Lar-oficina, esperança e trabalho

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Capítulo XII

Família Secchieri

Bonito gesto, respeitável sentimento desse moço Ricardo.

“Não posso ser poltrão quando os nossos esperam de mim compreensão e coragem.”

Compreensão sentida na grandeza de alma desse rapaz, que libera o coração de sua noiva, mesmo mantendo os mesmos laços de afeição e que compreende a atual situação, tanto sua como a de Sueli. Enaltece-lhe os nobres ideais e agradece a ajuda.

Ricardo foi um moço com tendências caseiras. Atento com a saúde, não fumava e não bebia. Pouco saía.

Preferia gastar o tempo para ampliar seus conhecimentos, enriquecendo sua cultura. Fez o primário no Colégio São Francisco para, em seguida, no período ginasial e científico, cursar o Colégio Anglo-Latino e formar-se pela Faculdade de Engenharia FEI, em São Bernardo do Campo e Ciências Contábeis pelas Faculdades Associadas do Ipiranga — FAI.

Ricardo, contrariando a ideologia religiosa familiar, que abraçava a crença Católica Apostólica Romana, frequentava o Centro de Umbanda Pai Jamil com o qual se identificava plenamente.

Aplicava ali os preceitos da caridade cristã na ajuda ao refazimento dos necessitados da orientação espiritual.

Mesmo com a aplicação dos recursos que a doação Divina nos dispensa para a garantia da sobrevivência, não se pode esquecer que existe um tempo determinado de vida destinado a cada um de nós, que precisa ser bem aproveitado porque a surpresa faz a sua parte nos domínios classificados de resgates compulsórios, direcionando cada Espírito aos caminhos de sua responsabilidade.

Para Ricardo esse encontro marcado estava registrado em Fortaleza, quando seu irmão mais novo, em férias, convida-o a acompanhá-lo em excursão àquela capital, com mais alguns companheiros. Aceito o convite, hospedaram-se em apartamento alugado e passaram a curtir as maravilhas da Natureza.

Por necessidade, o seu irmão regressou a São Paulo com promessa de retornar tão logo resolvesse os assuntos que o levaram de volta.

Ricardo ficou com os amigos. Passaram o dia na praia e à noite resolveram passear. Alugaram um veículo. Antes, porém, resolveram jantar, em churrascaria próxima. Ricardo, apesar de gostar muito de dirigir, nesse momento achou melhor que o amigo tomasse o volante.

Alguns metros à frente, foram obrigados a parar no semáforo e, em alta velocidade, aparece outro veículo em conversão proibida, apanhando o carro dos rapazes. O companheiro do volante, com escoriações várias, ficou três dias internado para observações, os outros saíram ilesos e Ricardo fraturou o fêmur, perfurou os intestinos e, com hemorragia interna, veio a falecer.

Estampada a dor em suas vidas, os pais procuraram, em seguida ao acontecimento, o querido médium Chico Xavier, recebendo a informação de que Ricardo tinha aceitado com resignação a sua passagem para a Vida Espiritual mas, que sofria com a separação da família.

Três meses depois, para surpresa dos familiares, em curto espaço de tempo, recebem a visita do filho configurada nas palavras de sua carta.

Para os pais, após diversos contatos, passaram a admirar Chico Xavier, como um ser ímpar na defesa da Doutrina Espírita pela sua pregação, trabalho e mediunidade em prol da humanidade.

E como um pai que tem a mão suave para acariciar os filhos do sofrimento.


ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM ESPIRITUAL


RICARDO ROMANO SECCHIERI: Nascimento: 30 de agosto de 1951 — Desencarnação: 09 de fevereiro de 1985 — Idade: 34 anos.

PAIS: Ricardo José Secchieri e Aparecida Santos Secchieri — Rua Jaspe, 32, Apto. 142 São Paulo, SP.

IRMÃOS: Ivete Adelina Secchieri e Sidnei Alexandre Secchieri.

NOIVA: Sueli Maria, após divorciado.

AMIGO: Rubens Benello.


.: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.



Querida mãezinha Aparecida, receba com meu pai e com meus irmãos, as minhas vibrações de reconhecimento a Jesus pela oportunidade de trazer-lhes algumas notícias.

Vou sempre melhor, com mais serenidade, a fim de ajuizar sobre a minha própria situação, mas confesso-lhes que, se eu pudesse, apagaria da memória o acidente que me apanhou longe de casa. Dói muito reviver aquele choque com os meus companheiros disputando o campeonato dos gemidos. O amigo Rubens está em minha imaginação como que pregado em meus pensamentos. Não sei contar detalhes. As vítimas de acidente são as que mais ignoram o doloroso acontecimento de que foram protagonistas.

A queda no desmaio de que me reconheci possuído foi inevitável. Aquilo não pode ser sono, deve ser um estado enfermiço, qual acontece com o Espírito na vida fetal. Sei unicamente que acordei num dia ensolarado com a presença de uma senhora que se me deu a conhecer por bisavó, a quem fiquei devendo cuidados que nunca resgatarei.

O problema, querida mãezinha Aparecida e querido papai Ricardo, é o drama das saudades que ficam no coração. É possível, pelo menos que isso aconteça somente comigo: contemplar maravilhas da vida cósmica, no entanto, de alma acorrentada por fios invisíveis aos seres queridos que deixamos na retaguarda. Os pais amados, a Ivete Adelina, o Sidnei Alexandre e a querida Sueli Maria estão por dentro de mim de modo amargo, porque, por mais que deseje, não consigo vê-los nem contatar com nenhum dos entes que me povoam a mente.

Entretanto, os dias passam e a gente se vira, mas se vira com lágrimas contidas, porque não posso ser poltrão quando os nossos esperam de mim compreensão e coragem.

Mãezinha, diga à Sueli que os meus sentimentos de noivo são os mesmos. Os meus pensamentos é que tomaram outro caminho. Não posso retê-la com promessas e votos que seriam para ela inexequíveis. Sueli Maria é uma notável menina e me entenderá com os nobres ideais de que sempre me proporcionou elevados testemunhos.

Agradeço a ela quanto faz em meu auxílio, com preces e pensamentos de carinho, tanto quanto agradeço aos pais queridos e aos queridos irmãos, tudo o que me enviam a título de benefício para o meu Espírito em novo campo de ação.

Das contusões e complicações que me ficaram por remanescentes do desastre, estou quase liberto e considero isso uma Bênção de Deus.

Estimaria ocupar muitas laudas de papel a fim de falar-lhes de minhas experiências novas, mas sei que não posso por agora absorver-lhes as atenções.

Muitas lembranças à Sueli Maria e aos irmãos queridos. Admito que terei trazido as notícias possíveis. E quem faz o que pode a mais não é obrigado.

Agradeço-lhes o auxílio que tenho recebido espiritualmente de todos e peço aos queridos pais receberem o carinho imenso e a imensa confiança do filho que lhes deve tanto.


Ricardo Romano Secchieri

Rubens A. Germinhasi


Ricardo Romano Secchieri
Francisco Cândido Xavier

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