Diálogo dos Vivos
Versão para cópiaAssistência à criança
O Centro Espírita Eurípedes Barsanulfo, situado na 5ila de Peirópolis, à distância de vinte quilômetros de Uberaba, dedicava sua reunião aos serviços de assistência à criança. Lá estávamos em reduzida caravana de amigos. O tema da noite era Educação. E o texto de O Evangelho Segundo o Espiritismo que saiu para o nosso estudo foi o item 2 do capítulo XXV. () Diversos comentários se fizeram ouvir.
Ao término da reunião a mensagem recebida foi o soneto Lição da Vida, da poetisa desencarnada Narcisa Amália. Nós, os companheiros presentes à reunião, concordamos em enviar-lhe a mensagem, na expectativa de vê-la publicada, para nossos estudos, com os seus comentários doutrinários.
Veio o mestre à prisão para encargos de ensino, Guiava jovem turma às lições do Direito; Junto dele estacou, de chofre, um carro estreito A transportar um morto — um malfeitor menino. Fala à equipe curiosa um guarda em desatino: — “Matei-o!… Era ladrão e matador perfeito!…” O corpo envolto em pano é visto com respeito… Solene, o mestre exclama: “Infeliz assassino!…” E prosseguiu: “Já sei… O morto não me ilude Para ser um bandido assim na juventude, Certo, nasceu da lama agarrado ao gatilho…” Depois, descobre o corpo… Em todos, vibra o espanto. O professor tombara a desfazer-se em pranto. E gritava: “Oh! meu Deus! Ah! meu filho… Meu filho!…” |
A educação puramente formal perde a sua essência que é o amor. O mestre se habitua aos objetivos imediatos do ensino, esquecendo-se da formação moral e espiritual, dos fins verdadeiros do processo educativo. O quadro que o soneto de Narcisa Amália nos apresenta não é imaginário, não tem apenas a finalidade de chocar-nos pelo seu aspecto trágico. Seu verdadeiro objetivo é mostrar-nos a falência da educação formal, convertida em máquina de ensino, incapaz de atingir a alma do educando.
O mestre sem amor revela a sua frieza ao dizer, diante do cadáver de uma criança assassinada: “ O morto não me ilude”. () Na verdade, o morto não o iludia, mas ele se enganava. Não havia sido a lama dos bairros miseráveis nem o apego precoce ao gatilho que transformara aquela criança em criminosa. A causa deformadora estava no coração do pai, do mestre que não aprendera a amar, que não conseguira entender a verdadeira natureza da educação. Não era um mestre, mas um profissional do ensino.
A vida, a grande educadora, que não se formaliza nem profissionaliza, surpreende-nos às vezes com lições terríveis. Fatos como esse, episódios em que o fracasso do mestre o leva a desilusões arrasadoras, ocorrem com mais frequência do que se supõe. Apenas as ocorrências mais trágicas aparecem no noticiário da imprensa. Outras, de natureza mais íntima, são abafadas com lágrimas no próprio lar.
Pestalozzi, mestre de Kardec, foi um apóstolo da Educação. Kardec aprendeu com ele que educar é amar. Por isso, Kardec insiste no valor e na importância da Educação como única maneira eficiente de modificarmos o mundo, melhorando o homem. A Educação sem Deus dos nossos dias, produzida pelos abusos do sectarismo religioso, terá de ser substituída pela Educação Espírita, onde a fé não é imposta de maneira arbitrária, mas se desenvolve no educando à luz da razão e ante a comprovação dos fatos. Estamos vendo no mundo o resultado de uma educação errada e deformada.
O soneto de Narcisa Amália é um choque emocional para nos despertar, a nós, espíritas, da negligência nesse terreno. Temos fundado escolas, é verdade, mas nos esquecemos do principal que é dar a essas escolas um sistema seguro de Educação Espírita, elaborado com amor pelos educadores espíritas. Para isso já existe, entre nós, a revista especializada do Grupo Espírita de Estudos Pedagógicos. Mas, quantos espíritas já se interessaram por ela? Quantos professores espíritas leram os exemplares já publicados? Até quando continuaremos indiferentes ao problema maior que nos desafia nesta hora do mundo? Que cada qual responda para si mesmo.
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