Capítulo XXV

Os poderes do Espírito


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Grande será o dia em que todos os homens reconhecerem sobre a matéria a soberana influência do Espírito.

Toda a imensa bagagem de progresso das civilizações não se fez sem o princípio espiritual: dele, as menores coisas dependeram, como ainda dependem; do seu reconhecimento, por parte de quantos habitam o orbe, advirão os resplendores da época de luz e de esclarecimento.

Esse tempo há de assinalar a época da crença pura e reconfortadora das almas, como manancial de esperanças; só esse surto de espiritualidade pode vivificar as construções religiosas, combalidas atualmente pelos abusos da grande maioria dos seus expositores, que, traindo os seus compromissos, se desviaram do píncaro luminoso do exemplo para o chavascal de mesquinhas materialidades.



Nos últimos tempos, a sede humana de saber o que existe além da Terra tem feito com que o homem engendre as mais fantasiosas teorias concernentes aos mistérios do ser e do destino, sobre o orbe terreno; no afã de estraçalhar os véus espessos que cobrem os enigmas da sua evolução, muitos foram os que descambaram para terrenos perigosos, onde encontram, apenas, os espinhos do ateísmo dissolvente. Esses Espíritos que, torturados com os problemas da vida, aí se entregam à criação de engenhosos sistemas, afiguram-se-nos desesperados à porta da sabedoria, orgulhosos na sua impotência e na sua incapacidade.

Muitos deles, anos e anos, persistem no mesmo trabalho e no mesmo esforço, alegando não terem encontrado o Espírito em suas indagações científicas, abandonando a vida material com um passado que os enobrece pela atividade, bem intencionada, por eles despendida, mas desolados, em reconhecendo infrutuosos os seus esforços, que outra coisa não conseguiram senão lançar a descrença e a confusão nas almas.



Reconhecem, então, a insuficiência sensorial que lhes obstava a compreensão do verdadeiro panorama da vida, no seu desdobramento universal; sentem a exiguidade dos sentidos do homem carnal e a relatividade de suas funções, ao penetrarem no domínio de vibrações que se lhes conservaram inacessíveis, chegando à conclusão de que as filosofias não podem ser substituídas pelas ciências positivas, e que sobre o mundo físico e objetivo paira uma região transcendente, onde a investigação não se pode fazer sentir, à falta de elementos de ordem material.



É inútil a tentativa de afastamento do Espírito na obra da evolução terrena. É ele, desde os primórdios da civilização, a alma de todas as realizações; e indestrutível é a doutrina biológica do vitalismo, porque o sistema do monismo e do mecanicismo da seleção natural, se satisfazem a algumas questões insuladas, não resolvem os problemas mais importantes da vida.

O princípio das espécies, a origem dos instintos, as organizações primitivas das raças, das sociedades e das leis, só as teorias espiritualistas explicam satisfatoriamente.



Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito, no tocante às questões fisiológicas como sejam as dos fenômenos osmóticos, a autonomia de certos órgãos que parecem independentes na sua ação dentro do organismo, o trabalho da célula que fabrica a antitoxina apta a destruir o micróbio que a ataca, a estrutura do princípio fetal, os sinais de nascença que a Ciência tem negado baseando-se na ausência de ligação nervosa entre o feto e o organismo materno, desçamos ao mundo zootécnico. Somente a intervenção do princípio espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o mimetismo, como o embrião dos instintos e das possibilidades do futuro. Tudo, nos domínios da matéria, se concatena e se reúne, sob a orientação de um princípio estranho às suas qualidades amorfas.



A matéria não organiza, é organizada. E não representa senão uma modalidade da energia esparsa no Universo. Os seus elementos não fazem outra coisa senão submeter-se às injunções do Espírito; e é a soberana influência deste último que elucida todos os problemas intrincados dos seres e dos destinos. É ao seu apelo, cedendo aos seus desejos, que todas as matérias brutas se vêm rarefazendo, oferecendo aspectos novos e delicados. A civilização, as conquistas científicas e as concepções religiosas representam o fruto dos labores dos Espíritos que, na Terra, se iniciaram nos trabalhos que regeneram e aperfeiçoam. O que lhes compete, na atualidade, é o não estacionamento nos domínios conquistados, laborando para que os ideais de justiça, de verdade e de paz se concretizem na face do orbe. É nessa tarefa bendita que devem concentrar os seus esforços para que o planeta terrestre não veja sucumbir, na aluvião de insânias das guerras, o seu patrimônio de progressos, obtidos à custa de trabalhos penosos e ingentes sacrifícios.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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