Parábolas e Ensinos de Jesus

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CAPÍTULO 32

PARÁBOLA DO BOM SAMARITANO

“Levantando-se um doutor da Lei experimentou-o, dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna? Respondeu-lhe Jesus: Que é o que está escrito na Lei? como lês tu? Respondeu ele: Amarás ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda a tua força e de todo o teu entendimento e ao próximo como a ti mesmo. Replicou-lhe Jesus: Respondeste bem; faze isso e viverás. Ele, porém, querendo justificar-se, perguntou a Jesus: E quem é o meu próximo? Prosseguindo, Jesus disse: Um homem descia de Jerusalém a Jericó; e caiu nas mãos de salteadores que, depois de o despirem e espancarem, se retiraram, deixando-o meio morto. Por uma coincidência descia por aquele caminho um sacerdote; e quando o viu, passou de largo. Do mesmo modo também um levita, chegando ao lugar e vendo-o, passou de largo. Um samaritano, porém, que ia de viagem, aproximou-se do homem, e, vendo-o, teve compaixão dele;

e chegando-se, atou-lhe as feridas, deitando nelas azeite e vinho; e pondoo sobre seu animal, levou-o para uma hospedaria e tratou-o. No dia seguinte tirou dois denários, deu-os ao hospedeiro e disse: Trata-o, e quanto gastares de mais, na volta to pagarei. Qual destes três te parece ter sido o próximo daquele que caiu nas mãos dos salteadores? Respondeu o doutor da Lei: Aquele que usou de misericórdia para com ele. Disse-lhe Jesus: Vai e faze tu o mesmo. "


(Lucas 10:25-37.)

Se examinarmos atentamente a Doutrina de Jesus, veremos em todos os seus princípios a exaltação da humildade e a humilhação do orgulho.

As personalidades mais impressionantes e significativas de suas parábolas são sempre os pequenos, os humildes, os repudiados pelas seitas dominantes, os excomungados pela fúria e ódio sacerdotal, os acusados pelos doutores da Lei, pelos rabinos, pelos fariseus e escribas do povo, em suma, os chamados heréticos e descrentes! Todos estes são os preferidos de Jesus, e julgados mais dignos do Reino dos Céus que os potentados da sua época, que os sacerdotes ministradores da lei, que os grandes, os orgulhosos, os representantes da alta sociedade!

Leiam a passagem da “mulher adúltera", a Parábola do Publicano e do Fariseu, a do Filho Pródigo, a da Ovelha Perdida, a do Administrador Infiel, a do Rico e o lázaro; vejam o encontro de Jesus com Zaqueu, ou com Maria de Betânia, que lhe ungiu os pés; as Parábolas do Grão de Mostarda em contraposição à da frondosa Figueira Sem Frutos, e a do Tesouro Escondido em contraposição à dos tesouros terrenos e das ricas pedrarias que adornavam os sacerdotes!

Esta afirmação se confirma com esta sentença do Mestre aos fariseus e doutores da lei: “Em verdade vos afirmo que as meretrizes e os pecadores vos precederão no Reino dos Céus. " E para que melhor testemunho desta verdade, que aparece aos olhos de todos os que penetram o Evangelho em espíritos, do que esta Parábola do Bom Samaritano?

Os samaritanos eram considerados heréticos aos olhos dos judeus ortodoxos; por isso mesmo eram desprezados, anatematizados e perseguidos.

Pois bem, esse que, segundo a afirmação dos sacerdotes, era um descrente, um condenado, foi justamente o que Jesus escolheu como figura preeminente de sua Parábola. O interessante, ainda, é que a referida parábola foi proposta a um Doutor da lei, a um judeu da alta sociedade que, para tentar o Mestre, foi inquiri-lo a respeito da vida eterna.

O judeu doutor não ignorava os mandamentos, e como os podia ignorar se era doutor! Mas, com certeza, não os praticava! Conhecia a teoria, mas desconhecia a prática. O amor de toda a alma, de todo o coração, de todo o entendimento e de toda a força que o doutor Judeu conhecia, não era ainda bastante para fazê-lo cumprir seus deveres para com Deus e o próximo.

Amava, como amavam os fariseus, como os escribas amavam e como amam os sacerdotes atuais, os padres contemporâneos e os doutores da lei de nossos dias. Era um amor muito diferente e quiçá oposto ao que preconizou o Filho de Deus.

É o amor do sacerdote, que, vendo o pobre ferido, despido e espancado, quase morto, passou de largo; é o amor do levita (padre também da Tribo de Levi), que, vendo caído, ensanguentado, nu e arquejante à beira do caminho, por onde passava, um pobre homem, também se fez ao largo; é o amor dos egoístas, o amor dos que não compreenderam ainda o que é o amor; é o amor do sectário fanático que ama a abstração mas desama a realidade!

Salientando na sua Parábola essas personalidades poderosas da sua época, e cujo exemplo é fielmente imitado pelo sacerdócio atual, quis Jesus fazer ver aos que lessem o seu Evangelho que a santidade dessa gente não chega ao mínimo do Reino dos Céus, ao passo que os excomungados pelas Igrejas, que praticam o bem, se acham no caminho da vida eterna.

De fato, quem é o meu próximo, se não o que necessita de meus serviços, de minha palavra, de meus cuidados, de minha proteção?

Não é preciso ser cristão para se saber isto que o próprio Doutor da Lei afirmou em resposta à interpelação de Jesus: “O próximo do ferido foi aquele que usou de misericórdia para com ele. " Ao que Jesus disse, para lhe ensinar o que precisava fazer a fim de herdar a vida eterna: “Vai, e faze tu a mesma coisa. " O que equivale a dizer: Não basta, nem é preciso ser Doutor da Lei, nem sacerdote, nem fariseu, nem católico, nem protestante, nem assistir a cultos ou cumprir mandamentos desta ou daquela Igreja, para ter a vida eterna; basta ter coração, alma e cérebro, isto é, ter amor, porque o que verdadeiramente tem amor, há de auxiliar o seu próximo com tudo o que lhe for possivel auxiliar: seja com dinheiro, seja moralmente ensinando os que não sabem, espiritualmente prodigalizando afetos e descerrando aos olhos do próximo as cortinas da vida eterna, onde o espírito sobrevive ao corpo, onde a vida sucede à morte, onde a Palavra de Jesus triunfa dos preceitos e preconceitos sacerdotais!


* * *

Finalmente, a Parábola do Bom Samaritano refere-se verdadeiramente a Jesus; o viajante ferido é a Humanidade saqueada de seus bens espirituais e de sua liberdade, pelos poderosos do mundo; o sacerdote e o levita significam os padres das religiões que, em vez de tratarem dos interesses da coletividade, tratam dos interesses dogmáticos e do culto de suas Igrejas; o samaritano que se aproximou e atou as feridas, deitando nelas azeite e vinho, é Jesus Cristo. O azeite é o símbolo da fé, o combustível que deve arder nessa lâmpada que dá claridade para a Vida Eterna — a sua Doutrina; o vinho é o suco da vida, é o espírito da sua Palavra; os dois denários dados ao hospedeiro para tratar do doente, são: a caridade e a sabedoria; o mais, que o “enfermeiro" gastar, resume-se na abnegação, nas vigílias, na paciência, na dedicação, cujos feitos serão todos recompensados. Enfim, o hospedeiro representa os que receberam os seus ensinos e os “denários" para cuidarem do “viajante ferido e saqueado".




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Lucas 10:25

E eis que se levantou um certo doutor da lei, tentando-o, e dizendo: Mestre, que farei para herdar a vida eterna?

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Lucas 16:19

Ora, havia um homem rico, e vestia-se de púrpura e de linho finíssimo, e vivia todos os dias regalada e esplendidamente.

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Lucas 16:20

Havia também um certo mendigo, chamado Lázaro, que jazia cheio de chagas à porta daquele.

lc 16:20
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Lucas 16:21

E desejava alimentar-se com as migalhas que caíam da mesa do rico; e os próprios cães vinham lamber-lhe as chagas.

lc 16:21
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Lucas 16:22

E aconteceu que o mendigo morreu, e foi levado pelos anjos para o seio d?Abraão; e morreu também o rico, e foi sepultado.

lc 16:22
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Lucas 16:23

E no Hades, ergueu os olhos, estando em tormentos, e viu ao longe Abraão, e Lázaro no seu seio.

lc 16:23
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Lucas 16:24

E, clamando, disse: Pai Abraão, tem misericórdia de mim, e manda a Lázaro que molhe na água a ponta do seu dedo e me refresque a língua, porque estou atormentado nesta chama.

lc 16:24
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Lucas 16:25

Disse, porém, Abraão: Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro somente males; e agora este é consolado e tu atormentado;

lc 16:25
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Lucas 16:26

E, além disso, está posto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que quisessem passar daqui para vós não poderiam, nem tão pouco os de lá passar para cá.

lc 16:26
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Lucas 16:27

E disse ele: Rogo-te pois, ó pai, que o mandes a casa de meu pai.

lc 16:27
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Lucas 16:28

Pois tenho cinco irmãos; para que lhes dê testemunho, a fim de que não venham também para este lugar de tormento.

lc 16:28
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Lucas 16:29

Disse-lhe Abraão: Têm Moisés e os profetas; ouçam-nos.

lc 16:29
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Lucas 16:30

E disse ele: Não, pai Abraão; mas, se algum dos mortos fosse ter com eles, arrepender-se-iam.

lc 16:30
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Lucas 16:31

Porém Abraão lhe disse: Se não ouvem a Moisés e aos profetas, tão pouco acreditarão, ainda que algum dos mortos ressuscite.

lc 16:31
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