Falando a Terra
Versão para cópiaPrefácio de Emmanuel
No campo da vida, os escritores guardam alguma semelhança com as árvores.
Não raro, defrontamos com troncos vigorosos e eretos, que agradam à visão pelo conjunto, não oferecendo, porém, qualquer vantagem ao viajor. Ora são altos, mas não possuem ramaria agasalhante. Ora se mostram belos, todavia, não alimentam. Ora exibem flores de vário colorido, que, no entanto, não frutificam.
São os artistas que escrevem para si mesmos, perdidos nos solilóquios transcendentes ou nas interpretações pessoais, inacessíveis ao interesse comum.
De quando em quando, topamos espinheiros. São verdes e atraentes de longe; contudo, apontam acúleos pungentes contra quantos lhes comungam da intimidade enganadora.
Temos aí os intelectuais que convertem os raios da inteligência nos venenos ideológicos das teorias sociais de crueldade ou nos tóxicos da literatura fescenina, com que favorecem o crime passional e a mentira aviltante.
Por fim, encontramos os benfeitores do mundo vegetal, consagrados à produção de benefícios para a ordem coletiva. São sempre admiráveis pelos braços com que acolhem os ninhos, pela sombra com que protegem as fontes, e petos frutos com que nutrem o solo, os vermes, os animais e os homens.
São os escritores que trabalham realmente para os outros, esquecidos do próprio “eu”, integrados no progresso geral. Sustentam as almas, transformam-nas, vestem-nas de sentimentos novos, improvisam recursos mentais salvadores e formam ideais de santificação e aprimoramento, que melhoram a Humanidade e aperfeiçoam o Planeta.
Este livro é constituído de galhos espirituais dessas árvores frutíferas. Os autores que o compõem, falando à Terra, estimulam o coração humano à sementeira de vida nova.
É a voz amiga de almas irmãs que voltam dos cumes resplandecentes da imortalidade, despertando companheiros que adormeceram no vale sombrio.
Almas, que ajudam e consolam, animam e esclarecem. Não temos, todavia, qualquer dúvida. Não obstante o mérito do que exprimem, muita gente prosseguirá sonâmbula e entorpecida.
É que o despertar varia ao infinito… A gazela abre os olhos ao canto do pássaro. A pedra, entretanto, somente acorda a explosões de dinamite.
Resta-nos, porém, a confortadora certeza de que, se há milhões de almas anestesiadas nos enganos da carne, já contamos, no mundo, com milhares de companheiros que possuem “ouvidos de ouvir”.
Pedro Leopoldo, 18 de abril de 1951.
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