essa Bênção de Deus; menina direita e nobre, espero que ela encontre o braço amigo e forte que a entenda e a ilumine de alegrias perenes.

E agradeço também à Ana Lúcia e à Lílian Denize pelo carinho habitual para conosco. Sei que se estivesse aí faria o mesmo, isto é, não quereria fixar o pensamento em amigos supostamente mortos e, por isso, não estranho as afeições que vão nos esquecendo, porque a verdade é que nós, os mortos, imaginamos continuarmos lembrando e virá o dia do reencontro do pessoal do grupo todo…

Por agora, é assim mesmo; os companheiros da patota vão se largando daí, um a um ou, às vezes, dois a dois, como sucedeu comigo e o nosso Paulo Francisco. Indo a São João da Boa Vista, peço no seu caminho abraçar por mim a tia Noêmia.

Querida mamãe Irene, vou terminar porque já estamos naquelas horas prolongadas da matina. Com um abraço ao papai e ao Maurício, e lembranças a todos, rogo ao seu carinho permanecer com a esperança e com alegria temperada com muitas saudades do seu filho, sempre mais seu,


Miguel.

(Uberaba, 13/11/1981.)


Esclarecimentos


William — Seu companheiro inseparável durante quase toda a sua existência.

Dona Ruth — Mãe do William.

— Irmã do William. É o apelido de Regina, como o Miguel gostava de chamá-la.

Chico — Amigo, foi o motorista do Fiat sinistrado.

Carlinhos — Amigo do Miguel e primo do Chico, foi uma das vítimas que se salvou do desastre.


3ª MENSAGEM

(…) Ainda assim, esforço-me a relatar-lhe o que me ocorre, porque você sabe que eu não conseguiria esquecer os meus cupinchas com facilidade.

Surgem dias em que procuro a Denize para a conjunção de recordações, no entanto, a vejo tão longe de mim que não me atreveria na demora importuna. Busco a Cíntia para tatear-lhe a cabeça e observar se ainda consegue me lembrar, entretanto, se tento um contato espiritual mais profundo, e!a até que se põe a correr, receosa de minha aproximação. O nosso amigo David, há dias estava pensativo num bar e abeirei-me dele, na tentativa de me fazer lembrado por ele… Sentei-me numa cadeira vazia ao lado do amigo e quando o primo notou que estava quase a me ver, um tanto desorientado pediu ao garçom um bauru gigante com um guaraná que lhe esquentasse as ideias, de modo a sonegar-me atenção.

A tia Noêmia, em São João, me apresentou um quadro um tanto chato. Ela fazia daqueles pastéis de que só ela sabe o segredo e quando pedi me desse um, atrapalhou-se com a gordura quente e chegou a marcar um dedo com bolhas espetaculares.

Fiquei com vergonha de ser um fantasma incômodo e retirei-me. Fui para a nossa casa. Achei você rezando e quando a abracei pude reconhecer que o seu carinho era o mesmo de sempre. Agora, é uma nova experiência. Peço-lhe dizer ao Maurício que tentarei colaborar com ele e com o Taio, com a Maria Tereza e a Vânia, mas o meu negócio, presentemente, será de leve. Não sei porque tanta gente lembra os mortos. Imaginamos com medo, quando lá, num belo dia, todas as pessoas cairão do jirau. Enfim é a vida e vida depois da morte, que a maioria das pessoas na Terra acredita se constitua de ilusão e moleza. Mas não há de ser nada. Estamos aí e venceremos com o nosso amor qualquer dificuldade que apareça.

Querida mãezinha Irene, guarde o seu bom humor e diga ao papai que não o esquecemos. Sei que a vida por aí, segundo ouço de muita gente, está difícil, mas, com Deus, venceremos. (…)


Miguel.

(Uberaba, 16/10/1982.)


Esclarecimentos


David — Primo, residente em Goiânia, GO.

Maria Tereza, Vânia e Taio — Amigos da mãe de Miguel.


4ª MENSAGEM

Querida mãezinha Irene, sei que o papai José não veio ao nosso encontro por se observar menos disposto e que o nosso Maurício prossegue sem dificuldades para a frente. Estamos aqui, nós dois com os nossos amigos e quero dizer ao seu carinho para acalmar-se, porque a paz por dentro de nós é saúde correta.

Tantos são os casos difíceis a bloquear-lhe a alegria de trabalhar e de viver, que a vejo doente, reclamando as atenções de um médico amigo que nos auxilie a colocá-la em harmonia consigo mesma.

Trate-se mamãe Irene, e não faça bagagem da sucata dos problemas e aborrecimentos que a existência na Terra porventura lhe imponha.

Não passe recibo às ninharias envenenadas que de quando a quando lhe atirem, porque isso acontece com toda a gente.

Onde estiver a cesta de lixo repleta de material inútil para qualquer de nós, passe de longe.

Hoje venho ao seu encontro especialmente para isso: comentar a sua necessidade de paz a fim de que a vejamos forte de novo.

O tio Miled e a vovó Maria Leopoldina vieram em minha companhia e ambos assinam o que digo. Não desejo hoje deter-me em lembranças das brincadeiras que fiz ao primo David, dos assuntos do Maurício, porque anseio restituir-lhe a segurança íntima.

Peço-lhe não se opor aos desejos de meu pai e do Maurício no sentido de montarem guarda às minhas roupas e pertences de rapaz que está marcado pela escritura de um óbito em Brodósqui.

Não sei para quê o pai e o mano querem aquelas bugigangas a título de me demonstrarem amor à memória. As traças e as baratas não conhecem as boas maneiras e acabarão, pouco a pouco, destruindo aquelas supostas preciosidades que, talvez, servissem a algum companheiro em dificuldade para se vestir convenientemente na retaguarda.

Mas deixemos este caso novo para lá e o seu coração não se impressione. Deixe ao papai e ao irmão o direito de agirem como quiserem.

Deus vestirá todos os que estejam mal vestidos e o tempo dirá que, felizmente, uma discussão por essa bagatela não valeria a pena.

Retome a sua alegria e aguardemos dias melhores. O tio Miled informa que vem auxiliando a esposa Maria e os filhos Wagner e Amélia, e nós todos estamos contentes ao saber que o seu carinho não fará conta do que vai acontecendo, mesmo porque nós dois não estamos certos se o papai e o Maurício estão dispostos à formação de algum museu. Que isso ocorra por eles e não por nós.

Mãezinha querida, muito grato por todo o seu auxílio para que eu me renove na base da confiança em Deus e em mim próprio. As suas orações e lembranças significam muito auxílio a meu favor e peço a Deus a recompense.

Muitas lembranças ao papai José e ao Maurício, apesar de estar pensando em desacordo com eles, e receba todo o carinho e todo o reconhecimento do seu filho e companheiro de sempre


Miguel Elias Barquete.

(Uberaba, 15/4/1983.)


Esclarecimentos


Maria — Maria Luíza, tia, residente em São Paulo.

Wagner — Primo, residente em São Paulo.

Amélia — Prima, residente em São Paulo.

Miled — Tio, desencarnado em 24-08-1980.

Maria Leopoldina — Bisavó, desencarnada em S. João da Boa Vista, SP, em 1935.


Os Editores


Miguel. n
Francisco Cândido Xavier

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