Gratidão e Paz
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Antônio Martinez Collis
A seis meses da sua formatura em engenharia química, pela Faculdade Osvaldo Cruz, de São Paulo, Antônio Martinez Collis, de 24 anos, foi atingido por um projétil fatal disparado por assaltantes. O fato deu-se na própria Capital paulista, onde residia, às 12:35 h. de 24 de outubro de 1984.
Porém, no início do ano seguinte, já revelando grande compreensão das leis da vida, ele mesmo, do Mundo Maior, transmitiu aos queridos pais e à namorada palavras de reconforto e bom ânimo, esperança e fé, enfatizando a necessidade de “aprendermos, nós todos, a desculpar os infelizes atacantes.”
“Os nossos destinos de criaturas humanas se parecem, a meu ver, com as ondas do oceano, que se fazem e se refazem constantemente.” “Chegará um dia em que nos reuniremos todos num mundo sem adeus e sem morte.” “Tudo, entendo agora, é questão de tempo na vida e paciência em nós.” “Com a oração adquiri forças.” — São pensamentos de um jovem inteligente e amadurecido, destacados de sua carta psicografada a 15 de fevereiro de 1985, que nos levam à meditação em face dos graves problemas existenciais que nos interessam a todos.
Querida mãezinha Neusa e meu querido pai abençoem-me.
Ainda me sinto chocado com o assalto de que a Jane e eu fomos vítimas. Esperávamos o documento de que precisava e dialogávamos com alegria, quando os nossos irmãos infelizes nos intimaram de armas na mão. Por que estranhasse em voz alta aquela violência toda, o tiro partiu de um deles, alcançando-me um vaso importante ao longo da garganta e atravessando-me uma das vértebras, varando tecido delicado da medula.
Num relance, compreendi tudo, enquanto os assaltantes fugiram depressa, naturalmente receando represálias por parte de amigos que, de imediato, nos chegaram. Quis falar a Jane e fazer algumas recomendações, porque não me enganava quanto ao meu estado orgânico, mas foi impossível.
Conduzido ao socorro, ainda pude notar o olhar de comiseração dos médicos e amigos; no entanto, o meu pensamento esmoreceu no cérebro e dormi pesadamente no chamado torpor da morte.
Não sei precisar o tempo gasto no desmaio em que eu era visitado por pesadelos e mais pesadelos, quando despertei num lugar aprazível, cercado de árvores que o vento leve ensinava a cantar, qual se eu voltasse a ser criança embalada para o descanso.
Uma senhora, velava ao meu lado e, depois de mobilizar com muita dificuldade os recursos da fala, perguntei quem era para dispensar tanta bondade e em que casa de recuperação me achava, já que me lembrava claramente do projétil que me alcançou.
Cuidadosamente ela me disse que eu poderia chamá-la por vovó Maria Del Carmem e, sem alarme, fez-me sentir que meu corpo fora trocado sem que eu percebesse.
As belas palavras que ela pronunciava enfeixavam a imagem da separação pela morte do corpo físico e chorei muito. Os meus sonhos de penetrar os domínios da Química e desposar a querida Jane estavam desfeitos.
Ainda assim, aquela devotada benfeitora me conduziu à oração, e repetindo petições e preces, adquiri forças para regressar à nossa casa e verificar a extensão dos sofrimentos a que involuntariamente dera causa.
Agora, depois de tantas semanas de esforço e luta para aceitar a compreensão da vida, peço-lhes perdão para os meus opressores, pedido que estendo à nossa querida Jane, a quem Jesus concederá a felicidade que ela merece.
Mãe Neusa, auxilie a nossa querida Jane a viver. Estamos hoje em faixas diferentes de vida, mas a vida nos trará o reencontro algum dia.
Os nossos destinos de criaturas humanas se parecem, a meu ver, com as ondas do oceano, que se fazem e se refazem constantemente. Chegará um dia em que nos reuniremos todos num mundo sem adeus e sem morte. Tudo, entendo agora, é questão de tempo na vida e paciência em nós.
Agradeço à nossa querida Jane quanto fez por mim nas horas rotineiras da existência, e especialmente naqueles momentos de término do corpo, de que me orgulhava tanto para trabalhar e aperfeiçoar os meus conhecimentos no futuro. Que a nossa Jane continue valorosa e paciente, e que nós todos aprendamos a desculpar os infelizes atacantes.
Mãezinha Neusa e meu querido pai, a todos os nossos as minhas lembranças indiscriminadamente, porque o tempo de que disponho é demasiado curto e não quero cometer omissões na escrita vertiginosa a que a vovó Maria Del Carmem me convida.
Quisera algo possuir que me expressasse o reconhecimento e o amor, mas, à vista de minha carência de quaisquer recursos para ofertar-lhes hoje o que desejo, entregar-lhes a própria alma saudosa e ainda dolorida pela separação forçada, o filho amigo e companheiro que tanto lhes deve e que pede a Deus envolvê-los na luz da felicidade para hoje e sempre,
Antônio Martinez Collis.
Notas e Identificações
1 — Querida mãezinha Neusa e querido pai — Casal Antônio Collis Júnior e Neusa Martinez Collis, residente em São Paulo, SP.
2 — Jane — Namorada.
3 — Vovó Maria Del Carmem — Bisavó materna, desencarnada em 10/6/1967, em São Paulo.
4 — Fez-me sentir que meu corpo fora trocado sem que eu percebesse. — Abandonando o corpo material pelo fenômeno da “morte”, ou melhor, desencarnação, Tico se apresenta, agora, em outro plano vibratório, com seu corpo espiritual ou perispírito.
5 — Antônio Martinez Collis — Tico, na intimidade, nasceu em São Paulo, a 13/7/1960.
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