Fé e Vida

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Capítulo XIV

O Homem e o Evangelho


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“Por que sendo um só o Evangelho de Jesus, existem dele as mais variadas interpretações?”

O Evangelho é um só.

Apesar dos séculos que passaram sobre a palavra amorosa do divino Mestre, a sua lição atravessou todas as idades para nos felicitar com o seu saber atualíssimo.

O grande código de amor do Cristianismo nada perdeu em seus valores, no que se refere à sua primitiva pureza.

Mas, os homens, dentro dos labores inúteis da vaidade e, muitas vezes, inspirados pelos seus interesses inferiores, quiseram, nos seus núcleos isolados, talhar o Livro Eterno a seu talante.

Em nome da Doutrina de amor do Crucificado, mataram-se uns aos outros.

Criaram institutos tirânicos como a Inquisição, que exterminou alguns milhões de seres humanos, estabelecendo as discórdias de toda a natureza.

Em nome do Evangelho inventaram ainda as indústrias da cruz, traficaram com o altar, venderam e deturparam as bênçãos divinas, levaram a miséria e a confusão a milhões de lares terrestres, aliando-se os falsos pregoeiros da Boa-Nova com a política da incompreensão das leis divinas para a realização de suas nefastas ambições de domínio.

Entretanto, o Evangelho é sempre o mesmo e somente na atualidade, com o esclarecimento de algumas coletividades à luz da lição consoladora do Espiritismo, o velário se vem descerrando, e a palavra do divino Mestre vem sendo interpretada na sua primitiva pureza.

E, se isso aconteceu e acontece ainda, nos tempos que correm, constituindo a causa de perturbação para muitos espíritos, é que a verdade da Revelação divina é sempre como a gota d’água cristalina, descendo dos espaços.

Caída no solo, a gota de orvalho mistura-se ao elemento que a recebeu, modificando-se ao infinito.

Se repousa nas terras pesadas e brutas, é um fragmento de lama; se, porém, caiu sobre um diamante, nada perderá do seu brilho e da sua pureza de origem.

A revelação espiritual terá o mesmo destino. Será modificada na interpretação pessoal de cada um, apresentando-se nos aspectos mais diversificados, apesar da sua unidade substancial.

É conhecendo esse fenômeno trivial que apelamos sempre para que sejais o brilhante espiritual em consciência e em coração.

Com a santidade de intenções, com o propósito da prática do bem e com o discernimento necessário, sabereis guardar as preciosidades da Revelação celeste.

Dentro, assim, do conhecimento superior que vos felicita o coração, que saibais arquivar sempre a luz de toda a caridade e de todo o amor.




(Pedro Leopoldo (MG), 16 de julho de 1937)



Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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