Eles Voltaram

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CAPÍTULO 8

Após a tempestade de dor, a certeza do reencontro


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“O acidente ocorreu no dia 1º de novembro de 1979, na estrada que liga São José dos Campos a Ilha Bela, mais ou menos a 8 km da Via Dutra, tendo sido provocado por um caminhão basculante carregado de areia que trafegava contramão. Após chocar-se frontalmente com um automóvel em que se encontrava um casal de São José dos Campos (que também foram vítimas fatais), bateu também frontalmente contra o veículo dirigido pelo meu filho Nestorzinho.

Meu filho, ao pressentir o acidente, ainda tentou evitá-lo, saindo para o acostamento, o que de nada adiantou, pois o caminhão desgovernado foi de encontro a eles no próprio acostamento. Faleceram no local, além do Nestorzinho, minha esposa Ivanir e D. Julieta, minha sogra. Minha filha Sâmadar faleceu ao dar entrada no hospital e meu filho mais novo, Gustavo, faleceu no dia seguinte ao acidente. Encontrava-se ainda no carro a Elisa Helena, noiva do Nestorzinho, que foi a única pessoa que saiu com vida, embora com ferimentos graves, mas que hoje, graças ao bondoso Deus, se acha totalmente recuperada.”


Com estas palavras, o Sr. Nestor Macedo, conhecido e estimado empresário de Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, atendendo nosso pedido, contou-nos, por carta, seu doloroso drama, que comoveu toda uma região.

Além de outras informações, incluídas mais adiante, o Sr. Nestor enviou-nos um exemplar da Revista Diretriz — Fatos, Feitos & Fotos, de maio/junho de 1980, nº 12, editada em sua cidade, a qual divulgou o caso com a reportagem: “Mensagem do Além, o conforto para quem ficou”, de autoria de Luane, assim redigida, antecedendo a transcrição total da primeira carta mediúnica de Nestorzinho:


“Uma mensagem do Além, psicografada pelo médium Francisco Cândido Xavier, tranquilizou Nestor Macedo. Em Uberaba, no dia 9 de abril de 1980, ele leu uma carta enviada pelo seu filho Nestor Macedo filho, que faleceu no dia 1º de novembro de 1979 juntamente com a mãe, a avó materna e os dois irmãos, quando iam para Ilha Bela.

Quando D. Ivanir, esposa de Nestor Macedo, saiu de viagem com sua mãe D. Julieta e os filhos Sâmadar, de 18 anos, e o caçulinha Gustavo, de 6 anos, para encontrar Nestorzinho, em São Paulo, de onde sairiam de carro para a praia, ele teve um pressentimento: “Pedi para que me telefonassem assim que chegassem em Ilha Bela. Fiquei esperando o telefonema até 10 horas com tranquilidade, mas depois o tempo ia passando e aumentava minha angústia; sentia um aperto no coração.”

Quando o Passat de Nestorzinho ultrapassava oito quilômetros da Via Dutra, um caminhão, carregado de areia, vindo em alta velocidade, em mão contrária, os atingiu e esmagou o automóvel. Apenas Gustavo sobreviveu ao acidente mas, no dia seguinte, faleceu também e chegou a tempo para ser enterrado, juntamente com toda a família, no cemitério da Saudade.

Nestor Macedo soube da triste notícia através do Delegado de Polícia e teve um choque violento. De um dia para o outro havia perdido toda a sua família. Responsável pela Macedinho Imóveis, de repente não se via mais em condições de trabalhar. “Não assimilava nada” — afirma — Fechou a imobiliária por 4 meses, mudou-se de apartamento e trocou todos os móveis. Para evitar maiores lembranças, modificou o ambiente.

Os amigos, conforme ressalta, o ajudaram muito e não o deixavam em momento nenhum: “Deram-me enorme apoio emocional, ficando comigo até altas horas da madrugada. Ajudaram-me muito nos primeiros meses, que são os piores.”


O filho conta que está tudo bem


Aos poucos, o ritmo de sua vida foi voltando ao normal, embora hoje Nestor Macedo seja um homem de semblante triste. Voltou a trabalhar, mudou também o local de seu escritório e, na sua sala, estão emolduradas fotografias de toda a família, inclusive de sua sogra.

Não consegue esconder sua tristeza, confessa que a saudade é imensa, mas está conformado. Afirma que sabe que está tudo bem, pois o seu filho disse isso para ele na mensagem psicografada por Chico Xavier e isso o tranquiliza.

“Quando Chico Xavier começou a ler a mensagem de meu filho, senti uma emoção muito grande.”

Há quem considere mensagens psicografadas ilusionismo, obras de falsos profetas do apocalipse. Por outro lado, há quem acredite, e muito, na mensagem do Além, no contato com Espíritos através da mediunidade de alguém.

Nestor Macedo não só acredita nas mensagens psicografadas, como também considera o trabalho de Chico Xavier muito sério. Dele trouxe ótima impressão. “Chico Xavier é uma pessoa de alma pura, sem falsidades; não pede nada em troca e me inspirou muita confiança.”

Ele procurou o médium em Uberaba, acompanhado por seu amigo Renê Strang, que também perdeu seu filho em acidente automobilístico, o Renezinho, e recebeu igualmente uma mensagem psicografada por Chico Xavier.

“Era uma quarta-feira e havia uma multidão querendo falar com o Chico Xavier — lembra —. Eu estava lá em busca de conforto espiritual e recebi.” Vinte pessoas conversaram com Chico Xavier. Conforme descreveu Nestor Macedo, todos se concentraram numa sala, oraram, e então o médium começou a receber as mensagens; a de Nestorzinho e a de um parente de um dos presentes.

(…) A mensagem de seu filho fez o Sr. Nestor acreditar também que o “outro mundo é muito bonito” e passou a ter certeza de que a morte não é algo tão ruim como muitos acreditam.

“Neste mundo em que vivemos — acrescenta — cumprimos nossa missão para depois partirmos para um mundo melhor, isso se formos bons. Eu acredito que minha família já tinha cumprido sua missão aqui na Terra, e se encontra num Plano espiritual mais elevado.”


A certeza do reencontro


Nesses seis meses o Sr. Nestor viveu momentos de profunda amargura: Ele lembra que comemorou seu aniversário, no dia 1º de janeiro, no cemitério. Nos outros anos comemoravam juntos o aniversário de Nestorzinho, que nasceu também no dia 1º de janeiro, e o de Sâmadar, que era no dia 2.

Sente muito a falta das crianças e confessa que às vezes sente-se desamparado pela falta dos cuidados da esposa. A noite assiste televisão sozinho e, se não fosse as pescarias nos fins de semana e a companhia dos amigos, talvez tivesse tentado o suicídio.

“No começo pensei muito em me suicidar; afinal achava que minha vida não tinha mais razão de ser, estava sozinho. Graças a Deus não cometi essa loucura; se eu tivesse antecipado minha morte, tenho certeza que não reencontraria meus familiares. Poderia vê-los de longe, mas me aproximar, nunca.”

O Sr. Nestor tem certeza de que quando transcender o mundo material vai encontrar toda a sua família. Acredita também que receberá outras mensagens psicografadas e por isso irá uma vez por mês a Uberaba.”


“ESTAMOS 6VOS, EIS A GRANDE VERDADE”


Querido papai, peço a Deus nos fortaleça e abençoe, ao mesmo tempo que lhe peço abraçar seu filho, de volta.

Não sei como iniciar estas notícias. Estou surpreso, superando dificilmente o meu próprio estado emocional. Tantas lutas em tempo assim reduzido! Desejava retirar de sua lembrança toda a carga de angústia que lhe ficou a pesar no espírito agoniado pela provação. Queria possuir as palavras exatas com as quais pudesse reconfortá-lo, entretanto, papai, o seu sofrimento é igualmente nosso. Ainda não nos refizemos do choque sofrido, mas em suas orações e pensamentos vamos encontrando recursos para atenuar as nossas próprias inquietações.

Graças a Deus, a sua fé resistiu à tentação de vir ter conosco antes do dia apropriado, e a sobrevivência de sua coragem nos une para forças novas, de modo a vararmos a nebulosa da saudade e continuar, na 5ida Maior, na caminhada para a frente, o que para nós tem sido, por enquanto, muito difícil. Devo, porém, afirmar que com a proteção dos Mensageiros de Jesus, vamos conseguindo melhoras, mormente verificando que a sua confiança prossegue vitoriosa, confiança em Deus que lhe brilha no coração e nos atinge, reformulando-nos as energias.

Perdoe-me se fui instrumento indireto da tempestade de dor que nos envolveu. Recordo-me perfeitamente de que o seu coração paterno hesitava na aprovação à nossa viagem. Lembro-me de suas palavras concitando-nos a atravessar os feriados juntos em casa, sem afrontar os perigos das estradas repletas de riscos e de empeços inesperados. Sentia, porém, tanta falta da mamãe Ivanir, do nosso Gustavo e de todos os nossos… Queria um recanto em que estivéssemos “mais unos” e daí a minha insistência na ideia da viagem que acabou se realizando. Cheguei de Mogi com tanta ansiedade qual se eu fosse um menino sequioso de carinho e de festa…

O pessoal preparou a bagagem às pressas e partimos. Tudo corria regularmente; no entanto, de mim mesmo, registrava um quê de amargura que não conseguia explicar. Conversava com todos, mas experimentando um estranho vazio por dentro de meu próprio coração. De São José dos Campos para a Ilha, porém, novas emoções, semelhantes às saudades antecipadas de sua presença, me tomaram o íntimo e, quando menos esperava, eis que a máquina gigante nos colheu em sentido direto. Minhas ideias se voltaram imediatamente para a mamãe e para a vovó Julieta, no intuito de defendê-las para em seguida confabular com a nossa Elisa e com a nossa Sâmadar. Contudo, meus esforços foram vãos, já não dispunha de meios para externar qualquer palavra e só Deus sabe com que aflição fui subjugado pela inércia que me entorpecia, de repente. Num lance veloz de tempo revi toda a minha vida curta de rapaz e em seguida me arrojei num sono pesado de que só despertaria dias depois, a fim de me conscientizar quanto ao total da verdade, ciente de que me achava em uma organização hospitalar, quanto ao meu caso. Vim a me informar depois que a mãezinha, a vó Julieta e os queridos irmãos se encontravam em setor diferente. Perguntei por nossa estimada Elisa, vindo a saber que o tratamento dela seria efetuado no Plano físico, onde se demoraria por mais tempo.

As suas lágrimas de pai me alcançaram, tão logo me conscientizei quanto à nova situação. Com exceção daquela que era o meu afeto de moço, todos nós havíamos perdido o tesouro maior da vida — a própria família —, que somente se reorganizaria do lado de cá. Pude ver a mãezinha, a vovó Julieta e os queridos irmãos; no entanto, a dor do adeus não se verificou senão com o nosso silêncio repleto de agonias iguais às suas. Amigos queridos vieram ao nosso encontro: o meu avô José da Cruz veio com o Padre Victor nos prestar caridoso socorro. Em pouco tempo outros benfeitores apareceram; o nosso amigo Dr. Álvaro Couto encarregou-se de meu tratamento, amparando-me na recuperação.

Paizinho amigo, vou seguindo melhor, mas o quadro da máquina a triturar-nos, qual um trator de esteira sobre a erva, ainda não me saiu da lembrança. Auxilie-me ainda com a sua coragem. Pai querido, nada fiz que pudesse motivar o desastre. Se algo experimentava, era a alegria que nascera das saudades então dissipadas, mais nada. Viajávamos sem pressa, considerando respeitosamente os sinais, e quando o grande veículo, como que desgovernado, avançou para cima de nós, expulsando-nos do corpo físico, somente as Leis Divinas poderiam estar funcionando, porque cuidado e atenção não me faltavam. Posso afirmar-lhe que não sentimos dor. O impacto foi violento, demasiado peso maciço em nós e sobre nós. Não houve um milímetro de tempo à nossa disposição para examinar essa ou aquela possibilidade de nos furtarmos ao acidente então irreversível. A dor veio depois, na mágoa de haver deixado a sua presença, e na angústia de ouvir-lhe as indagações que ecoavam dentro de nós, qual se nos achássemos em comunhão mais íntima consigo, em nossa casa. A sua capacidade de sofrer com resignação contagiou-nos fé, e assim me expresso porque a mãezinha Ivanir e a vovó Julieta me disseram sentir as mesmas sensações de apoio, em sua lealdade a Deus. Efetivamente, não fosse a falta do seu carinho e do nosso lar, — ninho de paz e felicidade que a sua bondade nos construiu no mundo — estaríamos claramente mais fortes.

Entretanto, papai querido, vamos fazendo quanto possível para corresponder ao seu devotamento. O vovô José da Cruz nos pede calma e veio em minha companhia, solicitando-lhe essa mesma atitude perante a vida e diante do sofrimento a que estávamos destinados.

Papai, continue agindo em nosso auxílio. Em verdade, temos feito várias tentativas de abordar o seu coração com as nossas notícias; no entanto, unicamente hoje consigo reunir energias para falar-lhe com mais clareza. Com o seu amparo, estarei renovado para retomar os meus estudos por aqui, porquanto já estou ciente de que o meu esforço na preparação ante a Medicina pode e deve continuar. A morte não existe no sentido com que se formula na Terra semelhante palavra. Estamos sempre mais juntos. Mãezinha Ivanir pede para que o seu coração não se suponha a sós. Há muito serviço por fazer em auxílio de outras crianças, e esperamos em Deus, que o seu triunfo sobre a dor da separação temporária estará com o senhor, restaurando-lhe as forças.

Querido papai, se possível rogo seja dito à nossa querida Elisa que serei para ela o irmão reconhecido e que não desejamos vê-la acabrunhada ou infeliz. Menina correta e nobre, sustentada em suas esperanças para o futuro melhor, Jesus nos auxiliará a vê-la de novo refeita e segura na fé em Deus, de maneira a cumprir as elevadas tarefas que o Mais Alto lhe concederá um dia. Nos reuniremos novamente numa vida maior sem lágrimas e sem despedidas. Deus que nos aproximou um dos outros não nos separaria para sempre.

O irmão Juvenal e o amigo Cândido Lima, além de outros amigos, nos auxiliam e nos socorrem com imenso carinho.

Papai, quanto lhe seja possível, recorde-nos naqueles que experimentam provações mais agudas que as nossas. Não desanime. O Senhor velará por seus passos de obreiro do bem.

A mãezinha Ivanir, com a vovó Julieta, a querida Sâmadar e o nosso querido Gustavo lhe enviam todo o carinho na dedicação de sempre.

Não posso escrever mais; desculpe-me se aqui encerro. É que grafei como pude as notícias de que fui mensageiro, mas as saudades ainda são constrangedoras demais para que me alongue nesta escrita, já por si tão extensa. Pedimos a Deus para que as suas forças estejam ajustadas para o trabalho e rogamos a Jesus que o abençoe e guarde sempre.

Amigos novos que vamos conhecendo aqui, mais treinados nas letras mediúnicas, me ajudam a cumprir este dever do meu coração, dentre eles o Augusto Cezar, a quem fico devendo muitos obséquios.

Papai querido, não se julgue sozinho e confie mais em Deus, na certeza de que Deus também confia em nós. Para o seu carinho, todo o respeitoso amor de seu filho, sempre o seu


Nestorzinho


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


1 — Carta psicografada pelo médium Francisco C.Xavier, em Uberaba/MG, a 9/4/1980.


2 — Querido papai — Sr. Nestor Macedo, residente em Ribeirão Preto/SP.


3 — Em suas orações e pensamentos vamos encontrando recursos para atenuar as nossas próprias inquietações. — Há um intercâmbio muito grande, pelo pensamento (ondas mentais), entre as criaturas que se amam, não bloqueado nem mesmo pela morte. Aqui observamos os benefícios das orações fervorosas e dos pensamentos positivos calcados na esperança.


4 — Graças a Deus, a sua fé resistiu à tentação de vir ter conosco antes do dia apropriado. — Pelas informações vindas do Mundo Espiritual (O Livro dos Espíritos, Allan Kardec, 4ª Parte, Cap.
1) sabemos que o suicídio é um ato dos mais graves e desastrosos para o futuro do nosso Espírito. Muito pelo contrário, pelo desequilíbrio espiritual que provoca, o suicídio não facilita a reaproximação com os entes queridos domiciliados no Além. Confirmando estes conhecimentos, Nestorzinho afirma: a sobrevivência de sua coragem nos une para forças novas, de modo a vararmos a nebulosa da saudade e continuar, na 5ida Maior, na caminhada para a frente. O Sr. Macedo confirmou que teve pensamentos iniciais de autodestruição, ao dar uma entrevista que transcrevemos anteriormente.


5 — Mamãe Ivanir — D. Ivanir da Cruz Silvan Macedo (23/11/1935 — 01/11/1979).


6 — Nosso Gustavo — Gustavo da Cruz Macedo (4/1/1973 — 2/11/1979), irmão caçula.


7 — De mim mesmo, registrava um quê de amargura que não conseguia explicar, Conversava com todos, mas experimentando um estranho vazio por dentro de meu própria coração. De São José dos Campos para a Ilha, porém, novas emoções, semelhantes às saudades antecipadas de sua presença me tomaram o íntimo e, quando menos esperava, eis que a máquina gigante nos colheu em sentido direto. — Estas palavras não deixam a menor dúvida de que Nestorzinho vivia o pressentimento de um encontro marcado com o destino. O acaso não existe, pois estamos sob a tutela de Leis Sábias e Justas que comandam o nosso progresso espiritual. E, certamente, Espíritos Benfeitores já envolviam a todos, amparando-os no cumprimento de difícil provação. (Ver Determinismo e Fatalidade, O Livro dos Espíritos, A. Kardec, 3ª Parte, Cap. 10; O Consolador, Emmanuel, Médium F. C. Xavier, FEB, Rio, Questões 132 a 139, e 146.) Mais adiante, Nestorzinho dirá: Somente as Leis Divinas poderiam estar funcionando, porque cuidado e atenção não me faltavam. O Sr. Nestor Macedo também teve um estranho pressentimento quando sua esposa, sogra e filhos saíram de viagem. Fora do habitual, pediu para que telefonassem assim que chegassem a Ilha Bela.


8 — Vovó Julieta — D. Julieta da Cruz (15/12/1905 — 01/11/1979), avó materna.


9 — Nossa Elisa — Elisa Helena, noiva do Nestorzinho. Foi a única pessoa que não perdeu a vida física no acidente.


10 — Nossa Sâmadar — Sâmadar da Cruz Macedo (2/1/1961 — 1/11/1979), irmã de 18 anos, cursava o vestibular para a Faculdade de Fisioterapia.


11 — Num lance veloz de tempo revi toda a minha vida curta de rapaz. — Uma das etapas do processo desencarnatório é esta visão rápida descrita por ele. (Ver O Céu e o Inferno, Allan Kardec, 2ª Parte, Cap. II, Mensagens de Sanson (item
7) e de Jobard; Evolução em Dois Mundos, Espírito André Luiz, Médiuns Francisco C. Xavier e Waldo Vieira, 1ª parte, Cap. 12, Ed. FEB, Rio/RJ.)


12 — Ciente de que me achava em uma organização hospitalar. — O trauma sofrido no acidente repercutiu no seu corpo espiritual, determinando, por algum tempo, tratamento em ambiente hospitalar.


13 — Avô José da Cruz — Avô materno, desencarnado há muitos anos.


14 — Padre Victor — Cônego Francisco de Paula Victor nasceu em Campanha, MG, a 12/4/1827. Ordenado padre em 1851, residiu um ano em Mariana e, a seguir, assumiu a paróquia de Três Pontas, MG, onde permaneceu até o seu falecimento, a 23/9/1905. Fundou e dirigiu o Colégio Sagrada Família, para alunos internos e externos, na época o mais conceituado da região. A cidade de Três Pontas, reconhecida ao devotado e caridoso sacerdote, reverencia a sua memória até os dias atuais. Lá encontram-se uma Praça e um Grupo Escolar com o nome “Cônego Victor”; e na sua herma, erguida nessa mesma praça, inscreveram três frases que sintetizam a obra missionária deste sacerdote: “Sua vida foi um evangelho. Sua memória, a sagração eterna de um exemplo vivo. Homenagem ao valor e à virtude.” (Devemos estas informações à gentileza do confrade João Corrêa Veiga, residente em Três Pontas, o qual nos ofertou um precioso livro biográfico do Padre Victor: Magnus Sacerdos, Prof. João de Abreu Salgado, Editado pela Gráfica Santo Antônio Ltda, Três Pontas, MG, 2ª ed., 1968.)


15 — Já estou ciente de que õ meu esforço na preparação ante a Medicina pode e deve continuar. — No Plano Espiritual os campos de trabalho e de estudo são muito amplos. O mundo terreno é uma pálida cópia do que existe nas Esferas espirituais. Nestorzinho era estudante de medicina.


16 — Augusto Cezar — Augusto Cezar Netto, desencarnado em 27/2/1968, é co-autor espiritual dos livros Jovens no Além e Somos Seis; e autor de Falou e Disse (todos psicografados pelo médium Francisco C. Xavier, Ed. GEEM, S. Bernardo do Campo/SP.)


17 — Nestorzinho — Nestor Macedo Filho, nascido a 1/1/1958, era chamado por alguns familiares de Nestorzinho e por outros simplesmente Nê.


18 — Esta carta mediúnica foi divulgada, na íntegra, pelos jornais: Diário de Notícias, Ribeirão Preto/SP e O Momento, de Sertãozinho/SP, 11/5/1980.


SEGUNDA CARTA


“Todos nós possuímos raízes psicológicas que nos marcam de muito longe”

Querido papai, a alegria de nossa fé renascente não me permite começar esta carta sem pedir a sua bênção.

A renovação íntima como que nos transporta à vida infantil em que nos tornamos novamente crianças pelo sentimento de surpresa com que somos defrontados nas ocorrências que mais profundamente nos atingem.

Venho ao seu encontro, diante do seu anseio por notícias novas que me representem ao seu coração amigo sem qualquer traço formal. Uma carta, pede o seu carinho, onde me observe qual se me visse num espelho. Eu mesmo, o seu Nê do cotidiano, a lhe falar sem aquele assombro dos primeiros contatos, nos quais procurei tranquilizá-lo.

Pai amigo, a Bondade de Deus é tão grande e a vida tão ampla, que efetivamente será melhor que me faça novamente menino, para criar o clima de intercâmbio mais natural entre nós. Com isso quero dizer-lhe que não o esquecemos, que seguimos os seus passos com as nossas orações reunidas, rogando aos mensageiros do Bem sustentar-lhe as energias.

Mãezinha Vânia e a vovó Júlia com o meu avô José da Cruz e outros amigos conosco, sabemos todos que não é fácil sobreviver após tamanhas tribulações. Perder a companhia dos entes mais caros, subitamente, qual se uma força estranha os arrebatasse de sua convivência e de seu carinho, sem qualquer possibilidade de defendê-los… Restar quase a sós, de uma tragédia em que a família se viu afastada do lar, como se um naufrágio tragasse a nossa própria casa, num mar de circunstâncias inabordáveis… Tudo isso consideramos em lhe assinalando a coragem da fé… Graças a Deus, o seu ânimo forte se apoiou na confiança em Deus e a sua sensibilidade foi capaz de tudo tolerar sem revolta, conquanto o sofrimento lhe retalhou os escaninhos do coração…

Entretanto, papai, em nós também a provação, embora repartida, doeu infinitamente, e as perguntas explodiram, à medida que se operava em nós a concientização do problema. Por que deixá-lo no Plano Físico, se todos nós nos achávamos reunidos numa vida nova? Que desígnios haviam presidido a nossa separação? Se fomos sempre uma equipe unida, por que o desmembramento, qual se constituíssemos um corpo, cuja cabeça permanecia longe de nós? As nossas indagações encharcadas de lágrimas receberam, porém, as respostas justas. Amigos queridos se encarregaram do diálogo e enquanto nos refazíamos do trauma quase insuportável, os esclarecimentos nos alcançavam a mente, relacionando os assuntos para nós plenamente inesperados e novos da reencarnação. Painéis do passado foram trazidos à nossa visão e, com a generosidade de tantos instrutores, consolidamos, pouco a pouco, a certeza de que os acontecimentos da vida jazem todos interligados com as causas de que extraem a própria origem; e buscamos de nossa parte cercá-lo, mesmo a distância, com as nossas mensagens inarticuladas de esperança. Outra vida se segue à existência que conhecemos na Terra Física e todos nós, criaturas materialmente visíveis nos contextos sociais do mundo, possuímos raízes psicológicas que nos marcam de muito longe.

Pai querido, seria tão difícil para seu filho a imersão das realidades da retaguarda, a fim de explicar as agonias do presente! Seria tão amarga semelhante exumação de fatos e relatos que será mais justo referirmo-nos às Leis de Deus que nos regem, sem qualquer propósito de anatomizar as situações. Por agora, contentemo-nos com o reencontro na periferia das experiências em que nos vimos cortados espiritualmente de um instante para o outro, e rendamos graças a Jesus por haver descoberto um caminho de reajuste, em que os nossos corações se exprimem mutuamente, regozijando-nos com a reincorporação da fé viva em nosso campo íntimo.

Estamos vivos, eis a grande verdade. Se perguntarmos a esse ou aquele grupo de criaturas porque se acham vivos, todos os componentes que o integram não conseguiriam responder com o desejável acerto. Assim também nós, neste outro lado da vida. Percebemos que forças vigorosas nos sustentam ligados uns aos outros e que ascendentes de caráter divino supervisionam a nossa aglutinação onde nos identificamos quais fomos e quais somos, mas, de imediato, não nos seria possível mergulhar o raciocínio em causas remotas para traze-las à luz.

Reconforte-nos a convicção de que os laços afetivos não se desfazem na morte do corpo e de que o amor persiste, cimentando-nos os ideais e as preocupações no sentido de viver e sobreviver com o melhor que possamos evidenciar, ante os processos da vida inextinguível.

Sei que a mensagem de seu filho, documento estruturado em carinho e esperança, mereceu a atenção de muitos amigos. Análises se fizeram, simpósios domésticos se formaram e as interrogações deixaram em muitos as marcas da crença nos antigos ensinamentos cristãos e, em outros muitos, a dúvida renasceu serena e espessa, convidando a pensar. Realmente, as nossas palavras ganharam horizontes com os quais não contávamos. Estamos gratos a quantos se interessaram pelas notícias de um filho, imaginariamente morto, a um pai dedicado e carinhoso, que a desolação prostrava em pesada amargura. Involuntariamente, o nosso comunicado se expandiu; no entanto, amigos nossos da Vida Maior nos fazem sentir que não houve qualquer intenção propagandística de nossa parte e que as ideias suscitadas em nosso correio familiar despertaram aspirações renovadoras e inquisições construtivas em muita gente. Agradeçamos ao Senhor por tudo isso e mantenhamos a nossa certeza na imortalidade, de modo a cumprir os deveres que a Sabedoria Divina nos indicou nos Planos diferentes, em que ambos nos domiciliamos agora.

O irmão Juvenal e o nosso amigo Dr. Álvaro Couto prosseguem auxiliando especialmente a mim, como que me adestrando para o noticiário de que me ocupo, no anseio de reconfortá-lo.

Outros benfeitores vieram em nosso auxílio. O nosso prezado Juvenal me deu a conhecer vários colaboradores do irmão Netto Campelo, de Sertãozinho, dedicados ao socorro fraternal e até mesmo um amigo que se declarou conhecido e companheiro de nossos antepassados, o irmão Francisco Schmidt, que ofereceu préstimos valiosos de que me aproveito, afim de melhorar-me e tornar-me mais útil.

Por isso mesmo, querido Papai, ao trazer-lhe os sentimentos de amor e confiança da mãezinha, da vovó e dos irmãos, recordo companheiros inesquecíveis, aos quais lhe peço transmita as minhas lembranças. Não posso me alheiar da amizade dos nossos colegas na Medicina, Jorge, Chúfalo, Lecínio, José Carlos e Carlos Antônio Albaceto, para os quais se me volvem os pensamentos de gratidão. Que eles prossigam para diante, sonhando com a ciência humanizada e traçando planos para o bem de tantos que sofrem em nossos núcleos de trabalho comunitário, são os meus votos.

De minha parte, não me desinteresso da intenção de cooperar na campanha antitóxicos e, embora me reconheça em outras condições de vivência, não desistirei de contribuir, logo se me faça possível, para erradicação do problema, não censurando a essa ou aquela vítima da dificuldade a que me reporto, mas buscando libertar os irmãos doentes do hábito infeliz, como quem se dedica às árvores por amor e por amor liberando-as de parasitas que lhes destruiriam a existência. O assunto é vasto e não se harmoniza com a expressão informal destas notícias.

Envio igualmente lembranças ao Márcio, Rodrigo, ao Nélio e tantos amigos outros que prosseguem na galeria de minhas melhores recordações. O nosso Gú, por exemplo, me recomenda seja dito ao Arthur, Luizinho (Lu), ao Déco, à Paula, com muito afeto para Xandi e outros corações amigos, que deseja a todos muita felicidade e sucesso nos planos para o futuro. E a nossa querida Tata, por sua vez, lhe pede comunicar a sua afeição permanente às amigas Cecilinha, Roberta, Fernanda, Patrícia e a todas as demais que lhe partilharam a convivência. Os elos do coração não desaparecem.

A sua ligação, papai, com os nossos amigos Renê e D. Yone me fortalecem o companheirismo com o Renezinho e juntos debatemos afetuosamente os temas da comunicação com os que ficaram no mundo físico, ao mesmo tempo que tentamos insuflar coragem e serenidade em muitos dos nossos irmãos de faixa etária que vão chegando à Espiritualidade, quase sempre sob o signo da violência ou da impetuosidade. O trabalho é imenso e ninguém realiza a sós essa ou aquela tarefa que demande o bem e o reconforto de muitos.

Como pode ver, as suas melhoras são também as nossas. À medida que o seu espírito enérgico se restaura para continuar atento ao trabalho em nosso escritório e em dia com as nossas obrigações sociais, nosso grupo aqui se refaz nas mesmas circunstâncias. Bendita seja a fé que lhe alicerçou o caráter de homem de bem.

A mãezinha Vânia e a vovó Julieta ou nossa querida Dona Júlia lhes enviam muitos beijos misturados com as preces que erguemos a Deus por sua calma e resistência tanto quanto por seu otimismo e alegria. O Gú e a Tata comigo lhe rogam a paz da sua bênção. Estamos agradecidos ao ato religioso celebrado por intenção de nosso reerguimento espiritual no marco de tempo que nos indicou os seis meses da suposta separação. Todas as preces são luzes santas, e as orações que recebemos dos amigos nessa abençoada missa de luz nos fortaleceram e revivificaram para nos recordarmos sempre de Jesus, o divino e desconhecido Mensageiro de Deus que nos legou os santos princípios do túmulo vazio, com a sua própria ressurreição.

Pai querido, que Ele, o nosso Divino Mestre, nos abençoe. Com muitas saudades entretecidas de esperanças, e com essa ligação abençoada com que a sua fé em Deus construiu essa ponte de amor em que nos reencontramos, acima das sombras que envolvem a morte, depõe um beijo de respeitoso carinho em suas mãos o filho reconhecido, sempre seu



a) Chico Xavier


NOTAS E IDENTIFICAÇÕES


19 — Carta psicografada pelo médium Francisco C. Xavier, no dia 14/5/1980, em Uberaba/MG.


20 — Mãezinha Vânia — D. Ivanir, sua mãe, era assim chamada na intimidade familiar.


21 — Vovó Júlia — D. Julieta, sua avó materna, era assim chamada pelos netos.


22 — Os esclarecimentos nos alcançavam a mente, relacionando os assuntos para nós plenamente inesperados e novos da reencarnação. — Somente a Lei da Reencarnação, ou das Vidas Sucessivas, elucida-nos as aparentes injustiças da vida humana. Ela permite a execução da verdadeira e sábia justiça, a Justiça Divina, que visa a felicidade e o progresso espiritual de toda a Humanidade. (Ver O Livro dos Espíritos, 2ª parte, Cap. 4; e O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 4, ambos de Allan Kardec.)


23 — Painéis do passado foram trazidos à nossa visão. (…) todos nós, criaturas materialmente visíveis nos contextos sociais do mundo, possuímos raízes psicológicas que nos marcam de muito longe. — Estamos diante de perfeito esclarecimento de um fato vinculado à Lei da Ação e Reação. (Ver O Livro dos Espíritos, 4ª parte, Cap. 2; e O Evangelho Segundo o Espiritismo, Cap. 5.


24 — Jorge, Chúfalo, Lecínio, José Carlos e Carlos Antônio Albaceto — ex-colegas de Nestorzinho, da Faculdade de Medicina de Mogi das Cruzes.


25 — De minha parte, não me desinteresso da intenção de cooperar na campanha antitóxicos. — Em face do profundo intercâmbio entre os dois mundos, material e espiritual, com os problemas daqui refletindo /á, é muito natural a preocupação de Nestorzinho por tão grave questão.


26 — Márcio, Rodrigo, Nélio — amigos de Nestorzinho.


27 — — apelido familiar do seu irmão Gustavo.


28 — Arthur, Luizinho (Lu), Déco, Paula, Xandi amigos do Gú.


29 — Tata — apelido familiar da sua irmã Sâmadar.


30 — Cecilinha, Roberta, Fernanda, Patrícia — amigas da Tata.


31 — Nossos amigos Renê e D. Yone — O casal Renê e Yone Strang.


32 — Esta carta foi publicada, na íntegra, pelo jornal Diário de Noticias, de Ribeirão Preto, SP, 25/5/1980, em reportagem que preencheu toda uma página, ilustrada com uma foto da família Macedo.


Hércio Arantes



Nestorzinho 

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