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Capítulo VI

Episódio em caminho


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A história não é nossa. É um fragmento do folclore dos primeiros amigos de Jesus, a fim de que observemos as dificuldades do Cristianismo nascente.

O Mestre, seguido por Simão Pedro, fora visitar alguns doentes nos arredores de Bethânia.

Os enfermos se multiplicavam pedindo-lhe socorro e a noite desceu sobre a região, coberta de nuvens densas. E era preciso voltar a Cafarnaum, onde Pedro mantinha a própria moradia.

Fosse pela jornada a pé ou pelas tarefas executadas, a verdade é que Jesus demonstrava grande cansaço. Pedro notou-lhe a fadiga e sustentou a marcha vagarosa, conquanto temendo as nuvens que se adensavam, prenunciando aguaceiro próximo.

Ao longe, no escuro da noite, os viajantes lobrigaram um ponto de luz. Seria uma estalagem? Não lhes seria lícito tentar o refúgio por ali?

Para lá se dirigiram a passo lento. Pedro, desenvolto bateu à porta e um homem rude atendeu.

Não, aquilo não era estalagem e sim uma casa isolada, mantida por jogadores de Sephoris, para distrações casuais.

Simão Pedro implorou abrigo para ele e o companheiro.

O áspero anfitrião voltou ao interior para consulta e retornou com a resposta.

Os chefes da casa somente dispunham de um leito largo, formado de almofadões. Se os viajores aceitassem… poderiam descansar ali por uma noite.

Em vista da chuva iminente poderiam aceitar o oferecimento. Era somente para aquela noite difícil.

Jesus e Simão entraram, naturalmente acanhados. Os jogadores tentavam a sorte, numa espécie de dados da atualidade, com grande alarido.

Os dois recém-chegados, porém, recolheram-se ao quarto onde se achavam os almofadões, com evidente humildade e dormiram quase que de imediato.

Depois de algumas horas, um dos homens de Sephoris exclamou com ênfase:

— Será que pusemos dois vagabundos dentro de casa?

— Serão ladrões? — perguntou um dos circunstantes.

Um mais afoito se adiantou:

— Apliquemos uma surra em um deles, como advertência.

— Um deles, qual? — inquiriu um jovem presente.

Alegou um outro:

— Arrastem para cá aquele que estiver à beira dos almofadões.

Esse era Simão que foi acordado com desrespeito e trazido à sala, em que dois dos anfitriões lhe aplicaram golpes de azorrague.

Simão tudo aceitou em silêncio e, após a inesperada agressão, regressou ao leito, onde choramingou, narrando a Jesus o sucedido.

— Conserva a paciência, Simão pediu-lhe Jesus — a paciência é uma luz perante o Pai Celestial.

E, com muito cuidado, alojou Pedro no canto dos almofadões, onde o Mestre acreditava fosse o lugar mais acolhedor.

Pedro acomodou-se. Jesus veio para a beira da cama.

Decorridos alguns minutos, um dos jogadores reclamou:

— Com respeito a estes hóspedes, nossa medida não foi justa. Tragam o vagabundo que está no canto do leito para que se lhe apliquem algumas bastonadas. Não é razoável que a advertência seja dirigida a um só.

Simão foi arrancado, de novo, do recanto em que jazia e, embora gemendo, tomou várias bastonadas que lhe machucaram as pernas.

Voltou à cama, a lamuriar-se e Jesus lhe repetia:

— Simão, tenha paciência. A paciência é registrada nos Céus…

Pedro lamentando-se em voz baixa, nada respondeu.

Ao amanhecer pagaram pequena taxa a um moço de serviço e colocaram-se a caminho de Cafarnaum.

Jesus, procurando quebrar o silêncio, disse a Pedro que manquitolava penosamente:

— Simão, pense em nossos compromissos. Você foi agredido, apanhou e sofreu, mas é justamente assim que o Pai, que está nos Céus, manda tratar os meus seguidores…

Simão lançou em Jesus um olhar estranho e falou com evidente desagrado:

— É por isso, Mestre, que vós os tendes tão poucos.




Augusto Cezar
Francisco Cândido Xavier


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