ENTRE DUAS VIDAS

Versão para cópia
Capítulo I

Alda Oliveira da Silveira Pinto


Temas Relacionados:

Meu querido Ismael. Nossas Preces a Deus por nossa paz e bom ânimo são constantes.

E aqui estamos numa festa de luz. Os corações unidos são estrelas, as palavras da fraternidade são bênçãos. E um caminho se descerra para todos: a estrada de união e de amor para o Mais Alto.

Quisera que todos os nossos companheiros de grupo estivessem materialmente conosco, embora saibamos que a nossa comunhão espiritual se mantém sempre intacta.

É que o júbilo é tanto que me sinto como que enlevada por uma felicidade nova — a de nos comunicarmos entre os dois Planos com a mesma confiança e a mesma ternura de nosso lar.

Realmente, nossas queridas Terezinha e Zoé, com a nossa querida Ada e os demais corações queridos que se encontram no Rio, braços afetuosos que me ampararam a fim de que eu fale a você com o carinho que a morte não conseguiu apagar.

Devo a todos eles — devemos nós dois a todos eles, — o tesouro de bênçãos do nosso intercâmbio incessante. Por isso mesmo, o meu pensamento se volta, enternecido, para as nossas reuniões abençoadas, contemplando nesta Casa de paz e fraternidade a continuação da nossa Seara de Amor e Luz.

Oh! Ismael, como agradecer a Deus tanta alegria? Rogo a você para que ambos estejamos prontos ao chamado do Senhor, que nos pede servir.

Transformemos a nossa saudade em esperança — na esperança que nos restaure as energias para trabalhar sempre mais na construção do bem.

Há três anos estamos à distância do ponto de vista físico. A separação que dói em você, dói profundamente também comigo.

A sensação de vazio, a princípio, foi para mim indisfarçável e dolorosa, mas, aos poucos, escutei com os seus ouvidos as lições de nossa fé e reconfortei-me.

Nossos Benfeitores do Alto, particularmente aquele a quem o nosso respeito identifica por nosso Irmão Maior, traziam-me para o refazimento em nosso próprio clima particular.

Para recuperar-me, meu filho, precisei do calor de sua presença, assim como a criança que inicia a existência na Terra necessita dos braços de pai e mãe…

A saudade era, então, angústia, aflição, tristeza, dor, conquanto a fé viva que nos alimentava e alimenta o caminho e o coração.

E os nossos amigos queridos, dos nossos grupos, foram meu apoio, à maneira de irmãos benditos a me suportarem, a seu lado, para a justa restauração.

Agora que nós dois atravessamos a neblina espessa, agora que um novo dia raiou para nós ambos, venho pedir a você, querido Ismael, para querer a vida terrestre assim como é, com o imposto da saudade que a morte lançou em nossa necessidade de resgate e sublimação.

Sei que você ama a vida que é sempre a vontade de Deus; no entanto, rogo a você para nos sentirmos mais juntos de modo a nos reerguermos com mais força para a certeza na sobrevivência.

Nossos filhos queridos já não são mais apenas nosso Hélio com Nazareth e os nossos netos queridos, já não é apenas a nossa Albinha, filha do coração, mas é agora toda a legião dos que sofrem nas duas vidas, a da Terra e a do Mundo Espiritual.

Desde muito, você pode observar que em nossos sonhos, em nossa Seara, em nosso grupo de casa, venho procurando a reforma íntima, no entanto, a minha admissão ao serviço dos Caminheiros do Bem me transformou de maneira fundamental.

Quando as nossas queridas amigas Dejanira e Deusarina me ofertaram aquele colar de flores, dito me foi que o emblema representava o nosso anseio de trazer frutos de caridade e trabalho, progresso e aperfeiçoamento para Jesus. E creia que se recebi essas flores, não o fiz sozinha, mas compartilhando com você de minha esperança e de minha felicidade.

Posso dizer a você que seu ingresso aos Caminheiros do Bem igualmente se verificou no mesmo instante. Somos companheiros no lar e na tarefa — estamos nós dois na estrada, porque o objetivo de nossa instituição Espiritual é receber-nos como somos, com as imperfeições que ainda trazemos para avançar operando e servindo na edificação da felicidade alheia.

Viva, sim, meu filho, viva muitos e muitos anos no corpo valioso que Jesus nos deu para os seus encargos de missionário do bem.

A separação é ilusória. Suas mãos estão nas minhas, tanto quanto o meu coração está no seu coração. Seus pensamentos terminam em meu cérebro, assim como as emoções que me tocam o espírito se completam no seu peito.

Estamos tão juntos, quais duas fontes que se reuniram imperceptivelmente, para seguirem constantemente e irreversivelmente irmanadas para o acesso à grandeza do mar.

Você e eu nunca estaremos distantes. Quem ama vive no ser amado. Esta é uma Lei de Deus.

As nossas tarefas vão crescendo e estou feliz, ou melhor, estamos felizes, imensamente felizes com isso. Creia, Ismael querido, que jamais quanto agora, me sinto assim tão unida a você para o nosso trabalho.

As organizações humanas, mesmo as mais queridas, vão passando… Mas a família maior segue aumentando e aumentando constantemente…

Hoje, os nossos amigos desamparados, os nossos enfermos sem ninguém, os companheiros da provação e as criancinhas sem lar são nossos filhos da alma…

Com isso não quero dizer que nosso Hélio e nossa Albinha jazem esquecidos… Eles estão cada vez mais vivos em meu carinho e em minha memória; entretanto, parece que a sua fé e a sua compreensão me fizeram sair de uma concha em que me isolava…

Nossos filhos são os nossos tesouros, mas penso que a nossa fé é um tesouro que Deus concedeu em nós a todos aqueles que esperam por nós, em condições mais difíceis que as nossas.

Aprendemos hoje que dar é receber e que auxiliar é investir.

Aí na Terra, tanto pensamos nisso, no sentido de garantir-nos no que se refere à tranquilidade e segurança, mas hoje, com você mesmo, vou percebendo que entregar nosso entendimento em forma de auxílio aos outros é fazer seguro de Vida Espiritual. Ajude sempre, filho do meu coração.

Aqui, a esposa é acima de tudo, também mãe. Compreendo agora com mais lucidez tudo quanto devo a você, e o meu coração se enternece não só para amá-lo cada vez mais e sempre, mas também para abençoá-lo em todos os seus passos e pensamentos.

Auxilie, e auxilie quanto puder. E se um momento aparece em que o auxílio se não veja oculto pela cortina de sombra da incompreensão, auxilie mais ainda e nunca se diga visitado por indiferença ou ingratidão.

Todos somos filhos de Deus e, nessa qualidade de filhos de Deus, nos cabe compreender-nos mutuamente. Se é preciso esquecer a neblina em que às vezes se escondem os que não nos possam aceitar ou entender, nós também fomos assim, viajores enganados pela noite da ignorância.

Quantas vezes Jesus pedia de nós entendimento e bondade, sem que pudéssemos responder? Não existem males, no sentido de delinquência. Há ilusões e nessas ilusões nós outros todos andamos.

Diga aos nossos companheiros e irmãs queridas dos nossos grupos de oração para persistirem na fé com trabalho incessante no bem.

A prece e a palavra nos traduzem a crença e a crença se nos expressa na caridade e no serviço em auxílio aos semelhantes. Nesse propósito, comecemos sempre de nós mesmos. Perdão para nós mesmos, entendimento e paciência, humildade e amor de uns para com os outros.

Peço à nossa Terezinha confiar em suas energias mediúnicas, sempre mais. A ela, à nossa Ada e à nossa Zoé, o nosso agradecimento.

Aqui se encontram muitos amigos, entre eles, nossa Marocas, a irmã Brasilina, nossos amigos Alcides e Oswaldo Santos, além de nosso Irmão Maior, que me ajuda a escrever.

Lembranças a todos, sem esquecer nossa Alba querida, com o carinho de minha saudade a todos. E a você, meu esposo e meu amigo, meu apoio e meu filho, que dizer para terminar?

Direi que continuaremos, que as nossas alegrias e as nossas lágrimas se misturam na caminhada do bem, direi que para nós a morte é o amor sem adeus.

Não mais consigo escrever, mas em pensamento e coração prossegue com você, sempre com você, a sua

Alda

(Uberaba, 17 de abril de 1971)



Sobre a mensagem que intitulamos “Amor sem Adeus”, dirigida pelo Espírito de D. Alda Oliveira da Silveira Pinto ao seu esposo que ficou no mundo, Sr. General Ismael Ribeiro da Silveira Pinto, através do médium Xavier, na noite de 17-04-1971, ao final da reunião pública da Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba, Minas, convém anotar os seguintes dados que colhemos de ligeira entrevista com o distinto amigo General Ismael, dados esses que comprovam a legitimidade do comunicado mediúnico, tal a riqueza de pormenores neles contidos.

D. Alda nasceu em Canhotinho, Estado de Pernambuco, a 8 de fevereiro de 1914, e desencarnou no Rio de Janeiro, Estado da Guanabara, a 19 de março de 1969, depois de cinco dias de internação no Hospital Central do Exército, por ter sido acometida de pancreatite hemorrágica e posterior crise urêmica, causa real do óbito.




A respeito das pessoas citadas, ouçamos as próprias palavras do destinatário da mensagem:



1) Terezinha de Castro, nossa amiga e afilhada de casamento, filha de Zoé Blattes Pinho, também nossa amiga. Amiga de reuniões sociais, em Belém do Pará, quando lá servi ao tempo da 2ª Guerra Mundial, e que lá continua, bem como suas outras filhas;


2) Ada Monteiro de Oliveira, casada com Aderbal Oliveira, irmão de Alda, minha cunhada, portanto;


3) Hélio Rocha da Silveira Pinto, filho do 1º matrimônio; e Nazareth, sua mulher;


4) Albinha — Alba Cristina Seixas Lima, filha de uma irmã de Alba, Alba Oliveira Seixas Lima —, nossa sobrinha, criada por nós desde pequena, mais tarde, obtido o consentimento dos pais, adotâmo-la como filha. Na época da comunicação, era solteira. Hoje, já está casada e é Alba Cristina Lima Lyra;


5) Dejanira e Deusarina, duas entidade espirituais muito queridas que conhecemos em Belém, na época em que lá servimos, em sessões de elucidação espiritual e de materializações a que assistimos e em que tomamos parte durante quase três anos, realizadas na casa do então Tenente reformado Azevedo e de sua esposa, D. Marocas, médium de efeitos físicos, ambos já há muitos anos falecidos. As mais perfeitas e maravilhosas sessões desse tipo, das muitas a que já assisti. A única que não se realizava em plena escuridade, mas com a luz fraca de um pequeno lampião de querosene, luz suficiente para que, quando abraçávamos os Espíritos, percebêssemos até a cor de seus olhos. Deusarina, uma noite, desmaterializou-se, no meio da sala, à frente de todos os assistentes. Dejanira tomou-se a protetora e a orientadora da mediunidade de Alda (psicofonia inconsciente, vidência e audiência), durante todo o seu trabalho mediúnico, especialmente no Grupo Espírita André Luiz, do Rio;


6) Caminheiros do Bem, organização espiritual de amparo aos nossos irmãos necessitados, já libertos do corpo físico, ou mesmo encarnados, em casos de doenças ou de necessidade de proteção espiritual mais imediata. É uma das organizações espirituais sob a direção do nosso muito querido Emmanuel;


7) Irmã Brasilina, Alcides e Oswaldo Santos, a primeira e o último, entidades espirituais com quem entramos em contato nos trabalhos em Belém, Pará. Alcides era o médico Alcides Neves Ribeiro de Castro, nosso padrinho de casamento, durante muitos anos presidente, até a sua desencarnação, do Grupo Espírita Regeneração, fundado no fim do século passado, pelo Dr. Bezerra de Menezes”.


Não fosse nosso objetivo neste livro o de escrever somente para o coração dos leitores, e apontaríamos aspectos inusitados que interessam de perto à Ciência e à Filosofia, contidos nesta mensagem.

Registre-se, entretanto, apenas esses passos:

a) “vou percebendo que entregar nosso entendimento em forma de auxílio aos outros é fazer seguro de Vida Espiritual”;

b) “aqui, a esposa é acima de tudo, também mãe”;

c) “não existem males, no sentido de delinquência. Há ilusões e nessas ilusões nós outros todos andamos”.


Elias Barbosa


Alda
Francisco Cândido Xavier

Este texto está incorreto?