Excursão de Paz
Versão para cópiaCantoria da Morte
Hoje, preciso enfrentar Problema de grande porte, Há quem me peça este assunto Supondo que eu seja forte, Mas não há quem forte seja, Ante a presença da morte. Não é a morte a megera Dos quadros de antigamente, Uma forma de esqueleto Com foice mirando a gente, A morte em cada pessoa Mostra face diferente. Conheço um homem que, um dia, Foi procurado por ela, Parecia uma enfermeira Que lhe escorava a espinhela; Trazia sono… e o coitado Caiu logo na esparrela. Quando ele quis acordar Do sono que ela trazia, Os pés estavam parados, Na geada que sentia, Quis falar, porém, a boca Estava selada e fria. Enxergava o próprio corpo Que ele mesmo havia usado, Tão quieto que parecia Um velho tronco espinhado, No entanto, não descobria Nenhuma bruxa de lado. Imaginando que a morte Ali pousasse escondida, Ele gritou: “Dona Morte, Não entro nesta partida, Tenho muito que fazer, Não posso perder a vida. “Tenho muitos compromissos, Deveres para tratar, Pedidos de clientela, Obrigações em meu lar, Quero o meu corpo, de novo, Para a vida regular.” A bruxa estava invisível, Nem de leve apareceu, Mas uma voz esquisita Logo, logo, respondeu: “Não me peças o impossível, Que teu corpo já morreu.” O homem apavorado Replicou, na mesma hora: “Eu quero o meu corpo vivo, Não sei andar de demora, Suplico na confiança Em Deus e Nossa Senhora.” Mas a voz falou mais firme: “Largaste o corpo no mundo, Quando a vida se transfere, A mudança é num segundo, A tua prece de agora Parece um cheque sem fundo. “Nada tens a reclamar, O teu pedido não vinga, Viveste como quiseste Catando caso e mandinga, Mesa farta e rede fofa, Fandango e trago de pinga. “Nasceste de boa gente, Mas não vês o tempo gasto, Em que mais te parecias A touro novo no pasto, Se vias qualquer morena, Seguias cheirando o rasto. “Algum bem trazes contigo, Isso, porém, é. dever, Mas quantas horas perdidas Que não podes devolver!… Cala-te e pensa na conta Do que deixaste a fazer…” “Qual será o meu lugar?” Indagou o pobre amigo. A voz pronta esclareceu: “Deus não aprova castigo; Estarás no purgatório Que já carregas contigo. “Muito serviço te espera Para a conquista da paz. Trabalha, não te lastimes, O tempo não volta atrás. Céu, inferno e purgatório Cada um tem os que faz.” Ele, aí, falou à voz: “Serás a morte na essência?” Ela, porém, respondeu Com firmeza e paciência: “A morte é caso passado… Sou a tua consciência.” De repente, despertando, Vi que tudo em mim tremeu, Larguei, correndo, assustado O corpo que fora meu… Então, descobri que o homem Não era outro… Era eu. |
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