Enxugando Lágrimas
Versão para cópia
Carta de um pai agradecido
Uberaba, 23-10-1971.
Querida Lélia, filha querida. Deus nos ampare. Estamos aqui, ao seu lado, e pedimos a continuidade de sua fortaleza e resignação.
Quatro anos se passaram, em que tivemos de descer do píncaro da alegria com o enlace de nossa querida Simone para sofrer a despedida de nosso Alvicto.
Sabemos como foi rude a prova, mas você, minha filha, está no centro do lar, abençoando e sustentando os filhos queridos. Do que você orou, chorou, pediu a Deus e aceitou com humildade, os nossos Amigos da Vida Maior entretecem os recursos que lhe fazem a resistência para continuar.
Nosso Alvicto está presente e beija-lhe as mãos. Estimaria escrever, mas ainda não consegue.
Só mesmo aqui, no outro lado da vida, é que podemos compreender as dificuldades daqueles que amam, transformados em emoções indizíveis a lhes tomarem todo o ser, diante da situação nova em que desejariam tudo dizer de arranco aos entes queridos que ficaram na Terra, sem possibilidade de fazer isso, de modo a derramar o próprio coração nas palavras. Esperemos.
Pede-lhe, o companheiro amigo e dedicado, serenidade e amor em todas as situações, de modo a que os filhos queridos permaneçam em harmonia com os problemas do mundo, que só se consegue solucionar com tempo e paciência. Você nos compreende e isso nos reconforta.
Estamos mais fortemente ao lado de nossa Nayá nestes dias, contando com o amparo de Jesus em nosso favor.
A vida, filha, é assim como luz entre dois mundos. O amor nos faz agir na Terra, impulsionados pela falta e pela saudade que nos impõem todos aqueles que nos antecederam na morte, e, no Mundo Espiritual, a mesma saudade e a mesma falta que sentimos dos nossos entes queridos que, ainda na Terra, nos induzem a agir para que estejamos todos na mesma faixa de abençoada união.
Reconforte nossos familiares com a sua fé viva e com a sua compreensão. E creia, o seu trabalho de agora é uma luz sempre maior. Nunca se veja intimamente isolada, porque você não está só.
Guarde a esperança no coração por luz incessante, e conserve a bendita certeza de que a morte é sempre vida, e vida muito maior e muito mais ampla do que a vida em que permanecemos na Terra enquanto no corpo físico.
Para todas as filhas queridas e para o nosso Leônidas, o nosso abraço do coração.
E de pensamento ligado à nossa Nayá e saudando a nossa estimada irmã e amiga que nos acompanha fraternalmente, a nossa Maria, com os agradecimento a todos os irmãos que nos possibilitam escrever esta carta, abraça a você, carinhosamente, o pai reconhecido e amigo que não a esquece,
Para que possamos compreender e sentir tanto quanto possível, a carta de Antenor, na qual enfatiza ele seu agradecimento à filha — Sra. Lélia — pela “continuidade de sua fortaleza e resignação”, depois da rude prova por que passou, descendo do píncaro da alegria com o enlace matrimonial da filha para sofrer a despedida do esposo, pelas vias da morte, rogamos vênia ao leitor para transcrever dois trechos da obra Voltei:
O primeiro deles, extraímos do prefácio da obra, recebido pelo médium Xavier, a 19 de fevereiro de 1948, e o segundo da parte final do capítulo 2 — “À frente da morte” —, com o subtítulo de “Minha Filha!”
“Enquanto no corpo”, — afirma Irmão Jacob () — “não formulamos a ideia exata do que seja a realidade, além da morte. Ainda mesmo quando o Espiritismo nos ajuda a pensar seriamente no assunto, debalde tentaremos calcular relativamente ao futuro, depois do sepulcro”.
“Os quadros sublimes ou terríveis no plano externo correspondem, de alguma sorte, à nossa expectativa; contudo, os fenômenos morais, dentro de nós, são sempre fortes e inesperados.
“Antes da passagem, tudo me parecia infinitamente simples!”
“Observando-me relegado às próprias obras (por que não confessar?), senti-me sozinho e amedrontei-me. Esforcei-me por gritar, implorando socorro, porém os músculos não mais me obedeceram.
“Busquei abrigar-me na prece, mas o poder de coordenação escapava-me.
“Não conseguiria precisar se eu era um homem a morrer ou um náufrago a debater-se em substância desconhecida, sob extenso nevoeiro.
“Naquele intraduzível conflito, lembrei mais insistentemente o dever de orar nas circunstâncias mais duras… Rememorei a passagem evangélica em que Jesus acalma a tempestade, perante os companheiros espavoridos, rogando ao Céu salvação e piedade…
“Forças de auxílio dos nossos protetores espirituais, irmanadas à minha confiança, sustaram as perturbações. Braços vigorosos, não obstante invisíveis para mim, como que me reajustavam no leito. Aflição asfixiante, contudo, oprimia-me o íntimo. Ansiava por libertar-me. Chorava conturbado, jungido ao corpo desfalecente, quando tênue luz se fez perceptível ao meu olhar. Em meio do suor copioso lobriguei minha filha Marta a estender-me os braços. Estava linda como nunca. Intensa alegria transbordava-lhe do semblante calmo. Avançou, carinhosa, enlaçou-me o busto e falou-me, terna, aos ouvidos:
— “Agora, paizinho, é necessário descansar.”
“Tentei movimentar os braços de modo a retribuir-lhe o gesto de amor, mas não pude erguê-los, pareciam guardados sob uma tonelada de chumbo.
“O pranto de júbilo e reconhecimento, porém, correu-me abundante dos olhos. Quem era Marta, naquela hora, para mim? Minha filha ou minha mãe? Difícil responder. Sabia apenas que a presença dela representava o mundo diferente, em nova revelação. E entreguei-me, confiado, aos seus carinhos, experimentando felicidade impossível de descrever.” ()
Observemos, agora, para os nomes citados na mensagem, conquanto sejam praticamente todos nossos conhecidos, já que constam dos capítulos anteriores.
1. Simone: Trata-se da Sra. Simone Tereza Cavalcanti Nogueira, filha de Alvicto Osoris Nogueira e de D. Lélia de Amorim Nogueira.
2. Alvicto: O Espírito novamente se refere ao genro Alvicto Osoris Nogueira, nascido aos 8 de agosto de 1914, na Espanha, província de Goiá-Ponte Velha, tendo sido registrado em Ribeirão Preto, Estado de São Paulo, e desencarnado na estrada de Bela Vista, município de Bela Vista, Estado de Goiás, a 22 de outubro de 1967, quatro dias após o casamento de sua filha Simone, em consequência de um acidente automobilístico.
3. Nayá: Trata-se de D. Nayá Siqueira de Amorim, esposa do comunicante e mãe de D. Lélia e do Dr. Leônidas.
Conclusões:
1ª) os Espíritos se reconfortam com a paciência e a compreensão dos familiares ainda no Plano Físico, quando estes, realmente, se esforçam no sentido da conformação, ante os golpes da prova, por mais rude que seja;
2ª) cabe-nos esforçar-nos, ao máximo, no sentido de evitar qualquer impulso tendente à evocação consciente ou inconsciente do ente amado, residente no Mundo Espiritual, já que, às vezes, como no caso de Alvicto, a entidade não consegue escrever, presa de emoção indizível, mesmo decorrido cerca de um lustro após a desencarnação.
De outras vezes, o Espírito, com vistas a não aumentar esse ou aquele complexo de culpa em alguma criatura, ainda vestida do corpo físico, evita caridosamente criar problemas ou complicações. Aqui, como em todos os processos evolutivos, compete-nos aguardar as decisões da Vida Superior.
Busquemos orar em benefício dos que partiram, homenageando-lhes a memória através da prática integral do bem junto à Humanidade Maior;
3ª) finalmente, memorizemos este passo antológico da mensagem:
“A vida, filha, é assim como luz entre dois mundos. O amor nos faz agir na Terra, impulsionados pela falta e pela saudade que nos impõem todos aqueles que nos antecederam na morte, e, no Mundo Espiritual, a mesma saudade e a mesma falta que sentimos dos nossos entes queridos que, ainda na Terra, nos induzem a agir para que estejamos todos na mesma faixa de abençoada união.”
Francisco Cândido Xavier, Irmão Jacob 5oltei, Federação Espírita Brasileira, Rio, 6ª edição. 1975, pp. 11 e 32-33.
Este texto está incorreto?