Dádivas Espirituais

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Capítulo XV

Fábio Freire Corrêa


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Querida mãezinha Edir e querido papai Lédio, com a nossa Valéria, peço a Deus nos abençoe e nos proteja.

Ainda estou um tanto baratinado com o acontecimento. Atacar a trazeira de um ônibus nunca foi propósito que eu alimentasse.

Naquele dia de novembro passado, se não me engano um domingo, saí de casa, a fim de procurar por certa jovem que me convidara para uma festa de embalo e eu aceitei.

Tinha a cabeça transformada num arsenal de livros, naquele fim de ano, com muita responsabilidade nas provas a que certamente seria submetido. A estafa reclamava descontração. Não podia dizer de meu estado ao papai Lédio, porquanto, de modo geral, eu já lhe exigia muito além de meu diminuto merecimento.

Aliás, se essa ponta de crédito me pertencia era tomada de empréstimo aos méritos dele mesmo, meu pai, que tudo fazia para que nada me faltasse naquele laborioso quarto ano de Medicina. Cérebro estourando de cansaço, fui para o Rio, à procura do endereço da jovem com quem tomara conhecimento, dias antes. Procurei, por várias horas, encontrar o endereço referido, e, por fim, crendo que fora ludibriado por alguma flor de asfalto, mais sabida do que eu mesmo, coloquei-me na direção da volta à nossa casa.

Não seria lícito perder tempo. Um cinema ou qualquer outra distração, sem a companhia que eu desejava, não me ganhava a atenção. Desapontado, corria sem pensar em velocidade, quando esbarrei na trazeira da máquina pesada que me arrasou com a pancada das engrenagens. Foi quando vi que estava entrando numa espécie de exaustão inarredável. Da exaustão ao torpor completo, não gastei mais do que alguns momentos, até que não mais pude movimentar um dedo sequer.

Pelo que já sabia, o fluxo hemorrágico no campo visceral se fazia intenso e não tive qualquer dúvida. Não guardava pensamentos de culpa sobre ninguém, se houve erro, esse erro era meu mesmo, nascido da fadiga mental em que me achava. Quis fazer uma oração, lembrando os tempos de menino nos braços de mamãe Edir, no entanto, não tive recursos para articular ideias nesse sentido. O que faziam de mim, não se me fazia possível saber.

Não sei explicar ainda por que me sentia dois ao mesmo tempo. Eu continuava pensando nas dificuldades mas agarrado a outro “eu” que jazia inanimado à minha frente. Minha situação se complicava cada vez mais, quando alguém me apareceu. Era a vovó Maria Aurélia, que me tomou nos braços, separando-me do corpo que passara à cor de cera, tanta era a quantidade de forças que perdera. Então, recolhido ao colo da vovó Maria Aurélia, que reconheci sem dificuldade, sobretudo rememorando os nossos retratos de família, rendi-me ao cansaço e dormi.

Foi um sono de pedra, tão grande foi o desligamento de tudo o que me poderia tomar a atenção. Estive assim, por muitos dias, e despertei, estremunhado, sem possibilidades para sustentar o mínimo diálogo. Minha avó veio comigo e leu para mim diversos trechos de elevação espiritual, confortando-me, qual se me tratasse as feridas interiores e, depois de alguns dias, restaurara-se-me a voz para a troca de ideias.

Lamentava profundamente o meu insucesso na direção, entretanto, minha avó consolou-me dizendo que os pais queridos saberiam me desculpar. É o que estou fazendo aqui, lastimando as somas que despendi com os estudos, todas elas provenientes do bolso do papai, com quem contraí enorme dívida, que, um dia, Deus me auxiliará a resgatar. Peço-lhes, assim, me perdoem a leviandade e saibam o quanto os amo.

Soube que, por aqui, eu encontrarei meios de prosseguir em meus estudos, mas não tenho ainda a certeza clara no assunto. Espero, porém, que essa bênção virá.

Prometo aos pais amigos e à nossa Valéria fazer o possível para melhorar-me e recuperar o tempo que perdi, se alguém pudesse recompor o tempo que corre à nossa frente, sem que tenhamos a oportunidade de acompanhá-lo. Mesmo assim, peço-lhes perdão a fim de que eu tenha a paz necessária.

Querido papai Lédio, querida mãezinha Edir, em outra ocasião, permitindo Jesus, conseguirei escrever um tanto mais. Por agora, recebam muitos beijos do filho reconhecido de sempre,


Fábio Freire Corrêa.

(Mensagem recebida pelo médium Francisco Cândido Xavier, em reunião pública do Grupo Espírita da Prece, na noite de 16.05.1986, em Uberaba, Minas Gerais).


Esclarecimentos


Fábio Freire Corrêa, estudante de Medicina, desencarnado em 17/11/1985.

Pais: Lédio Cruz Corrêa e Edir Corrêa.

Rua Paliére, 45 — Bairro Fátima. CEP. 24:070-140 — Niterói — RJ. Fone: (021) 719-0466


Os Editores


Fábio Freire Corrêa.
Francisco Cândido Xavier

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