Feliz Regresso

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Capítulo X

Cacilda Becker Yaconis


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Cuca e Dorita. Queridos filhos. Deus nos abençoe.

Sem dúvida que não seria de outro modo. Estamos juntos. Como sempre.

Não se admitam derrotados à frente da luta. É preciso armar-nos, por dentro, com a luz da compreensão, a fim de vencer. As provas são barreiras naturais. Indispensável atravessá-las e conquistar outras experiências.

Seguimos de perto as dificuldades e contradições, com as quais ambos se reconhecem defrontados. Problemas: Às vezes, problemas aparentemente insolúveis. Entretanto, é necessário, prosseguir, caminho adiante, transportando o fardo das questões que, porventura, nos assediem.

Cada dia de trabalho é uma parcela de resgate do peso. As tarefas em nossas mãos recordam instrumentos com que a Divina Sabedoria nos faculta a possibilidade de avançar para as vanguardas da paz, com o aprimoramento de nós mesmos. Ser o que somos, buscando aperfeiçoar-nos sempre. Autenticidade.

Aqueles que não se enganam quanto a si próprios se fazem claramente incapazes de enganar aos outros. Por isso mesmo, rogo aos Divinos Mensageiros abençoarem os propósitos superiores com que se uniram, para que nós todos, os corações que lhes gravitam em torno do ser, venhamos a assimilar o Bem Eterno, pelo exercício constante, daquele amor que Jesus nos ensinou a cultivar. Suportem os conflitos do relacionamento humano.

Nunca desafiar, mas aceitar os desafios da vida e seguir adiante, na busca de nossa própria transformação com vistas ao Eterno. Amem-se no labirinto das incompreensões e condicionamentos do mundo e atendamos ao chamamento da vida que nos induz a marchar.

Filhos meus, nunca estivemos separados. Nos dias mais escuros, quando tudo parecia desabar, em derredor de nós, era eu a oração silenciosa, velando-lhes os sonhos.

O amor!… Quem ousará emitir a suprema definição dele, se o amor é a emanação do Divino? No campo das formas, o fluido sublime se divide e se subdivide infinitamente. Entretanto, se os frascos evidenciam flagrantes diferenciações, o perfume é análogo em todos eles. A vestimenta assume o talhe que as leis da matéria lhe imprime em cada Plano de existência, no entanto, o conteúdo não difere. Aqui mesmo e no Mais Além, criou-nos a Divina Sabedoria para entrelaçar-nos no mesmo laço de união imortal.

Na Terra, as ilusões da posse estabelecem compromissos, à feição de cadeias benéficas, prendendo-nos a deveres que nos cabem observar, mas, a verdade paira sobre todas as divisões e o amor puro vence e reina soberano, à frente da Imortalidade.

Filhos queridos, o coração humano é semelhante à terra mesmo. Justo que enxadas e tratores desbravem o solo, tanto quanto instrumentos variados rasgam a gleba para que a gleba produza. As chuvas periódicas irrigam as promessas da plantação e em nossa jornada, é razoável que aguaceiros de lágrimas se desfaçam sobre as nossas próprias vidas, facilitando a subida das primeiras vergônteas que amanhã se farão árvores do ideal realizado. Trato incessante se exige do lavrador para que o verde se converta em outros coloridos nas flores e nos frutos que virão. Também nós reclamaremos sempre duras disciplinas, a fim de que a previsão da colheita, quanto aos recursos espirituais, não sofram deformidades e frustrações. Pétalas acetinadas aparecem nos braços esmeraldinos da vegetação, expostas ao vento que as seleciona e, por vezes, castiga no intuito de aferir-lhes a resistência. E nós outros, somos agraciados igualmente com as pétalas dos sonhos que a ventania da realidade costuma visitar, por entre depredações e ameaças, verificando-lhes a segurança, perante o tempo que há de vir. E as pragas, de quando a quando, que irrompem de modo quase inexplicável para o homem do campo, aniquilando-lhe muitas das mais belas esperanças, nos recordam igualmente, determinadas situações humanas, em que as nossas aspirações experimentam o assédio desses exércitos microbianos em que deperecem muitas de nossas forças mais robustas e promissoras. E assim como inseticidas são trazidos para a extinção do agente invasor, as provações em identidade de circunstâncias também nos alimpam e reabilitam as energias para a continuidade do serviço que fomos chamados a realizar.

E recordemos: quando os elementos que entranham a vida no íntimo do Planeta explodem na Crosta, como que desesperados e repulsivos, eis exasperação inútil do orbe, espalhando a lava comburente que expressa por si mesma a presença da destruição e da morte.

Esses quadros vulcânicos se patenteiam em nós mesmos, quando a paciência e o entendimento se nos escasseiam no coração, arrastando-nos ao desequilíbrio, no qual as nossas forças inconscientes arquivadas nos recessos de nossa mente, e derramam ao redor de nossos próprios passos, calcinando inúmeras promessas de paz e amor que já se nos formavam no ser, tanto quanto na intimidade dos entes que mais amamos. E a Terra prossegue em seus giros e voos controlados, através do Infinito para que destino?

Diz a Ciência materialista que ninguém sabe, entretanto, pela fé sabemos que a nossa habitação multimilenária, tão multimilenária quanto nós mesmos, se precipita nos abismos do Cosmo, à procura de Deus, no Oceano Universal do Amor em que todos nos achamos imersos.

Na grande excursão, constituída de milênios numerosos, vencerá quem mais ame. Apressar-se-á quem mais dê de si, em louvor dos outros.

Filhos do coração, este é o nosso curso de agora. Compreender e servir, abençoar e amar sempre. Nunca calcular as retribuições, porque as retribuições se erigem na estrada como especialidade dos cobradores, dos que se dedicam às paradas ingratas, aguardando o imposto de gratidão nas fileiras de companheiros em penúria, sedentos de luz ou famintos de pão espiritual, nas reentrâncias da retaguarda. Adiante. Esta é a palavra.

Nossa Dorita está melhorando nos próprios recursos de auto-refazimento. Conservemos a esperança por talento do Céu em nossas mãos. Seguir constantemente, sentindo o melhor, pensando o melhor e fazendo o melhor ao nosso alcance. Amanhã, o dia sorrirá com luz diferente. E não há noite sem amanhecer.

Terei falado quanto desejo a filhos que amo tanto? O coração escava o canteiro das ideias para surpreender as expressões mais adequadas com que o nosso afeto se destaque ou se defina. Ainda assim, o sentimento, ao que me parece, é uma espécie de baliza que não encontra conjunção com as forças que ele próprio deve inspirar, ante os quadros da frente, cada vez mais empolgantes para os olhos que os contemplam antes que os demais companheiros lhes fitem a prodigiosa beleza. Ainda assim, na incapacidade de expressão em que me vejo, entrego-lhes o coração.

Sigamos. O Divino Amigo deslocou-se diante de nós, subindo um monte agressivo com a cruz nos ombros. É preciso escalar a montanha de nosso próprio passado com o lenho de nossas dívidas e alcançar os cimos. Lá, onde nos reencontraremos, todos seremos iluminados pelo eterno resplendor.

Cuca, meu filho, Dorita, filha do coração, amem-se tanto quanto os amo, com as minhas penas e com as minhas alegrias, com as minhas dificuldades e com os meus acertos, com as minhas esperanças e com as minhas lágrimas e cumprindo os nossos deveres, ante o Senhor de Nossas Vidas, peçamos a Ele nos proteja e nos abençoe.


Cacilda

COMENTÁRIOS

O breve roteiro de Luiz Carlos Becker, apresentando a mensagem da mãezinha, evidencia alguns aspectos de sua partida.

“9.5.1969 — TEATRO CACILDA BECKER — Peça ESPERANDO GODOT.

O pano de boca fechara-se, definia o fim do 1.° ato. Do outro lado, o mendigo Estragon, interpretado por Cacilda Becker, começava a morrer. Um derrame cerebral letal e desfalecia a atriz em pleno palco.

14.6.1969 — HOSPITAL — 10 horas.

Aos 48 anos, a dama do Teatro Brasileiro desencarnava. Fenecia em minh’alma a esperança, a amizade profunda, a razão da vida. Iniciava um período de grande dor.

Julho de 1971 — EDIFÍCIO DIÁRIOS ASSOCIADOS.

Em indescritível abatimento, sentado à mesa de amigo jornalista (acompanhado de Dorita, minha futura mulher), a bondade de Deus permitiu-nos um encontro com Chico Xavier e irrefutável prova da sobrevivência. Nesse dia, Chico expressou, com perfeita fidelidade, algo que somente o meu coração sabia: as palavras que escrevi em pequenino cartão, depositado sob a cabeça de mamãe, no esquife, expressando amor e saudade.

30.8.1979 — MODESTA SALA FAMILIAR.

Cacilda Becker traz-nos sua palavra com estilo próprio, inconfundível. Responde às questões mais íntimas, através das mãos do médium Francisco Cândido Xavier.”


PESSOAS E FATOS

Cacilda Becker Yaconis: Nascimento: 6.4.1921. Desencarnação: 14.6.1969.

Filho: Luiz Carlos Becker Fleury Martins — Rua Isonzo, 597. São Paulo — SP.

Nora: Dorita Becker Fleury Martins.


Rubens S. Germinhasi


Cacilda
Francisco Cândido Xavier

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