Encontro de Paz

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Capítulo X

Poema da disciplina


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Ao Homem Triste que se rebelara

Contra as imposições da disciplina

Deus permitiu que ele pudesse

Escutar, de surpresa,

As notas e lições da Natureza,

No âmbito de sala pequenina.


Contrariando as queixas que lhe ouvira,

Disse-lhe grande mesa:

— Eu fui, aos ares livres da floresta,

Um palácio vibrante em júbilos de festa,

Entre ninhos e pássaros cantores!

Que músicas de paz!… Que beleza de flores!…

Veio, porém, um dia,

Um homem de machado…

Decepou-me sem dó!…

E depois de entregar-me à serraria,

Onde amarguei desprezo, lama e pó,

Vendeu-me para outro companheiro…

Era um singelo carpinteiro

Que me malhou durante muitas horas,

Para que eu seja a mesa em que te escoras!…


O mármore do piso

Exclamou, de improviso:

— Adorava meu berço em formosa montanha!…

A minha independência era tamanha

Que não sei descrever!…

Descendente de lindas pedras raras,

Formamo-nos em séculos de luta…

Um homem, certa vez, descobriu-nos a gruta,

Separou-me dos meus,

À força me arrastou sobre os seus próprios passos,

Conduziu-me à oficina,

Fez-me em vários pedaços…

Depois disso, vim eu, de revés em revés,

Até fazer-me escravo e servir aos teus pés…


A lâmpada informou sem pretensão:

— A fim de combater a escuridão

E doar-me em vida e luz,

Sem o menor desvio,

É necessário que me ajuste ao fio

Que me guarda e conduz!…


Um belo jarro à frente,

Esclareceu, humildemente:

— Fui um bloco de argila,

Sossegado e feliz numa gleba tranquila!…

Quando fazia sol

Adorava mirar as borboletas

E sentir os perfumes

De próximo jardim…

E, à noite, admirava os vaga-lumes

Que acendiam lanternas para mim…

No entanto, certa feita,

Valente caçador de barro fino

Arrancou-me do lar e mudou-me o destino…

A calor desumano, em fúria desumana,

Que enlouquece e que arrasa,

Mumificou-me em fria porcelana

Para enfeitar-te a casa!…


Nisso, falou antiga porta:

— Nunca pude viver como quisera,

Devo permanecer em todo instante, à espera

De ordenações e impulsos que me dás…

A fim de resguardar-te os bens e garantir-te a paz,

Protegendo-te a vida,

Cabe-me obedecer e sempre obedecer

Para cumprir contigo o meu próprio dever!…


Houve silêncio e o Homem transformado

Fitou, lá fora, o chão recentemente arado,

Depois ergueu o olhar para os astros distantes

E exclamou para os Céus,

Em êxtase profundo:

— Sê bendito, Senhor,

Pela escola do Mundo!…

Tudo o que serve, apoia, aprimora e ilumina,

Tudo o que a evolução entesoura e contém,

Vejo agora na luz da disciplina!…

Ajuda-me a servir para o Infinito Bem!.…

Valoriza, Senhor, os dias meus

E por tudo o que a vida me oferece

Seja no dom da fé por bênção que me aquece,

Ou na fonte do amor que me renova e ensina,

Obrigado, meu Deus!…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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