Estrelas no Chão

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Capítulo IX

Cantoria da fé


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Não sei se o meu verso pobre

Neste caso dará pé,

Inspiração com verdade

Mostra o que é e não é;

Devo escrever nesta noite

A cantoria da fé.


Aceitar ordens do Alto

Em meu bestunto é dever.

Fé mesmo, fé sem sofisma,

Na Terra, não pude ter,

Mas se quem pede é quem manda,

Só me cabe obedecer.


Se eu na Terra fosse um homem

Aprofundado na crença,

Liquidaria este caso

Como quem não fala e não pensa,

Mas para falar em fé,

Preciso rogar licença.


Viver sob confiança

Parece cousa de lei,

Explicar a razão disso

É dom que nunca esperei;

Difícil mostrar estrada

Pela qual não transitei.


Sobre a minha incompetência,

Não lastimo, nem me iludo,

Fui apenas cantador

Sem colégio e sem canudo,

No entanto, creio que a fé

Sustenta a base de tudo.


No mundo, a gente confia

Em número, verbo e nome,

Confia no comprimido

Que se adquire e se toma,

No carro que se dirige

Ou no curau que se come.


As forças vivas da fé

Garantem o próprio ser,

Mas, hoje em dia, na Terra,

Com tanto brilho e saber,

A dúvida sem razão

Põe muita gente a descrer.


O homem mora na Terra

Que por si mesma se vira,

Não cria minas no espaço

Para o ar que ele respira

E muitos andam dizendo

Que Deus é pura mentira.


Alguns escrevem ou falam

Contra a crença, contra a prece;

O ateu, por si, se rotula

No título que merece:

Um filho que tem vergonha

Do pai que não lhe aparece.


Antigamente, a criança

Dispunha, no próprio lar,

De quem lhe desse atenção

Ensinando-a a rezar…

Hoje, é muita gente adulta

Que nem quer raciocinar.


Temos no mundo de hoje

A corrida que não cessa,

Quando parece que para ,

A largada recomeça;

É guarda, pedestre, carro

E buzinadas da pressa.


Vendo um amigo ao volante

Ameaçado por trás,

Tomei forma e fui a ele,

Pedindo-lhe prece e paz,

Mas ele disse: “Oração?

Largue mão disso, rapaz!…”


Depois fui auxiliar

A um antigo companheiro,

Falei-lhe da fé em Deus

E ele riu-se, chocarreiro,

Dizendo que acreditava

Tão-somente no dinheiro.


E o mundo prossegue assim,

Entre conflitos gerais;

Pouca gente fala em Deus,

O resto nem pensa mais…

A imprensa quer mais cadeias,

A rua pede hospitais.


O sofrimento campeia:

É notícia deprimente,

E nova onda de assaltos,

E menino delinquente,

É rebeldia gritando,

É gente matando gente…


Dizem que nesse barulho

É que o progresso se afina,

Mas sem fé onde estará

A luz que nos ilumina?

Aguardemos a resposta

Da Providência Divina.




Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier

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