ENTRE DUAS VIDAS

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Capítulo XVIII

Jáder Eustachio Guimarães de Macedo

Meu querido papai, minha querida mãezinha, peço para me abençoarem.

Não chore mais, minha querida mamãe.

Ainda não pude dormir como preciso. Estou bem. Muito amparado.

Não sei contar nada. Estou num hospital, mas escuto o seu coração chamando por mim com tanta dor, que não sei repousar.

Quando a senhora, meu pai ou Ana Maria olham meu retrato pensando em mim como pensam, fico aflito e não sei como encontrar o repouso por dentro de mim. Fico muito quieto, como nos dias em que estava no tratamento em casa, mas não durmo direito.

Mãezinha, não fique triste.

Não, como eu estava, não podia continuar. Sei que o seu carinho e o carinho de meu pai fizeram tudo por mim, mas tudo terminou como devia terminar.

Estou escrevendo com o auxílio do Irmão Anthero e do Irmão Macedo, que diz ser meu avô. Não sei escrever como queria. Estas palavras são apenas para pedir consolação e conformação para nós todos.

A morte não é o que imaginamos. Aí, minha mãe, fica apenas uma espécie de roupa que não nos servia mais.

Estou vivo. E o nosso carinho está em meu coração. Podem ir ao lugar onde vocês julgam que fiquei, mas não chorem.

Agradeço tudo, mas tudo o que desejarem me oferecer agora, convertam em auxílio aos meninos doentes.

O preço de uma rosa é quanto custa um pão. Será isso mesmo? Não sei. Mas creio que dei o pensamento do que desejo falar. E a rosa pode ficar na roseira, que eu recebo a flor pela intenção.

Digo assim, porque tudo o que pensam sofrendo em nossa casa, eu estou recebendo.

Mamãe, papai, abracem a todos por mim. Não morri. Estou com vocês. Auxiliem-me para que eu esteja mais forte.

Depois de amanhã (ou será amanhã?), faz três meses de nossa separação. Mas pensem na doença que atravessamos e agradeçamos a Deus pelo amparo que tivemos.

Não posso continuar. Muito carinho e muitos beijos com todo o coração, do filho


Jáder

(Uberaba, 7 de agosto de 1972)



Que dizer do garoto Jáder Eustachio Guimarães de Macedo, filho de Eustachio Antônio de Macedo e de D. Elza Guimarães de Macedo, desencarnado em Catalão, Estado de Goiás, a 9 de maio de 1972, em consequência de um osteossarcoma da tíbia esquerda e que frequentou só o Jardim da Infância e o Pré-Primário, por seis meses e com dois meses de leitura, até fins de outubro de 1971?

Evidentemente, o leitor não espírita há de achar absurdo um menino que nasceu no dia 4 de março de 1965 e desencarnou com sete anos incompletos, venha, através de um médium espírita, transmitir mensagem aos seus pais, exatamente no dia 7 de agosto de 1972, ao final de uma reunião pública, perante dezenas de pessoas, algumas de outras nacionalidades em visita a Chico Xavier e à Comunhão Espírita Cristã. Senão absurdo, pelo menos um fato insólito e inédito. Para nós, espíritas, porém, o fato é dos mais anódinos, de vez que sabemos ser o Espírito eterno e detentor de todas as suas potencialidades, o que aliás, não é privilégio só da Doutrina Espírita tal conhecimento, mesmo porque Ella Freeman Sharpe, em sua obra Análise dos Sonhos — Um Manual Prático para Psicanalistas, chega a dizer: “O reservatório do Id, que fornece a energia que utilizamos em todas as nossas atividades, não tem conhecimento do tempo nem do espaço. Nossa vida essencial não conhece a mortalidade. Daí a vitalidade em idades avançadas daqueles cuja vida psíquica acha-se ajustada de modo feliz.”

Pois bem, uma vez no Mundo Espiritual, conquanto ainda se sentindo criança, o Espírito consegue manejar todos os seus recursos arquivados no inconsciente e, acionando a mão de um instrumento mediúnico, naturalmente auxiliado por outras entidades, no caso, os 1rmãos Anthero e Macedo, o segundo seu avô, quando no Plano Físico, consegue transmitir a mensagem. Trabalho estafante, sem dúvida, que os Benfeitores da Vida Maior somente permitem com vistas a beneficiar, não apenas os genitores angustiados, mas larga faixa de pessoas que atravessam ou poderão vir a atravessar situações idênticas. Fora disso, não haveria lógica em semelhante comunicado.

Mas, no caso de Jáder, vale a pena resumir o que seus familiares nos comunicaram:

1. Que o menino relembrava durante a enfermidade, que havia vivido outra existência na cidade de Monte Carmelo, Estado de Minas Gerais, e que a sua família estava lá mais de oitenta anos, entre Monte Carmelo e Catalão;

2. Quatro dias antes de desencarnar, deu a seguinte mensagem aos pais, da qual os psicólogos podem retirar material para análise: ele, Jáder, via que machucara o dedo da irmã Ana Maria (que fez onze de idade no dia 29-3-1972). E dizia estar sonhando; que sofria porque era muito ruim. Depois, à tarde, disse ele: — “Olha, mamãe, eu falei que estava sonhando, mas eu não estava. É que eu não queria que a senhora chamasse o médico”;

3. No dia em que partiu para a Espiritualidade, disse à genitora que aquele era o último dia em que ficava naquela cidade maravilhosa; que ninguém o seguraria; que precisava ir, chegando a rogar não lhe prosseguissem com a oxigenoterapia.


Da mensagem admirável, vazada numa linguagem simples e desataviada, convém, para terminar, que guardemos esta lição preciosa:

1. que os pais podem visitar o túmulo de um filho, mas que não chorem, ou se o fizerem, que o pranto seja fruto da conformação;

2. que transformem todo o numerário que lhe corresponderia se encarnado aos “meninos doentes”;

3. que “o preço de uma rosa é quanto custa um pão” e, em perfeita consonância com , de Allan Kardec, questão nº 320 a 329, “a rosa pode ficar na roseira, que eu recebo a flor pela intenção”.


Elias Barbosa


Ella Freeman Sharpe, , Tradução de Christiano Monteiro Oiticica, Imago Editora Ltda., Rio de Janeiro, 1971, p. 4.



Jáder
Francisco Cândido Xavier

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