Excursão de Paz

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Capítulo XVIII

Cantoria do Progresso


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Este improviso de hoje

Nem sei mesmo se começo,

Quando a estrada é de ciência,

Onde não caio, eu tropeço,

Amigos querem que eu faça

A cantiga do progresso.


Só se conserva um criado

Quando mostra serventia,

Se meus patrões é que mandam,

Não fujo da cantoria,

Deus me perdoe se obedeço

Cantando por teimosia.


Sei tanto de evolução

Quanto o burro da carroça,

Ou quanto o pingo de areia

Entende de maré grossa,

Por isso, ninguém critique

A minha lira da roça.


Olhando o mundo de hoje

Com tanta briga e fuá

No povo correndo aqui,

Depois correndo acolá,

Se há plantação de progresso,

Não sei o fruto que dá.


Na casa de antigamente,

Assim que o sol se escondia,

Enxada e engenho paravam,

A gente se reunia,

A paz marcava a oração

Na hora da ave-maria.


Hoje em dia, a barulhada

Não se sabe quando cessa,

Ninguém quer ouvir alguém,

Sossego não interessa,

É quase toda pessoa

Dependurada na pressa.


Existia, em outro tempo,

Serenata à luz da lua,

Modinhas ao violão,

Tranquilidade na rua,

Mas agora, em muita festa

Aparece gente nua.


A pinga sempre foi brasa,

Ninguém nega que isso havia,

Mas hoje é povo demais

Em loucura e fantasia,

Comprimidos e erva brava

Matando a muitos por dia.


Embora a proibição

No regime mais severo,

Em qualquer dor de cabeça

Que passe um pouco de zero,

Muita gente grita logo:

“Bolinha pra que te quero!…”


A gente gastava tempo

Andando a pé nos gerais,

Hoje avião vence em horas

Distâncias descomunais,

Mas se um deles cai no chão

Mata cem e, às vezes, mais.


Em outro tempo, de noite,

Luz era quase visagem,

Agora, os focos no alto

Clareiam qualquer paisagem

E quanto mais luz brilhando,

Mais força na malandragem.


Arroz e milho pilados

Criavam pratos de monta,

Hoje as máquinas produzem

Primores de mesa pronta,

Mas deixam, por onde servem,

Desastres que ninguém conta.


Hoje em dia, há tanta escola

Quanto a riqueza se expande,

No entanto, por mais polícia

Que nos vigie e comande,

Não há cadeia que chegue

Para os irmãos de mão grande.


De grandeza e evolução

Por muito a Terra se gabe,

O que se anota é capricho

Mesmo que a ordem desabe,

Se agitação é progresso

Só Deus, no Céu, é que sabe.




Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier


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