Entes Queridos

Versão para cópia
Ilustração tribal

Prefácio de Emmanuel


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Vários escritores da Terra, em se referindo às mensagens do Mais Além, costumam indagar com humor:

— “Se o campo terrestre está repleto de provações, por que os mortos voltam aos lugares em que viveram? Não encontraram, porventura, mundos melhores que o nosso? Por que tamanha vinculação dos Espíritos desencarnados com a vida física? Por quê?”

Acontece que a pessoa desenfaixada do corpo físico, assim qual ocorre às criaturas humanas, tem a vida onde se lhe situa o coração.


É possível que milhares de seres, em se descartando do corpo denso da Terra, aspirem a conquistar novos estágios de progresso, em outros orbes ou em esferas outras de atividade espiritual, que se marcam por mais amplos característicos de elevação, mas, no tempo justo de semelhante mudança, refletem nos entes queridos que ainda permanecem na experiência terrestre.

E indagam de si próprias: seriam felizes em novos céus, sem a companhia daqueles aos quais se reconhecem ligados pelos sentimentos mais nobres? Como deixá-los ao sabor das provações em que jazem desfalecentes, quando se lhes faz possível estender-lhes as mãos no socorro ansiosamente esperado? Se atingiram a luz de que modo esquecer os entes amados, ainda nas trevas? Ser-lhes-ia correto abandonar as pessoas que lhes invocam a intercessão e a defesa, corações que, na Terra, lhes consagraram especial carinho?

Daí nasce nos Espíritos, relativamente evoluídos e felizes, a vinculação com os Círculos de experiência física, às vezes, por tempo indeterminado.

Sentem-se impelidos a despertar as afeições de ontem para a esperança e para o bom ânimo de que necessitam para buscar o futuro melhor.


Leitor amigo, pelas razões expostas é que te ofertamos, com atencioso apreço, o presente livro que consubstancia o testemunho despretensioso do amor com que se interligam os entes amados que partiram ao encontro da Espiritualidade Maior e os que permanecem, no Plano Físico, evidenciando, mais uma vez, o espírito de sequência que preside as ocorrências da evolução e a certeza de que, com a perenidade da alma, o amor é também a nossa luz imortal.



Uberaba, 12 de setembro de 1982.



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier

Apresentação


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Entes Queridos apresenta em suas linhas gerais estrutura semelhante a Adeus, solidão, anterior lançamento GEEM.

Catorze autores espirituais, cada qual com seu testemunho próprio, dialogam com os familiares e extensivamente com todos nós, relatando suas vivências no Mais Além, após a desencarnação.

E, para cada Espírito, o leitor encontrará o correspondente depoimento de familiares, relatando-nos de que modo a mensagem psicografada ecoou em seus corações saudosos.

Destacamos o nosso reconhecimento aos atenciosos entes queridos de nossos autores espirituais pela solicitude, atenção e carinho com que nos receberam, fornecendo-nos os esclarecimentos necessários à organização deste livro.


São Bernardo do Campo, 12 de setembro de 1982.



Caio Ramacciotti
Francisco Cândido Xavier

Mensagem


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São Paulo (SP) — 17 de agosto de 1957.

São Paulo (SP) — 19 de fevereiro de 1980.

Filho de Nélson Camargo Dantas e de Alice de Castro Dantas. Nélson desencarnou aos 22 anos, no carnaval de 1980, quando seu veículo foi tragado pelas águas do Rio Tamanduateí, bastante elevadas, em função de torrenciais chuvas que desabaram sobre São Paulo naquela época, fazendo com que o curso do rio extravasasse de seu leito normal.

Seu grupo familiar é constituído também pela irmã, Maria Cristina Dantas Janssen, casada com Philips Janssen e pelos sobrinhos, André e Camila, todos lembrados pelo Nélson na mensagem recebida por Francisco Cândido Xavier.


ALAVRAS DOS PAIS DO COMUNICANTE


“Embora tenhamos muita saudade daquele menino maravilhoso, sua carta nos devolveu a vontade de viver. Recomeçamos a vida com a certeza de que não perdemos o filho querido que continua conosco, junto de nossa filha, do genro e dos netinhos.”

Alice e Nélson de Camargo Dantas

ENSAGEM


Querida mãezinha Alice e querido papai Nélson, peço para que me abençoem.

Este é um momento que vivo solicitando sem esperar. No entanto, o instante está para o meu anseio e devo escrever pelo modo que se me faça possível.

Não sei o que se passa. Quero manter-me sereno, mas será possível o reencontro assim, entre um filho e os pais que ama tanto, sem que as lágrimas atinjam o papel antes das palavras? Penso que, em meu caso, isso não seria possível.

Lembro-me de todas as minudências que nos precederam a separação. Depois dos acontecimentos amargos, concluí que a chamada morte possui muitos meios de se fazer sentir…

Às vezes, está num jardim que a gente visita para entretenimento, num trecho de caminho em que duas dificuldades se encontram, na merenda que se usufrui num passeio, na companhia de um amigo de cujos passos estejamos compartilhando…

Para mim, lembre-se a querida mamãe, a morte estava num tilintar de telefone… Era um convite para uma festa de corações amigos. Não consegui recusar. Lembrei-me de que havia recebido palavra de meu pai especialmente quanto ao carro para servir. Acedi e fui ao encontro das jovens que apelavam para mim.

Não compreendi a secreta intuição de que me ausentava para assunto grave, porque beijei a mamãe como se fosse fazer uma viagem longa. Ela própria se admirou e pousou em mim o olhar interrogativo.

Depois foi a noite, os minutos de paz e intimidade e, em seguida, a chuva torrencial. Retomando o veículo, notei que deveríamos adotar o melhor caminho, seguindo vagarosamente. Não me faltou cuidado. Afinal, não me achava a sós. Em minha companhia, estavam a Cleide, a Bete e a Cármem…

Seguíamos com calma, no entanto, as águas se acumulavam nos recantos. Tive receio que as correntes alcançassem o motor e diligenciei quanto pude para atenuar os obstáculos.

Mas, em meio da marcha que se tornava difícil, um ônibus apareceu e vibrou de modo estranho na massa líquida… Aquele impacto de força nos deslocou o carro amigo e seguro, atirando-o para o rio…

O Tamanduateí havia desaparecido no dilúvio que submergia o piso da ponte próxima e fomos desviados para o corpo do rio, sem que nos apercebêssemos disso…

Recordo o espanto de Elizabete, ao descobrir que a nossa condução tentava planar inutilmente. Ela foi a primeira a alertar-nos quanto ao perigo e dispôs-se a nadar, auxiliando-nos. Junto da irmã, começaram a saída, no entanto, Cleide e eu tivemos a esperança de que o carro conseguisse sobrenadar e demoramo-nos um tanto…

Foi o bastante para distanciar-nos das companheiras e, de mãos entrelaçadas, compreendemos que nos restava unicamente a rendição à vontade de Deus.

Não sei se consegui rezar, embora minha intenção incluísse semelhante dever. Sei apenas que apoiados no veículo que submergiu, sentimo-nos ambos sufocados, sem qualquer possibilidade de reação…

Até aí, conto o que nos sucedeu… Depois foi a exaustão e com a exaustão um sono invencível.

Quanto tempo estive nesse estado de inconsciência, não consigo imaginar…

Um momento surgiu em que me apossei do próprio raciocínio. Achava-me fatigado, respirando dificilmente qual se estivesse sob o domínio de um edema desconhecido para mim. Tanta vida me assinalava o pensamento que era impossível crer na morte.

A ideia de um posto de emergência para socorro imediato me veio à cabeça, mas isso se desfez quando a senhora de semblante suave, que me velava junto ao leito alvo, se confessou a mim, afirmando-me ser a vovó Ernestina, enquanto que outra criatura amiga me aplicava remédios e balsamizantes e esclarecia que me achava diante de nossa Ana, zeladora e parenta do coração, a quem devo tanto…

A percepção de que me achava em outra vida não foi para mim uma tempestade de revolta, mas foi um aguaceiro de lágrimas.

Queria vê-los, pais queridos, e rever a nossa Maria Cristina, tentando informar-me igualmente sobre o destino das companheiras que me haviam partilhado a difícil experiência…

Entretanto, com que voz haveria eu de manter o diálogo desejado? Chorei à feição do menino desterrado de casa e, depois, à medida que me conscientizava quanto à nova situação, via e ouvia as indagações e os gestos da mamãe, do papai, da vovó Ignez, de Maria Cristina e de todos os nossos…

Não preciso alongar-me sobre as emoções que me dominaram. Penso que somente agora consigo liberar as derradeiras inquietações em lhes transmitindo minhas notícias. Peço-lhes serenidade e conformação.

A vida oferece a cada um de nós determinada porta de acesso ao mundo físico e para cada pessoa traça uma saída diferente…

Sabe a Lei de Deus porque me vi com a Cleide na hora extrema, descendo à profundidade de um rio quando nos acreditávamos no chão.

Rogo à mãezinha Alice não se afligir porque haja ficado a minha roupa encharcada no curso do rio, sem meios de voltar para alguma lavanderia…

A verdade é que já nos encontrávamos fartos de tanta água e, decerto por isso, fui liberado da aflição de causar maiores aflições à família.

Um corpo físico, de algum modo, é semelhante à vestimenta. Ninguém suponha que isso seja um sinal de lástima.

Volto, em Espírito, aos meus entes amados e isso é o que me interessa. Graças a Deus, com exceção das saudades, vou seguindo na recuperação necessária. Rogo aos pais queridos me auxiliarem com a certeza de que estou vivendo em outras dimensões da existência.

Já sei que a nossa Maria Cristina tem feito grande progresso, organizando uma família nova e que Elizabete e Cármem não foram chamadas à Vida Espiritual como ocorreu comigo e com a Cleide e peço a Jesus para que tudo esteja reajustado em nosso ambiente familiar e nos grupos de nossos amigos. A Cleide foi acolhida por dedicados familiares dela e, de minha parte, inicio nova caminhada…

Mãezinha Alice, não chore mais por seu filho, embora não consiga ainda lembrá-la sem que a saudade me aperte o coração, mas os nossos Benfeitores daqui nos auxiliarão.

Agradeço ao papai Nélson o auxílio com que nos fortalece com o seu valor de sempre. Um beijão à irmã querida, ao irmão que se lhe fez o pai de um tesouro de carinho, com lembranças a todos os amigos.

E para os pais queridos deixo nesta carta o coração reconhecido e esperançoso do filho que tanto lhes deve e que roga a Deus conservá-los felizes sempre e sempre.

Abraços de muito amor e gratidão do

Nelsinho

30 de janeiro de 1981.



Alice e Nélson de Camargo Dantas
Francisco Cândido Xavier

Haroldo Soares Portella


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Rio de Janeiro (RJ) — 26 de janeiro de 1915.

Catalão (GO) — 12 de abril de 1979.

Técnico de Administração, funcionário aposentado do Ministério da Aeronáutica, Haroldo Portella faleceu em acidente rodoviário próximo de Catalão, Estado de Goiás, quando com a esposa e netos se dirigia a Brasília.

A esposa, Nadir Soares Portella, reside no Rio de Janeiro e a filha, Sra. Hadir Portella Almeida, casada com o Oficial da Marinha, José Ubirajara Silva Almeida, reside na Capital Federal.

O casal possuía outra filha, Clícia Soares Portella, que desencarnou no Rio de Janeiro, em 1950, aos oito de idade.


PALAVRAS DA ESPOSA DO COMUNICANTE


“Com a mensagem, Chico Xavier devolveu-me as muletas que eu perdera, mostrando que “meu velho” saiu para uma longa viagem, mas não se esqueceu de mim. Renasci, senti novamente vontade de viver.”


Nadir Soares Portella

MENSAGEM


Querida Nadir, meus pensamentos se concentram em oração, pedindo a Jesus lance sobre nós sua Bênção de Paz.

Venho até você, rogar a sua aceitação da lei que nos separou naquela noite de despedida compulsória.

Peço a você, mas peço com toda a força de minha confiança, não se associar a qualquer ideia de culpa. Quando procuramos por nossos rapazes na Academia, eu mesmo desejava a continuação da viagem. Não me inclinava para qualquer delonga, fosse em Pirassununga, fosse em Ribeirão, como, a princípio, se cogitou.

É que o meu encontro-desencontro com o “até breve” estava marcado. Não digo “até breve”, admitindo que você possa vir cedo para cá, porquanto, precisamos de sua presença junto dos nossos por muito tempo, o meu “até breve” substitui a palavra morte que passei a não admitir em nosso vocabulário.

Aqui, a vovó Alba e a nossa querida benfeitora Adelaide Maria, foram precisas nas informações.

Quando não provocamos conscientemente a abertura do portão para a Vida Espiritual, agindo na leviandade de um passageiro clandestino que penetrasse o avião sem os necessários documentos, a vinda para cá é sempre um acontecimento imprevisto.

Peça calma à nossa Hadir que, afinal de contas, é um pedaço de nossos melhores sonhos com o “H” do Haroldo e o “Adir” de você mesma.

Rogue à nossa filha, esforçar-se por lavar da mente dos nossos netos qualquer ideia de lamentação ou de culpa, injustificável em qualquer de nós.

Ficaria muito feliz, vendo o Antônio José e o José Eduardo retornando, em definitivo, à vida normal, com a melhor preparação ante o futuro, porque, em verdade, os acidentes estão aí no mundo por toda parte e, não seríamos nós, quem os haveria de evitar.

Se voltei para cá numa ocorrência dessas, rendamos Graças a Deus, porque tenho aprendido aqui que, se fosse vítima de uma longa parada cardíaca, seria constrangido a suportar vários anos de invalidez.

Aí no mundo, habituamo-nos a ver os fatos unicamente através da periferia, mas se soubéssemos descer às essências de quanto nos acontece, acabaríamos mais tranquilos e mais reconhecidos a Deus, fosse qual fosse o problema com que nos víssemos defrontados.

Peço à nossa Hadir, em nome de nossa Taninha, para sossegar o coração e permanecer na constância da fé. Os templos fazem diferença mínima ou nenhuma. Qualquer que seja a confissão religiosa para a qual a nossa querida filha se incline, ela não deixará de ser de Deus e de ser igualmente nossa, porque o nosso amor por ela e por todos os nossos é a paz com a certeza de que estamos todos submetidos às leis de Deus que em nós ou fora de nós precisam ser cumpridas.

Querida Nadir, espero que as minhas palavras funcionem por bisturi amigo, retirando de sua cabeça ideias que não mostram qualquer razão de ser. Fique tranquila e confiante em Jesus, como sempre.

Enviando o paternal abraço para a filha querida e considerando-se na presença de todos os nossos, beija a sua face querida com o carinho e a confiança de todos os momentos, o seu Velho companheiro, esposo, irmão e amigo que continua pedindo aos Céus por sua felicidade.

Sempre o seu,

Haroldo

20 de junho de 1980.



Nadir Soares Portella
Francisco Cândido Xavier

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