Falando a Terra

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Capítulo XL

Esperança


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Se a noite o surpreendeu de coração ferido ou de cérebro azorragado por amargos arrependimentos, não se renda à dor que lhe parece irremediável…

Enquanto a sombra se estende ao longo do caminho, e a ventania sopra, qual lamentoso grito de angústia, fite as estrelas que cintilam nas alturas e siga adiante, ao encontro do novo dia.

Não pode? Tremem-lhe os pés sob o fardo da aflição? Enrijeceram-se-lhe as fibras da alma e não consegue nutrir um novo sonho?

Erga uma prece à Esperança, o gênio da luz que nos permite antever o porvir imenso. Recolha-se à oração e ela virá, doce e infatigável enfermeira, balsamizar-lhe as chagas interiores e sustentar-lhe as energias semimortas.

Atenda-lhe o apelo carinhoso e prossiga sem desfalecimento. Não o embote o entorpecente elixir da inércia ou o fel corrosivo do sofrimento. Aceite as sugestões do gênio amigo e reflita…

Sentirá no próprio coração dores maiores que a sua, os pavores dos grandes infelizes, as úlceras cancerosas de milhões que, até agora, você não conseguira ver.

Então, inefável consolo baixará do Céu sobre a sua dor, aquietando-lhe a ânsia. Inexprimíveis sentimentos desabrocharão em seu Espírito, e seus braços se abrirão para acolher as ignoradas mágoas dos seres mais humildes da Terra.

Nem todos sabem avaliar essa virtude celeste. Muitos a transformam em vinagre de impaciência ou em tortura mortal, convertendo-lhe a bênção em estilete da enfermidade.

Felizes, porém, daqueles que lhe guardam a sublime claridade no imo do Espírito, porque verão a sabedoria do tempo, adquirindo com a vida a ciência da paz.

Espera! — diz a noite — o dia voltará.

Espera! — clama a semente — o fruto não tarda.

Espera! — anuncia a justiça — e tudo recomporei.

Bem-aventurados, pois, quantos no mundo sabem aprender, servir e esperar!



Viana de Carvalho n
Francisco Cândido Xavier

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