Depois da Travessia
Versão para cópiaRedenção ao pecador
01|03|1939
Minha querida Julinha,
Antes de tudo eu peço a Deus por ti e por todos os nossos que se acham presentes!
Dou-te novamente as boas-vindas ao nosso recanto de orações, felicitando-te, e ao nosso Aurélio, pela decisão de buscarem um pouco do repouso da paisagem, junto da Maria. Eu, graças a Deus, continuo trabalhando, dentro dos meus recursos em favor dos menos favorecidos. Assim mesmo como tu, que recruta as amigas menos ocupadas no lar para o grande labor pela paz dos cegos, também eu tenho movimentado os meus esforços junto de alguns Espíritos abnegados do Invisível para intensificarmos os nossos esforços. Tenho aqui operado agora numa grande e abençoada escola, onde são recebidos os que se desencarnam na cegueira da vida terrestre.
Conhecendo as minhas intenções e os meus desejos, os grandes mensageiros de Jesus me concederam a felicidade de prosseguir com os trabalhos interrompidos com a minha desencarnação, mas continuados aí no mundo pela tua boa vontade e dedicação.
É interessante esse novo gênero de serviços pelos cegos, porque a maioria, em se separando do organismo carnal, supõe continuar com as mesmas impressões físicas de sombra, tateando no caminho de suas atividades mecanizadas. A nossa escola recebe os cegos pacientes e generosos, os que foram crentes e cheios de fé, dotando-lhes novamente com os sagrados dons da vista. Em cada hora observamos cenas comovedoras de risos e lágrimas misturados às mais santificadas emoções! Em nosso ambiente, portanto, verifica-se, para muitos, o término de longas e amargurosas provas, que por longo espaço de tempo retiveram essas almas no lodo terrestre.
Aqui, pois, minha filha, tenho conhecido muitos inquisidores, criminosos, nobres antigos que fizeram jus à expiação amarga da cegueira no Plano material, sem saber como louvar a este Deus de Bondade Infinita, que em todas as oportunidades e situações oferece os recursos de da vida terrestre. Aos nossos amigos de labor espiritual explico sempre que és a minha dedicada companheira da Terra, onde localizo a continuação de nossos esforços no obscuro Plano terrestre. Muitos desses guias procuram, então, fortalecer-te, ligando o teu trabalho ao nosso, de modo que deves contar sempre com a assistência de desvelados mentores espirituais. Essas obrigações não me impedem de me interessar pelos nossos familiares, mesmo porque a situação espiritual e física de Mariquinhas e das filhas me preocupa sempre e não perco oportunidade de lhes levar ao íntimo o conforto moral de que posso dispor com as minhas ainda fracas possibilidades. Estou, porém, muito satisfeita com as minhas atividades no Plano espiritual. Assim como os cegos têm aí benfeitores na vida material, que provêm do necessário a todos os que desejam trabalhar nas bibliotecas circulantes, nós também temos grandes mestres, que nos visitam e nos ensinam como reeducar o cego que chega da Terra saturado de impressões penosas da vida material. Dizem-me até, os nossos companheiros, que desses grandes centros espirituais é que partem as ideias nobres em favor da educação dos nossos ceguinhos da Terra. Por exemplo, a ideia da criação da máquina que te faz escrever em um mês aquilo que eu não poderia produzir em um ano.
Vês, pois, minha querida Julinha, que existem tarefas definidas dentro desse complexo de nossas obrigações, porquanto, pelas minhas palavras, podes reconhecer que os teus serviços estão subordinados, embora indiretamente, ao nosso mundo de atividades do Plano invisível.
Peço a Deus que te proteja e abençoe junto de todos os nossos. Daniel me pede transmitir a todos as mais carinhosas lembranças. E rogando a Jesus muita paz para o teu coração, deixo-te aqui um ósculo afetuoso da velha tia e amiga de sempre,
Vovó Júlia e vovô Aurélio residiam na capital do Rio de Janeiro e sempre passavam as férias em nossa casa na Fazenda Modelo, em Pedro Leopoldo. Vovó Júlia, nesses períodos, e em diferentes anos, copiou à máquina todas as mensagens psicografadas por Chico Xavier, de 1935 a 1952.
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