Parábolas e Ensinos de Jesus

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CAPÍTULO 21

INFIÉIS

“Havia um proprietário que plantou uma vinha, cercou-a com uma sebe, cavou aí um lagar, edificou uma torre e arrendou-a a uns lavradores e partiu para outro país. Ao aproximar-se o tempo dos frutos, enviou seus servos aos lavradores, para receber os frutos que lhe tocavam. Estes, agarrando os servos, feriram um, mataram outro e a outro apedrejaram.

Enviou ainda outros servos em maior número; e trataram-nos do mesmo modo. Por último, enviou-lhes seu filho, dizendo: Terão respeito ao meu filho. Mas, os lavradores, vendo-o, disseram entre si: este é o herdeiro;

vinde, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança: e, agarrando-o, lançaram-no fora da vinha e mataram-no. Quando, pois, vier o Senhor da vinha, que fará àqueles lavradores? Responderam-lhe: Fará perecer horrivelmente a estes malvados, e arrendará a vinha a outros, que lhe darão os frutos no tempo próprio. "


(Mateus 21:33 – 42. – Marcos 12:1 – 9 – Lucas 20:9 – 16.)

A Parábola acima é a prova da inigualável presciência do Filho de Deus, assim como é a magistral sentença que se havia de cumprir no nosso século contra os “rendeiros infiéis", que têm devastado a nossa seara.

Um proprietário plantou uma vinha, cercou-a com um tapume feito de ramos e troncos de árvores; assentou um lagar (local com todos os petrechos para a fabricação de vinho) e edificou uma “torre" (grande edifício com proteção contra os ataques inimigos).

De maneira que a fazenda estava completa, tudo preparado: terras de sobra, parreiras em grande quantidade, lagar, tanques, tonéis — tudo o que era preciso para a fabricação do vinho. Casa de moradia com toda a comodidade e conforto" Mas, tendo de ausentar-se o proprietário, arrendou a herdade a uns lavradores; no tempo da colheita dos frutos mandaria receber o produto do arrendamento, ou seja, os frutos que lhe tocavam" O contrato foi passado e muito bem redigido: selado, registrado e com as competentes testemunhas.

Por ocasião da primeira colheita, o Senhor da vinha mandou que seus empregados fossem receber os frutos que lhe tocavam.

Os rendeiros, em vez de darem conta do depósito; que lhes fora confiado, agarraram os emissários, feriram um, apedrejaram outro e mataram o seguinte.

Na outra colheita, o proprietário da herdade tornou a mandar outros emissários, que tiveram a mesma sorte dos primeiros.

Vendo o dono da herdade o que acontecera com seus emissários, julgou mais acertado delegar poderes ao próprio filho, porque, com certeza, os respeitariam, e o enviou a ajustar contas com os arrendatários".


Mas os lavradores, em vendo este chegar à propriedade, combinaram entre si e deliberaram matá-la, porque, diziam; “este é o herdeiro, vinde, matemo-lo e apoderemo-nos da sua herança". E assim fizeram: tiraram-no fora da vinha e o mataram". “Quando chegar o Senhor da Vinha, o que fará àqueles lavradores?"

— perguntou Jesus ao propor a parábola.

E a resposta veio em seguida: “Fará perecer os malvados, os arrendatários dolosos, e entregará a vinha a outros, que lhe darão os frutos em tempo próprio. "


* * *

Parábola é a exposição ou a pintura de uma coisa em confronto com outra de relação remota, ou de sentido oculto ou invisível.

Jesus tinha por costume, para explicar aquilo que escapa à compreensão vulgar, usar das parábolas, a fim de se tornar mais compreendendo.

Nesta Parábola dos Lavradores Maus, rendeiros infiéis, quis Jesus explicar a soberania da ação divina que às vezes tarda, mas não falha; e quis ainda mostrar a seus discípulos quem são os lavradores que prejudicam a sua seara.


* * *

A seara é a Humanidade; o proprietário é Deus; a vinha que ele plantou é a Religião; o lagar são os meios de purificação espiritual que ele concede; a Casa que edificou é o mundo, os lavradores que arrendaram a lavoura são os sacerdotes de todos os tempos, desde os antigos que sacrificavam o sangue dos animais, até os nossos contemporâneos.

Os primeiros servos que foram feridos, apedrejados e sacrificados, são os profetas da Antiguidade, que passaram por duras provações: Elias, Eliseu, Daniel, que foi posto na cova dos leões; o próprio Moisés, que sofreu com os sacerdotes do Faraó e com os israelitas fanatizados que chegaram a fundir um bezerro de ouro para adorar, contra a Lei do Senhor;

depois veio João Batista, que foi degolado; e depois outros servos, que passaram pelos mesmos sofrimentos dos primeiros — apóstolos e profetas como Estevão, que foi lapidado; Paulo, Pedro, João, Tiago, que sofreram martírios, e todos os demais que não têm acompanhado as concepções sacerdotais.

O Filho do Proprietário, que foi morto pelos rendeiros que se apossaram da sua herança, é Jesus Cristo, Senhor Nosso, que sofreu o martírio ignominioso da cruz. E, de acordo com as previsões da Parábola, os tais sacerdotes se apossaram da herança com a qual se locupletam fartamente, deixando a Seara abandonada e a Vinha sem frutos para o Proprietário.

Nas condições em que se acha a Seara, poderá o Senhor deixar a sua Vinha entregue a essa gente, a esses rendeiros inescrupulosos e maus?

Estamos certos de que se cumprirá brevemente a última previsão da Parábola: “O Senhor tomará a Vinha desses malvados e a arrendará a outros, que lhe darão os frutos no tempo próprio".


* * *

A confusão religiosa é a mais espessa escuridão que infelicita as almas.

A crença é como o fruto da videira que alimenta, encoraja e vivifica.

Assim como este alimenta o corpo, aquela alimenta alma.

A Religião de Jesus Cristo não é o culto, as exterioridades, os sacramentos, a fé cega; também não é o fogo que aniquila e consome o mal que vence o bem, o Diabo que vence a Deus.

A Religião de Jesus Cristo é o bálsamo que suaviza, é a caridade que consola, é o perdão que redime, é a luz que ilumina; não é o aniquilamento, mas a Vida não é o corpo mas, sim, o Espírito.

A Religião de Jesus Cristo deve, pois, ser ministrada em espírito e verdade e não em dogmas e com exterioridades aparatosas, para que possa ser compreendida, observada e praticada pelo Espírito.

O corpo é nada; o Espírito é tudo. O corpo existe porque o Espírito aciona; o vivifica e o movimenta. No dia em que o Espírito dele se separa, nenhuma vida mais resta a esse invólucro, a esse instrumento.

Que é o violino sem o músico? Que é o relógio sem que se lhe dê corda? Que é a máquina sem maquinista?

O corpo sem o Espírito é morto e se desagrega, como uma casa que cai e se converte em escombros.

O corpo “pulvis est et in pulveris reverteris".

E se assim é, qual o efeito dos sacramentos e práticas sibilinas que não atingem o Espírito?

O princípio da Religião é a Imortalidade e os rendeiros da Vinha têm por dever salientar e demonstrar este princípio, para que o Templo da Religião, assentado sobre esta base inamovível, abrigue com a Verdade os corações que desejam a paz e a felicidade.

Os pastores e os sacerdotes, “arrendatários da Vinha", “maus obreiros" que conspurcam os sentimentos cristãos, transformando a Religião de Jesus em missas, imagens, procissões, aparatos, músicas, girândolas e sacramentos, serão chamados às contas e o látego da Verdade desde já os vem expulsando da herdade, que será entregue a outros, para que os frutos da Vinha sejam dados aos famintos de justiça, aos deserdados de consolação, aos que procuram a luz que encaminha e conduz à perfeição.

Desde tempos que vão longe, a Religião tem sido causa de abjeta exploração. O sacerdócio, por várias vezes, tem feito periclitar o sentimento religioso. A desgraça da Religião tem sido, em todas as épocas, o padre. O padre hebreu, o padre egípcio, o padre budista, o padre brâmane; sempre o padre, a corporação eclesiástica, com toda a sua hierarquia, a sua escolástica, os seus princípios rígidos, os seus cultos aparatosos, os seus sacramentos arcaicos.

O sacerdócio, tornando-se arrendatário da Vinha, como tem acontecido, só conhece um “deus" a quem obedece cegamente: “deus" constituído eclesiasticamente e tirado ou escolhido de um dos seus próprios membros. Todas as religiões têm tido e continuam a ter o seu papa, o seu maioral, o seu patriarca, o seu chefe a quem todos prestam obediência em detrimento do Supremo Senhor e Criador.

Daí a luta cruenta que o sacerdotalismo tem desenvolvido contra os profetas em todas as épocas.

Esta Parábola é a comparação de todas as lutas que os gênios, os grandes missionários, os profetas que falam em nome da Divindade e da Religião, têm sustentado contra a cleresia.

Desde que o Grande Proprietário plantou na Terra a sua Vinha; desde que fez brilhar no mundo o Sol vivificador da Religião, cercando a Vinha com uma sebe, aí estabelecendo um lagar e edificando uma torre; desde que os princípios religiosos foram estabelecidos e ficaram gravados nos Códigos dos divinos preceitos, os lavradores maus dela se apoderaram como rendeiros relapsos, deixando perecer as videiras e massacrando os enviados que em nome do Senhor lhes vinham pedir ou reclamar, como o fazemos hoje, os frutos da Vinha!

Os servos do Proprietário da Lavoura eram presos, feridos e mortos. A pretexto de heresia e apostasia, queimaram corpos como quem queima lenha seca e verde; infligiram-lhes os mais duros suplícios, tisnando de sangue as páginas da História do nosso mundo. Nem o Filho de Deus, cuja parábola premonitória de morte acabamos de ler, nem Ele foi poupado pela classe sacerdotal, que tinha por Pontífices Anás e Caifás, em conluio com os governos da época.

A classe sacerdotal, que nada fez à Humanidade e ainda fascinou os homens com os seus cultos aparatosos e seus dogmas horripilantes, é precisamente o que constitui, em sua linha geral, os “lavradores maus" da parábola.

Estão eles muito bem representados nesses obreiros fraudulentos e mercenários que proliferam no mundo todo, vendendo a fé, a salvação, as graças.

Que fará o Proprietário da Vinha a tão maus obreiros? O resultado não pode ser outro: “fa-los-á perecer, tirar-lhes-á o poder que lhes concedeu e a entregará a outros, que darão os frutos no tempo próprio. " Felizmente chegou também a época da realização da premonição do Cristo exarada nos Evangelhos.

Os Espíritos da Verdade baixam ao mundo, uns tomam um invólucro carnal, e outros, através do véu que separa as duas vidas, vêm se apossar da Vinha, para que ela dê os resultados designados pelo Senhor de Todas as coisas.

O sacerdócio cai, mas a Religião prossegue; os dogmas são abatidos, mas a Verdadeira Fé aparece, robustecendo consciências, consolando corações, e, principalmente, fazendo raiar na Terra a aurora da Imortalidade, para realçar o Deus Espírito, o Deus Justo, o Deus Poderoso e Sábio que reina em todo o Universo.




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Mateus 21:33

Ouvi ainda, outra parábola: Houve um homem, pai de família, que plantou uma vinha, e circundou-a de um valado, e construiu nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e ausentou-se para longe.

mt 21:33
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Marcos 11:13

E, vendo de longe uma figueira que tinha folhas, foi ver se nela acharia alguma coisa; e, chegando a ela, não achou senão folhas, porque não era tempo de figos.

mc 11:13
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Marcos 11:14

E Jesus, falando, disse à figueira: Nunca mais coma alguém fruto de ti. E os seus discípulos ouviram isto.

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Marcos 11:19

E, sendo já tarde, saiu para fora da cidade.

mc 11:19
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Marcos 11:20

E eles, passando pela manhã, viram que a figueira se tinha secado desde as raízes.

mc 11:20
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Marcos 11:21

E Pedro, lembrando-se, disse-lhe: Mestre, eis que a figueira, que tu amaldiçoaste, se secou.

mc 11:21
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Marcos 12:1

E COMEÇOU a falar-lhes por parábolas: Um homem plantou uma vinha, e cercou-a de um valado, e fundou nela um lagar, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra;

mc 12:1
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Lucas 20:9

E começou a dizer ao povo esta parábola: Certo homem plantou uma vinha, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu para fora da terra por muito tempo;

lc 20:9
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