Estrelas no Chão

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Capítulo XVIII

Cantoria da inteligência


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Não sei como articular

Em minha frase insegura

A cantiga encomendada

Por benfeitores da Altura

Quem canta de coração,

Pouco entende de cultura.


Não recuso confiança

Embora sem merecê-la,

Mas dizer de inteligência

Vivendo sem conhecê-la,

É o mesmo que um jacaré

Querendo falar da estrela.


Obreiro que fui na Terra,

Fiz da pena a minha pá,

Evolução como vejo

É no alto que ela está;

Matuto conhece a planta

Só pelo fruto que dá.


Ciência de qualquer tempo

Não defino como seja,

Sempre vivi de esperança

Na alegria sertaneja,

Mas servidor que obedece

Não faz só o que deseja.


Nas lutas da inteligência,

Tantas vidas se consomem!…

Penso nisso com frequência ,

Temendo que elas me tomem;

O lobo não mata lobo,

Mas o homem mata o homem.


A ciência vem de Deus.

Isso é verdade sagrada.

No entanto, em muitas cabeças,

Depois de ver-se instalada,

Com pequenas exceções,

Parece degenerada.


Dizem no mundo de agora

Que o tempo é do cientista,

Entretanto, no melhor

Da máquina modernista,

Nunca se viu tanto medo

Com tantas guerras à vista.


O progresso está crescendo,

Segundo conceito certo,

Engenhos novos estão

Vencendo o próprio deserto,

É conforto e mais conforto,

Mas o terror anda perto.


Inseridos em foguetes,

Os homens foram à Lua,

Contudo, muitos nem sabem

Manter a união na rua

E o ódio isolando estradas

E a brasa que continua…


O homem constrói palácios

Onde existia a favela,

Ergue torres e mansões

Tomando a vida mais bela;

Depois faz bombas pesadas,

Aniquilando com ela.


Inventaram-se remédios,

Podando dores fatais,

Mas deles surgiram drogas

Com fugas sensacionais

E o cordão dos traficantes

Cada vez aumenta mais.


Plantar e colher são sempre

O câmbio da vida, em suma…

Hoje se queima petróleo

Nas nações, uma por uma,

E tanta riqueza gasta

Não devolve cousa alguma.


Quanto mais apoio amplo

Amparando a Terra inteira,

Muito mais foge a mulher

Da missão de companheira

E, em qualquer povo do mundo,

O aborto é de cachoeira.


Quem começa a renascer

Agora, por vezes, pára…

A gravidez protegida

Hoje em dia é cousa rara;

E muito espírito expulso

A fogo e ferro na cara.


Avanço da inteligência?

Isso na vida é de lei.

Devia honrar a cultura,

Mal começo, terminei.

Se a Terra está progredindo,

Sinceramente, não sei.




Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier

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