Capítulo X

Cantoria da criança


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Sobre o mundo da criança

Alguém me manda escrever:

Quando quem pode é quem manda

Obediência é dever.

Gosto muito de meninos,

Mas não sei o que fazer.


Quem nascia antigamente

Achava quem protegia,

Pai e mãe formavam dupla

Que velava noite e dia;

E dessa prova de amor

Qualquer criança sabia.


Chegasse o recém-nascido,

Parecia o viajante,

Parente do coração

Há muito tempo distante,

A família toda em festa

Ficava mais importante.


Amigos traziam flores

De paz e satisfação,

A criança ouvia preces

De carinho e gratidão,

Sabendo-se recebida

Por dentro do coração.


Das razões do nascimento

Ninguém queria o porquê,

A criança era beijada

De alegria, já se vê,

A mamãezinha no quarto

Amamentava o bebê.


Hoje em dia, um pequenino

Já nasce tristonho e só,

E dado para a enfermeira,

Não vê vovô, nem vovó,

Não ganha leite materno;

Nasceu, tome leite em pó.


Não há mais festa, nem preces…

Seja menino ou menina,

Que não se arranque do berço,

Que se aguente no arrozina,

Em vez de colos e abraços

É vacina e mais vacina.


Mamãe vai para o trabalho,

A criança chora e chama,

Tem sede e fome de amor,

Mas ninguém lhe nota o drama

Depois das mãos da enfermeira

Vai para os braços da ama.


A ama vive no esquema,

O nenê quer conversar,

Papai, porém, não tem horas

Para carinhos no lar,

A mamãe regressa tarde,

Precisa de repousar.


A criança tem de tudo,

Brinquedos, roupa enfeitada,

Aniversários em festa,

Televisão e mesada,

Mas dos pais de que nasceu

Já se sente rejeitada.


Aí começa o salseiro

Do lar a se decompor,

Rara é a criança que chega

Da Vida Superior,

Quase sempre é parentela,

Pedindo pousada e amor.


Sentindo-se em menosprezo,

O espírito renascente

Sem apoio que o renove,

Faz-se rebelde e doente,

Frio, amargo e revoltado

Mesmo forte e inteligente.


Hoje, ouvindo professores,

Falando de educação,

Não sei quando o não é sim,

Nem sei quando o sim é não,

Só peço aos pais que observem

A lei da reencarnação.


Organizar o futuro

Para melhor é dever,

Mas aqui falo a verdade

Que todos devem saber:

O que se faz à criança

É o que vai acontecer.




Leandro Gomes de Barros
Francisco Cândido Xavier


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