Capítulo XVI

As vidas sucessivas e os mundos habitados


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Alguns estudiosos, há muitos séculos, guardam as verdadeiras concepções do Universo, o qual não se encontra circunscrito ao minúsculo orbe terreno e é representado pelo infinito dos mundos, dentro do infinito de Deus.

Não obstante as teorias do sistema geocêntrico, que encarava a Terra como o centro do grupo de planetas em que vos encontrais, a ideia da multiplicidade dos sóis vinha, de há muito, animando o cérebro dos pensadores da antiguidade.

Apesar da objetiva dos vossos telescópios, que descortinam, na imensidade, “as terras do céu”, julga-se erradamente que apenas o vosso mundo oferece condições de habitabilidade e somente nele se verifica o florescimento da vida.

Infelizmente, são inúmeros os que duvidam dessa realidade inconteste, aprisionados em escolas filosóficas que pecam pelo seu caráter obsoleto e incompatível com a evolução da Humanidade, em geral.

É que não reconhecem que a Terra minúscula é apenas um ponto obscuro e opaco no concerto sideral, e nada de singular existe nela que lhe outorgue, com exclusividade, o privilégio da vida; em contraposição aos assertos dos negadores, podeis notar, cientificamente, que é mesmo, em vosso plano, o local do Universo onde a vida encontra mais dificuldades para se estabelecer.



Grande é a tortura dos seres racionais que, no mundo terráqueo, buscam guarda para as suas aspirações de progresso, porquanto, do berço ao túmulo, suas existências representam grande soma de esforços combatendo com a Natureza inconstante, com as mais diversas condições climatéricas, arrasadoras da saúde e causas de um combate acérrimo da parte do homem, porque não lhe é possível viver em afinidade perfeita com a Natureza submetida às mais bruscas mutações, sendo obrigado a criar a sua moradia, organizar a sua habitação, que representa, de fato, a sua escravidão primeira, impedindo-lhe uma existência cheia de harmonia e espontaneidade.

O vosso mundo vos obriga a uma vida artificial, já que sois obrigados a buscar, quotidianamente, o sustento do corpo que se gasta e consome nessa batalha sem tréguas. Nele, as mais belas faculdades espirituais são frequentemente sufocadas, em virtude das mais imperiosas necessidades da matéria.



Que se calem os que puderem descobrir a vida apenas em vossa obscura penitência de náufragos morais.

Por que razão a Vontade Divina colocaria na amplidão essas plagas longínquas? Enxergar nesses mundos distantes somente objetos de estudo da vossa Astronomia é um erro; eles estão, às vezes, regulados por forças mais ou menos idênticas às que controlam a vossa vida. Em sua superfície observam-se os fenômenos atmosféricos e outros, cuja explicação é inacessível ao vosso entendimento. Porque os formaria o Criador para o ermo do silêncio e do deserto? Podereis conceber cidades bem construídas, abarrotadas de tesouros e magnificências, apodrecendo sem habitantes?

Há mundos incontáveis e muitos deles formados de fluidos rarefeitos, inatingidos, na atualidade, pelos vossos instrumentos de ótica.



A Terra não representa senão um detalhe obscuro no ilimitado da Vida, região da amargura, da provação e do exílio; constituindo, porém, uma plaga de sombras, varrida, muitas vezes, pelos cataclismos do infortúnio e da destruição, deve representar, para todos quantos a habitam, uma abençoada escola, onde se regenera o Espírito culpado e onde ele se prepara, demandando glorioso porvir.

Significa um dever de todo homem o trabalho próprio, no sentido de atenuar as más condições do seu meio ambiente, aplainando todas as dificuldades de ordem material e moral, porquanto a evolução depende de todos os esforços individuais no conjunto das coletividades.

Forças ocultas, leis desconhecidas, esperam que a alma humana delas se utilize e, à medida que se espalhe o progresso moral, mais os homens se beneficiarão na fonte bendita do conhecimento.



Para a humanidade terrestre a revelação de outras pátrias do firmamento, fragmentos da Pátria Universal, não deve constituir uma razão para desânimo de quantos se entregam aos labores profícuos do estudo. Os desequilíbrios que se verificam no orbe terreno obedecem a uma lei de justiça, acima de todas as coisas transitórias; e, além disso, a primeira obrigação de todo homem é colaborar, em todos os minutos de sua passageira existência, em prol da melhoria do seu próximo, consciente de que trabalhar a benefício de outrem é engrandecer-se.

O conhecimento das condições perfeitas da vida, em outros mundos, não deve trazer abatimento aos extremistas do ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano de sagrados estímulos.

Saudai, pois, o concerto da vida, do seio dos vossos combates salvadores!…

Sóis portentosos, luzes policrômicas, mundos maravilhosos, existem embalados pelas harmonias que a Perfeição eleva à Entidade Suprema!…

Além do Grande Cão, da Ursa, de Hércules, outras constelações atestam a grandeza divina. Os firmamentos sucedem-se ininterruptamente nas amplidões etéreas, mas a Humanidade para Deus, é uma só e o laço do seu amor reúne todos os seres.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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