Lar-oficina, esperança e trabalho

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Capítulo X

Família Mangano


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— O que aconteceu ao Giuseppe Mateus, Dona Zilma?

Esta foi a nossa pergunta.

“Acidentou-se na Rodovia Castelo Branco sobre a Ponte de Barueri.”

Giuseppe viajara com sua noiva Alice Wiltzman para Porto Feliz, ao encontro de alguns familiares que lá estavam na chácara de propriedade de Alice. Isto em 21.12.1984.

Projetaram voltar três dias após, mais precisamente no dia 24, para estarem com a família na ceia natalina.

Assim o fizeram, porém na volta para São Paulo, resolveram parar na cidade de Porto Feliz e alteraram o seu roteiro. Giuseppe telefonou aos pais para os votos natalinos, dizendo que voltaria no dia 25 para almoçar e comemorar o Natal, o aniversário de seu pai e a cerimônia das Bodas de Prata que os mesmos completavam nesse dia.

A festa seria completa. A alegria estaria presente fazendo o seu ninho no lar dos Manganos.

Retornaram para a chácara e ali pernoitaram.

A manhã chegou e prepararam-se para a volta.

A viagem transcorria para Giuseppe com aparência normal, mas, o seu pensamento era invadido pela preocupação. A saudade de casa crescia em seu coração, não entendia o porquê, se estava a caminho do lar.

Guardava a intuição de que sua existência seria alterada, conforme o seu comentário na mensagem recebida.

Tudo estava tranquilo. Sem imprimir grande velocidade ao veículo, aproximavam-se do local que seria para Giuseppe e para Alice, o retorno à Pátria Espiritual.

Ao alcançarem a Ponte de Barueri, sobre esta são abalroados por enorme carreta que os lança para baixo.

O socorro foi imediato. As almas da fraternidade cristã logo apareceram para levá-los ao Pronto Socorro de Barueri, mais próximo do acidente. E nesta casa hospitalar, o casal que projetava uma vida de encantos e felicidades para os próximos dias, estavam à beira do casamento, era socorrido. Enquanto isso acontecia, seus pais, preparando-se para as homenagens do dia, de nada sabiam.

As alegrias estavam prestes a ceder lugar à dor.

O telefone toca e do outro lado da linha, a voz de um representante da Guarda Rodoviária informava-lhes sobre o acidente. Giuseppe e Alice desencarnaram.

Por concurso prestado, Giuseppe aguardava a data de 2 de janeiro de 1985 para iniciar seu trabalho no Jornal “O Estado de São Paulo”.

Trabalhou no Jornal “Shopping News”.

Cursara o 3.° ano de engenharia na Faculdades FESP e era primeiranista na Faculdade de Comunicações Anhembi.

Filho dedicado e carinhoso, conforme D. Zilma, Giuseppe desprendia-se com muita facilidade das coisas materiais, vivendo cada dia de sua vida, o mais intensamente possível.

Com o hábito de ir à Igreja constantemente, D. Zilma em suas orações, cumpria as obrigações cristãs. Hoje, confessa que essas orações têm sentido muito mais profundo. Os conhecimentos adquiridos na Doutrina Espírita e o culto do Evangelho no Lar, que realiza semanalmente, criam forças para o trabalho aos mais necessitados soerguendo o seu ânimo e dos familiares.

Em poucas palavras nos disse:

“Procuro elevar-me espiritualmente para contribuir com os meus filhos que partiram, sim, porque Alice é para mim também uma filha. Que juntos possam receber as vibrações do meu coração. Ao mesmo tempo procuro preparar-me com mais compreensão para ajudar minha família e perdoar os que foram o caminho para a nossa dor.

Isto eu não poderia entender se não fosse através de uma amiga de Alice, de nome Deusalinda Feliu Cataly, que nos orientou e apresentou-nos à D. Yolanda e da mensagem recebida, de onde pude extrair os ensinamentos com os quais a misericórdia de Jesus me agraciou.

A presença de Chico em minha vida é como se eu estivesse vivendo na época de Jesus e fosse apresentada a um de seus apóstolos.

O apóstolo do consolo para os angustiados que, como nós, passaram por esta prova.”


ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM ESPIRITUAL


GIUSEPPE MATEUS MANGANO: Nascimento: 03 de maio de 1961 — Desencarnação: 25 de dezembro de 1984 — Idade: 23 anos.

PAIS: Giuseppe Cano Mangano e Zilma de Luna Mangano — Rua Bicudo de Brito, 860, São Paulo, SP.

IRMÃO: Marcelo Cano Mangano.

GIUSEPPE AMATTO: Amigo e vizinho de trinta anos. Acompanhou o crescimento de Giuseppe Mateus Mangano e foi quem o recebeu no Plano Espiritual, dando-lhe os primeiros esclarecimentos.

NOIVA: Alice Wiltsman, nascida em 06 de abril de 1966, desencarnou juntamente com Giuseppe.


.: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.



Querida mãezinha Zilma e querido papai Giuseppe, estamos unidos na mesma bênção da fé em Deus, e, por isso, sabemos que a vida prossegue…

A oração pela felicidade dos país queridos e do nosso Marcelo tem sido constante em minha vida nova.

Mãe, não chore com mágoa. A lágrima é nossa herança e creio que todas as criaturas humanas conhecem, esse batismo de pranto que nos eleva o coração para Deus.

Perdoem-nos, os pais queridos, se não conseguimos festejar-lhes as Bodas de Prata no Natal passado.

Saímos de Porto Feliz na convicção que amanheceríamos em São Paulo para ser os primeiros a abraçá-los. Os Desígnios de Deus porém, foram outros.

Não sei explicar com clareza o que me ocorria. Guardava a ideia de que a minha existência seria alterada. Fitava os olhos de nossa querida Alice, procurando neles a luz do futuro, mas não via neles senão o amor imenso que nos ligava um ao outro. Um amor que me falava de beleza fora do tempo terrestre, uma união que ultrapassava os limites da própria morte, se ela nos surpreendesse.

Tão perto me achava da libertação do mundo físico, no entanto, o instinto da vida falava mais alto.

Era preciso crer no Porvir, esquematizar os acontecimentos que dignificam o lar e lutava contra a intromissão do desencanto em meus dias.

Mãezinha, tudo devia ser tal qual nos vimos, arrebatados para um mundo diferente em que não esperávamos viver.

Mesmo naquela véspera do Natal, amanheci com o sinal amarelo no pensamento, como se alguém me determinasse esperar. Por que, não saberia dizer.

Sonhava com a passagem da condição humana para a condição espiritual.

E enquanto mentalizava as tarefas do casamento que intimamente aguardava para breve, percebia que o desalento era uma espécie de posseiro inflexível, senhoreando o meu destino.

Muitas vezes, busquei a presença da querida Lika a fim de que ela me acendesse no íntimo a lâmpada do entusiasmo que esmorecia, mas ainda com o sorriso de minha escolhida para a esperança, a sombra por dentro de mim ganhava espaço e me empenhava com todas as forças para acompanhá-la em seus pensamentos altos de confiança em nosso triunfo.

Ela própria, a nossa Lika, me insuflou a ideia de voltarmos para que, em casa, a nossa felicidade fosse completa.

Começamos o regresso, no entanto, parecia-me sentir a saudade antecipada de nossa casa e de nossa alegria. A querida companheira me fazia ver uma flor desconhecida, uma nesga de Céu azul, qual se me requisitasse daquela esquisita introversão, mas debalde…

Inesperadamente para ela, registrei aquele anseio irresistível de buscar o reconforto do telefone para ouvir a sua voz, apresentar-lhe, extensivamente a meu pai, os meus votos de Feliz Natal e de um aniversário da felicidade, que surgisse iluminado pelas bênçãos de Deus.

Lika não me contrariava desejo algum. Aprovou-me sorridente a decisão de telefonar do caminho e repeti-lhe as palavras de amor e bênção que recebera de seus lábios de mãe.

A viagem continuou sem episódios dignos de menção, entretanto, a saudade de nossa alegria estava comigo qual se estivesse incrustrada em meus pensamentos.

Não compreendia os sentimentos complexos que me abafavam. Por que saudade do lar, quando seguíamos para ele?

Por que aquela quarta-feira de cinzas em pleno Natal a chamar-me para as mais belas realidades da vida?

A cidade aproximava-se de nós ou nós nos abeirávamos dela. Barueri parecia retratar-se por dentro de mim, quando entramos na ponte sem qualquer exagero de velocidade.

Estávamos sóbrios, calados. Quem poderá saber o que aparecerá no minuto próximo?

Um toque de carreta pesada e despencamos para baixo.

Oh! querida mãezinha, quem descreverá o indescritível? Lika e eu nos abraçamos ou tentamos abraçar-nos, não sei bem. As ideias se me baralharam na cabeça.

Onde estava Alice que eu devia proteger? Quem me poderia responder as perguntas e atender-me as rogativas, naqueles instantes dolorosos demais para serem descritos?

A ideia de Deus relampagueou-me no cérebro. Deus que me dera a vida poderia retomá-la quando quisesse. Esse gesto interior da paciência me pacificou a alma e orei com um calor de fé para mim até então desconhecido…

Vi-me fora do corpo habitual, qual se eu fosse uma ervilha humana repentinamente expulsa do revestimento natural…

Fitava o meu corpo e me sentia num corpo igual àquele que os instantes daquela estranha experiência já me haviam separado. Minhas percepções, entretanto, estavam modificadas. Tentei assegurar-me do local onde fora esbarrar, mas em vão tentei alinhavar impressões que não chegava a reunir.

Ouvi vozes. Alguém que soube por Lika, mais tarde, ser um amigo que ela nomeou por tio Wiltzman repetia as palavras do Sl 23:1, com a fidelidade de quem estivesse com a Bíblia nas mãos: “O Senhor é meu Pastor e nada me faltará. Deitar-me-á em verdes pastagens…”

A bela invocação continuou e asserenei-me. Incapaz de definir o que se passava, lobriguei a presença de alguém que me abraçava. Quem era?

Fosse quem fosse, agradecia o calor daqueles braços que me enlaçavam carinhosamente. Meu nome familiar foi pronunciado e procurei identificar o desconhecido.

Centralizei todas as minhas energias e, embora imperfeitamente, qual se meus olhos não pudessem responder às exigências da visão, notei que me achava à frente daquele inesquecível amigo que muitas vezes chamei por tio Giuseppe Amatto.

A força da amizade e da gratidão era vigorosa demais para que me mantivesse afastado e caí-lhe conscientemente nos braços, a me agarrar ao seu peito forte, qual a criança quando se prende ao colo da mãe…

Um choro convulsivo em que se misturavam alegria e sofrimento, amargura e esperança me assinalou todas as faculdades do espírito, enquanto ele me pedia repousar e dormir.

Ignoro os mecanismos postos por ele em ação, em meu favor, porque suave anestesia me percorreu todo o corpo e entrei num sono ou desmaio, do qual somente despertei dias depois. Emprego semelhante expressão “dias depois”, porquanto eu desconhecia, como ainda desconheço a duração do tempo em que me vi alienado, fora de minha própria realidade espiritual.

Não consegui retomar a palavra de improviso.

Ouvia com segurança, entretanto, falar demandava um exercício para o qual devia entregar-me com atenção.

Penso que a minha alegria ao recobrar os recursos da expressão verbal, deve ser a felicidade dos mudos quando retomam os processos da fala. A breve tempo, a minha bisavó, tão jovem qual se estivesse vindo das fontes da juventude, veio ter conosco, tutelando-me qual se fosse você mesma, mamãe querida.

Indaguei do que sucedera à nossa Lika e vim a saber por nosso amigo Giuseppe que ela estava sob o amparo da família; refazendo forças…

Mãezinha Zi, o seu coração pode avaliar tudo o que seu filho sentiu naquelas horas de contato com a verdade.

Lembrei-me, porém, de sua fé viva em Deus e da serenidade de meu pai e reconquistei-me para a razão e para o equilíbrio que se me faziam necessários.

O amigo Giuseppe conduziu-me ao nosso ambiente doméstico, no qual minhas lágrimas se confundiram com as suas, diante de nossos retratos e pude reaver os meus primeiros contatos com a noiva do coração e companheira inesquecível.

Conto-lhe tudo isso, pedindo-lhe aceitação dos Desígnios de Deus.

Mãezinha, não há tempestade que se eternize. Os dias são passados, venho pedir-lhe, tanto quanto a meu pai, para que não se suponham sozinhos ou desamparados.

Choremos porque a saudade em nós exige a desibinição das lágrimas, no entanto, choremos admitindo a Sabedoria do Senhor que sabe melhor do que nós todos o rigor dos caminhos terrestres.

Estou bem, minha querida mãezinha. Não há motivo para amargura. Voltemos aos nossos dias de fé renovadora. O reencontro virá, mas espero em Deus esteja longe, porque a sua vida é preciosa na Obra de Deus.

Não permita que o desalento amplie em nós a sua área de influência negativa. A vida é bela, com as dores com que nos possa envolver. Quem enxuga o pranto alheio não mais encontra ocasião para chorar.

Lembremos os outros Giuseppes que estão caídos em extrema penúria. Auxiliá-los será auxiliar-nos.

Mãe, tudo agora me parece novo, conquanto a presença da nossa separação, porque a separação é uma presença dolorosa em nosso próprio ser.

Unamo-nos aos que trabalham para melhorar a vida dos que tombaram em provações maiores do que as nossas e recapitulemos a certeza de todas as bênçãos que temos recebido.

Lika está melhorando e seu filho está na melhor forma que se faz possível para ser-lhes útil.

Espero que minhas notícias lhe tragam consolo e paz. E creia, seu coração querido e eu nos reencontraremos, um dia, nas estradas do tempo, mas pelo trabalho aos semelhantes podemos sentir-nos unidos desde agora.

Muito amor ao Marcelo e reunindo-a com meu pai no abraço de sempre, rogo-lhe me abrace também, em seu pensamento, para que o frio da saudade não me retome, porque hoje e sempre, sou e serei o seu filho e companheiro de alma e coração.

Sempre o seu filho reconhecido


Giuseppe Mateus Mangano

Rubens A. Germinhasi


Giuseppe Mateus Mangano
Francisco Cândido Xavier

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