Entes Queridos
Versão para cópiaFrancisco Adonias Nogueira Filho
Fortaleza (CE) — 21 de abril de 1960.
Cratéus (CE) — 15 de agosto de 1978.
Filho de Francisco Adonias Nogueira e de Evangelina Soares Rosa, suicidou-se, aos dezoito anos, em Cratéus, Estado do Ceará, cidade onde residia, em companhia da avó materna, Ester.
Dele, temos notícia de dois irmãos: José Cardoso Rosa Neto e Marco Antônio Soares Rosa Nogueira.
A MÃEZINHA DO COMUNICANTE
Dona Evangelina escreveu comovedora carta ao organizador do presente volume, aceitando a autenticidade da mensagem do filho que muito conforto, segundo expressão dela própria, lhe trouxe ao coração materno e tecendo comentários importantes sobre as notícias psicografadas, documento este que foi arquivado em departamento especializado da Editora.
ENSAGEM
Querida mamãe Evangelina e querida vovó Ester, estou aqui, na condição do filho que volta, a fim de lhes pedir perdão.
Vovó querida, desculpe-me pelo que fiz em Cratéus, quando a sua bondade estava pronta, a fim de me defender e proteger constantemente. Não sei porque a ausência de meu pai me conturbou tanto…
Pensava, pensava e não me vinha uma saída ao pensamento. Fiquei sem coragem, vencido.
A vida me pareceu vazia, sem sentido, quando a mãezinha Evangelina e a vovó Ester esperavam tanto de mim. Ignoro que forças indomáveis me fizeram aceitar a ideia de uma corda que me pendurasse o corpo, a fim de que tudo acabasse para mim.
A verdade é que a vida não me deixou e sofri o indescritível para aprender a veneração que me cabia dedicar ao corpo que Deus me dera, através de meus pais.
Não sei de onde me veio o impulso temerário. Senti que o meu corpo balançava no espaço e que eu caía numa tremenda escuridão.
O que se passou, não tenho vocábulos para contar. Quanto tempo me arrastei naquelas sombras densas, arrependido e infeliz, não sei dizer.
Depois de um tempo que para mim teve a duração de séculos, uma voz me veio atender aos gritos de socorro…
Chorei mais ainda, ao verificar que alguém acertara comigo naquela imensidão de escuro em que me debatia. A voz me pediu paciência e oração e me afirmou que era das vovós Evangelina e Tertinha a me buscarem.
Desde então, fui hospitalizado para tratamento; no entanto, reconheço que a minha coluna se desajustou. Já comigo vêm pessoas e conversam, mas a figura da mamãe Evangelina, a sofrer por minha causa, não me sai da cabeça.
Mãe, perdoe-me. E não desanime com os meus irmãos. O José melhorará, o Marco Antônio ficará bom. E a Lívia será o nosso apoio.
Perdoe a fraqueza de seu filho, que, num momento infeliz, cedeu à sugestão do mal. Somente posso interpretar assim o que me aconteceu, porque a intenção de suicídio não me cozinhava os miolos.
Tive medo da vida, sem a presença de meu pai, mas o medo era o que eu sentia e não aquela temeridade que acabou por me perder.
Espero melhorar e auxiliar a mamãe Evangelina e apoiar os meus irmãos.
Deus nunca está pobre de misericórdia e eu espero um novo dia, no qual a minha consciência de rapaz amanheça pacificada.
Querida vovó Ester, o tio José Cardoso alcançará as melhoras precisas.
Confiemos em Deus. Agora aguardemos um tempo novo. Ainda chegarei a Fortaleza preparado para ajudar a mamãe, reparando as minhas faltas. Estou, agora, no fim de minha oportunidade para lhes deixar esta carta e ser reconduzido à instituição a que me recolheram.
Querida vó Ester e querida mamãe Evangelina, perdoem ao filho ingrato que um dia se restabelecerá para viver novamente, respeitando as Leis de Deus e amando-as cada vez mais.
15 de janeiro de 1982.
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