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Capítulo VIII

Doações tardias


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Amigo, você nos solicita indicar o destino mais aconselhável para os seus bens, depois de sua libertação do corpo físico.

Indaga você:

“Se devo facear a sobrevivência, diga, por obséquio, qual o melhor modo de deixar os recursos que acumulei? Tenho algum dinheiro, ações em companhias diversas, terrenos vagos, dois sítios caprichosamente montados e alguns apartamentos para alugar. Será mais justo entregar esse patrimônio a determinados amigos, através de testamentos e recomendações especiais? Ou será mais razoável confiar os meus bens a instituições de beneficência?”

A sua consulta nos falou ao coração e aqui estamos para a resposta possível, que você não é obrigado a aceitar.

Usufruindo a luz da prece, você mesmo obterá a inspiração dos benfeitores espirituais que o assistem, a fim de adotar a melhor conduta.

Esquecer o seu livre arbítrio, seria privá-lo da liberdade de escolha. Entretanto, permitimo-nos recordar um episódio, que se perde nos acontecimentos históricos do segundo milênio que estamos terminando no mundo.

O rei de Bizâncio, Manuel I, da dinastia dos Commenos, mantinha os seus assessores e soldados numa guerra civil contra os persas, que se defendiam ardorosamente.

Na batalha última em que seus súditos encontraram pesada derrota, o próprio rei foi atingido no peito por fina lâmina ajustada à ponta de uma flecha. O sangue lhe jorrava do tórax, quando foi cautelosamente retirado da alimária que o servia; mas deposto no chão, eis que o soberano pressentiu a própria morte e encontrou forças para falar em voz alta:

— “Companheiros e soldados amigos: temos vinte canastras na expedição, transportando ouro e prata, joias e pedras preciosas, em quantidade suficiente para enriquecer-vos a todos. Retirai de minha armadura as chaves capazes de abri-las e apossai-vos de toda essa riqueza que vos entrego por brinde de amizade e gratidão.

Num momento, as chaves trabalharam movendo as complicadas fechaduras e todo um montão de preciosidades surgiu aos olhos deslumbrados de todos os circunstantes.

O monarca estava agora inerte, chamado que foi ao reino da morte e aqueles que o seguiam passaram a partilhar da fortuna de que se reconheciam detentores.

Os inimigos, porém, se mantinham vigilantes e caíram sobre os vencidos e, em minutos breves, os herdeiros do rei acordaram para a realidade, sendo muitos deles degolados ou escravizados.

Nem um só dos companheiros do rei escapou do massacre ou da escravidão, enquanto que os adversários, além da vitória fácil, surrupiaram todos os bens que se lhe revelavam à vista.


Rogo-lhe atenção para este tópico da verdade histórica, para que observe quão difícil se faz a previsão, com respeito a benefícios marcados para depois da morte.

O rei Manuel I, que viajava conduzindo grande tesouro, efetivamente fez a doação de tudo quanto possuía, à frente da morte, com a desvantagem de colocar os amigos sob a ira dos adversários que os arrasaram e espoliaram à vontade, sobretudo para satisfazer os apetites de ambição e pilhagem de que se sentiam acometidos.

Em vista do exposto, se você deseja beneficiar pessoas ou instituições, não deixe as suas providências para depois, quando as suas riquezas entrarem no campo dos inventários, difíceis de serem deslindados.

Se o prezado amigo já despertou para a grandeza do bem aos semelhantes e quer fazer essa ou aquela doação, não deixe isso para amanhã. Faça isso agora.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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