Emmanuel
Versão para cópiaOs dogmas e os preconceitos
Os maiores obstáculos, para que se propaguem no seio das sociedades modernas os ensinamentos salutares e proveitosos do Consolador, são constituídos pelas imensas barreiras que lhes levantam os dogmas e preconceitos de todos os matizes, nas escolas científicas e facções religiosas, militantes em todas as partes do Globo.
Muitos Espíritos, afeitos ao tradicionalismo intransigente e rotineiro, são incapazes de conceber a estrada ascensional do progresso, como de fato ela é, cheia de lições novas e crescentes resplendores; é assim que, completando as longas fileiras de retardatários, perturbam, às vezes, a paz dos que estudam devotadamente no livro maravilhoso da Vida, com as suas opiniões disparatadas, prevalecendo-se de certas posições mundanas, abusando de prerrogativas transitórias que lhes são outorgadas pelas fortunas iníquas.
Não conseguem, porém, mais do que estabelecer a confusão, sem que as suas mentes egoístas tragam algo de belo, de novo ou de verdadeiro, que aproveite ao progresso geral. Seus trabalhos se prestam unicamente às suas experiências pessoais nos domínios do conhecimento, não conseguindo viver na memória dos pósteros, porquanto a veneração da posteridade é uma galeria gloriosa reservada, quase que invariavelmente, aos que passaram na Terra perseguidos e desprezados, e que se impuseram à Humanidade ofertando-lhe generosamente o fruto abençoado dos seus sacrifícios imensos e das suas dores incontáveis.
Desalentadoras são as características da sociedade moderna, porque, se a coletividade se orgulha dos seus progressos físicos, o homem se encontra, moralmente, muito distanciado dessa evolução. Semelhante anomalia é a consequência inevitável da ignorância das criaturas, com respeito à sua própria natureza, desconhecimento deplorável que as incita a todos os desvios. Vivendo apenas entre as coisas relativas à matéria, submergem nas superficialidades prejudiciais ao seu avanço espiritual. Ignoram, quase que totalmente, o que sejam as suas forças latentes e as suas possibilidades infinitas, adormecendo ao canto embalador dos gozos falso do “eu pessoal”, e apenas os sofrimentos e as dificuldades as obrigam a despertar para a existência espiritual, na qual reconhecem quanta alegria dimana do exercício do Bem e da prática da virtude, entre as santas lições da verdadeira fraternidade.
Infelizmente, se a Ciência e a Religião constituem as forças matrizes de esclarecimento das almas, vemos uma empoleirada na negação absoluta e a outra nas afirmações arriscadas e absurdas. A Ciência criou a academia, e a religião sectarista criou a sacristia; uma e outra abarrotadas de dogmas e preconceitos, repelindo-se como pólos contrários, dentro dos seus conflitos têm somente realizado separação em vez de união, guerra em vez de paz, descrença em vez de fé, arruinando as almas e afastando-as da luz da verdadeira espiritualidade.
Entre a força de um preconceito e o atrevimento de um dogma, o espírito se perturba, e, no círculo dessas vibrações antagônicas, acha-se sem bússola no mundo das coisas subjetivas concentrando, naturalmente, na esfera das coisas físicas, todas as suas preocupações.
É por essa razão que de grandes responsabilidades se investem aqueles que se entregam na Terra aos labores espirituais sob todos os aspectos em que se nos apresentam; grandes serviços constam de suas incumbências e elevada conta lhes será solicitada dos seus afazeres sobre a face do planeta. Dolorosas decepções os aguardam na existência de além-túmulo, quando menosprezam as suas possibilidades para o bem comum, fazendo de suas faculdades intelectuais objeto de mercantilismo, em troca de prebendas, as quais, augurando-lhes um porvir de repouso egoístico na vida transitória fazem estacionários e nocivos às coletividades, o que equivale a existências de provas amargas, entre prolongadas obliterações dos seus poderes de expressão.
Não é que o artista e o pensador devam aderir a este ou àquele sistema religioso, ou alistar-se sob determinada bandeira filosófica; o que se faz mister é compreender a necessidade da tarefa de espiritualização, trabalhando no edifício sublime do progresso comum, colaborando na campanha de regeneração e de reforma dos caracteres, auxiliando todas as ideias nobres e generosas, em qualquer templo, facção ou casta em que vicejem, espiritualizando as suas concepções, transformando a ação inteligente num apelo a todos os Espíritos para a perfeição, desvendando-lhes os segredos da beleza, da luz, do bem, do amor, através da arte na ciência e na religião, em suas manifestações mais rudimentares.
Que todos operem na difusão da verdade, quebrando a cadeia férrea dos formalismos impostos pelas pseudo-autoridades da cátedra ou do altar, amando a vida terrena com intensidade e devotamento, cooperando para que se ampliem as suas condições de perfectibilidade, convencendo-se de que as suas felicidades residem nas coisas mais simples.
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