Capítulo XVI

Na frente do bem


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Conta-se que, em certa ocasião, na casa dos apóstolos de Jesus, em Jerusalém, o trabalho de atendimento aos necessitados havia recrudescido.

Simão Pedro era o alvo das solicitações e das aflições. Petitórios e queixas.

Quantos haviam escutado referências ao nome de Jesus e aos prodígios de amor que o Mestre realizara, vinham de longe… E suplicavam. E clamavam…

Muitos traziam querelas, outros carreavam perturbações.

Não raro, irmãos em demanda familiar, entravam em rixa, ali mesmo, no recinto da fraternidade, trocando injúrias e pescoções.

Viajantes em extremo desespero abordavam a generosa moradia, implorando consolação.

Muitas vezes, os rogos se degeneravam em gritaria e palavrão, frustrando a tranquilidade do santuário.

De vez que assumia a direção do grupo, era Pedro quem mais socorria os infelizes, mas, por isso mesmo, era mais intensamente policiado pelos olhos da crítica. E as censuras contra ele desbordavam, aqui e além.

Por que consentia em receber tanta gente desorientada? Como se entregava a delinquentes, quando se sabia responsável pela instituição? Com que razões articulava tantas gentilezas em favor de pessoas evidentemente desclassificadas? Por que cercar-se de tantos tipos considerados malfeitores?

Ante a onda de reprovações que se fazia sempre mais alta, Tiago, filho de Alfeu, o lidador do Evangelho mais vigorosamente agarrado aos textos antigos, procurou Simão e comunicou-lhe a decisão de afastar-se. Não tolerava a situação que categorizava por desequilíbrio e desordem. Dali em diante, habitaria um tugúrio isolado na saída para Jope. Aspirava à meditação e ao repouso. Ansiava por sossego na vida espiritual…

Simão tentou acalmá-lo, prometeu condições melhores em futuro próximo, apequenou-se e pediu a reconsideração do companheiro.

Tiago, porém, foi inflexível. Em dias rápidos, promoveu a mudança e encasulou-se em risonha choupana, rodeada de verdura e batida de sol. Ali se confiava ao estudo dos apontamentos evangélicos, tratava de flores, admirava os insetos e louvava o Senhor, através das orações de hora certa.

Escoaram-se dias, semanas, meses…

Tiago, insulado em quietude e reflexão, recordava Jesus com inexprimível saudade… Tantas vezes, vira o Mestre, gloriosamente redivivo, depois da morte… Por que não lhe reaparecia Jesus, agora que se consagrara a mais profundo recolhimento? Não se achava ali, plenamente disponível, entre o silêncio e a oração?! …

Uma noite surgiu em que a ausência do Mestre mais lhe pesava na alma… Concentrou-se em rogativa, lembrou-o e chorou… E chorava, quando viu alguém, a se lhe abeirar do refúgio, banhado de luar… O desconhecido vinha de passo ligeiro, como quem fazia o seu próprio caminho, varando a noite… Extasiado, o apóstolo reconheceu o itinerante que, afinal, se lhe revelou, aureolado de luz. Era o Cristo de Deus. O discípulo ajoelhou-se e alongou os braços para recolhê-lo com mais largueza de júbilo.

O augusto viajor, no entanto, passou por ele, sem deter-se.

O filho de Alfeu levantou-se, de espírito opresso, correu-lhe no encalço e gritou:

— Senhor! Senhor! … Acaso, não me vês o coração mortificado de saudade? Onde vais que não me vês a necessidade de ti?

Jesus voltou, abraçou-o, de leve e comunicou-lhe, num sorriso:

— Tiago, estás a salvo de lutas e tentações… A virtude te abençoa no recanto de paz. Vou ao encontro de Pedro, a fim de aliviar-lhe o fardo de humilhações e de lágrimas, no amparo aos nossos irmãos!…

Dito isso, o Celeste Benfeitor prosseguiu viagem…

Tiago, entretanto, naquela mesma noite, reuniu os pertences pobres num carro de mão e retornou ao pouso antigo. Bateu à porta que se lhe abriu, acolhedora, e abraçando Pedro que lhe veio ao encontro, pode apenas dizer: “Eu estou aqui.”


(.Humberto de Campos)


(Médium: Francisco C. Xavier)



Irmão X
Francisco Cândido Xavier


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