Lar-oficina, esperança e trabalho
Versão para cópiaFamília Caetano
Indagada sobre a vida de sua mãe, Dona Guiomar Caetano Scheneider, conta-nos o valor da mensagem psicografada por Chico Xavier e, mostra-nos a importância da atuação e presença desse Espírito no seu meio familiar.
“Cega por erro médico, na insistência dos familiares e de alguns médicos em tornar a conhecimento público o acontecimento, defendia a integridade do jovem doutor, achando que o erro não seria justificado com a denúncia do engano praticado.
Rogou aos familiares e aos doutores o juramento de não revelarem o nome desse oftalmologista. Penalizada com a situação, aceitou o acontecido, como provação em sua vida.
Muito ativa, sempre alegre, característica peculiar em mamãe, não media esforços para socorrer quem lhe pedisse ajuda. Nas épocas críticas das estações climáticas, principalmente o inverno, recorria à caridade humana para obter cobertores e alimentos, para fazer sopas aos pobres e agasalhá-los. Isso fazia com muito desprendimento e amor, às vezes ficava o dia todo ao telefone ligando a esses amigos. Aprendi muito com mamãe.
Ao mudar-se para Santos, um ano antes de sua desencarnação, em conversa, que me lembro bem, mamãe pedira que as flores e o dinheiro da missa quando ela partisse, fossem distribuídos e transformados em pão para os necessitados. Isto seria mais aceito por ela.
O seu sofrimento, 15 anos de cegueira e 10 anos de doença incurável, terminou quando, uma queda a levou para o outro mundo.
Por muita afinidade e por muito quere-la, meu sofrimento pela separação de mamãe, foi uma dor que nenhum alento preenchia o meu coração. Apesar de constituída minha família, meu esposo e meus filhos, um vazio frustrava as minhas ações.
A dor tem suas vantagens, cria-nos a própria defesa. A lembrança de sua partida, trazia-me à mente a certeza de que mamãe nos exemplificava a fé, quando solicitava a mim e a papai, que fizéssemos as preces que Jesus nos deixara, dizendo: “Chegou a hora, vou partir, me ajudem, estou tão sem coragem.” E começou a orar o Pai Nosso segurando minha mão, até brincou: — “Você não está vendo quem está aqui?” Como cousa que eu, neste instante, tivesse permissão de ver alguma coisa.
Partiu com certeza do amparo espiritual. Sua mensagem é prova disso. Ela descreve tão bem esse apoio por minha avó Inácia, carregando e consolando-a que me parece ver tudo como um quadro de consolo eterno.
Sua mensagem foi muito bem aceita em instituições de cegos, inclusive, evitando dois suicídios de outros deficientes da visão.
Muito teríamos para contar, porque, a saudade é uma lembrança viva e constante em nossos espíritos. Nas horas que a relembro, sua carta é o bálsamo que me tranquiliza, trazendo-me a paz necessária. Não só isso, vou repetidas vezes a Uberaba, em visita a Chico Xavier, aprender mais sobre a vida e a Doutrina Espírita. Esse homem que lá está, que emociona tanta gente, não pode deixar de ser venerado em nossos corações, como a luz que ilumina os palcos da vida, para os atores que somos nós, a encenar a peça que cada um precisa representar nesta obra, em que o Autor Deus, nos faculta para a Glória dos Anjos.
Deus abençoe Chico Xavier. Deus o guarde em sua pureza.”
ESCLARECIMENTOS NECESSÁRIOS DE PESSOAS OU FATOS CONSTANTES NA MENSAGEM ESPIRITUAL
CAROLINA CAETANO: Nascimento: 30 de janeiro de 1907 — Desencarnação: 01 de março de 1980 — Idade: 73 anos.
ESPOSO: João de Deus Caetano.
FILHA: Guiomar Caetano Scheneider — Rua José Maria Lisboa, 155 São Paulo, SP.
MÃE: Inácia Rodrigues Pedra, desencarnada em 17.08.1937.
NETOS: Maria Angélica Scheneider, a citação “…Diga por mim, à minha querida neta Maria Angélica que não temos mais o telefone para o entendimento de canto a canto” … confirma, pois, elas conversavam telefonicamente, diariamente, entre São Paulo e Santos. — Ruy Affonso Scheneider, nesse meio tempo, casou-se, por isso ela diz “…até que pude rever o Ruy e todos os nossos…”.
.: Antecipamos os nomes de pessoas ou fatos, para melhor identificação na leitura da mensagem espiritual.
Querida Guiomar, filha querida! Eu não sabia! Eu não sabia que toda a vida que nos cerca é um poema de luz.
Tanto tempo na sombra me condicionou a visão para me fixar na penumbra. Mas naquele dia de nosso adeus provisório, o nevoeiro me fazia temer! Receava partir, exilar-me do ambiente doméstico, distanciar-me dos entes amados!
E perguntava a mim mesma: não seria mais vantajosa para mim a continuidade da cegueira, conversando com as mãos que aprenderam a falar, através das sutilezas do tato?
A liberação do corpo físico é um grande momento!
A lucidez me presidia os pensamentos e, como se me visse favorecida por um prodígio com o qual não contava, através de tênue claridade interior, via os nossos familiares a me aguardarem felizes!
Orei pedindo a Deus a bênção da coragem e vi-me desatada do corpo que me prendia. A minha mãe Inácia me beijava e me pediu ver a luz da casa!…
O cativeiro terminara, o cativeiro das sombras e então consegui anotar o esplendor que se irradiava de todos os objetos. Horas passaram e via a luz dominando a Terra!
O sol me pareceu um lampadário de Deus fulgurando no Espaço infinito e contemplando a Terra, movimentei-me extasiada e observei que a luz de Deus inundava todas as forças da Natureza!
As flores se me figuravam focos iluminados destilando bendita claridade em torno do solo que os sustentava e descobri ou redescobri a luz no ar que respirava, nos blocos residenciais que surgiam diante de mim, ao modo de monumentos radiantes, nos quais a existência de milhares de pessoas resplandecia, sem que as criaturas humanas, em pleno mar de luzes ignorassem quanto ignorei por tanto tempo, que a irradiação do Céu, a repartir-se em cores variadas, nos servia de alimento!
Embriagada, avancei alguns passos, fora de nosso mundo particular e encontrei a luz nos olhos das crianças e das mães que me cruzavam o caminho!
Deus de bondade, como vivera durante tantos janeiros numa nave repleta de vibrações luminosas e não soubera até então.
Minha mãe Inácia, que me tutelava os passos, me abraçou e aconchegou-me ao colo qual se eu houvesse voltado a ser criança e me pediu pensar em repouso. Bastou isso e dormi tranquilamente, na suposição de que voltaria para perto do João e dos meus filhos!…
No entanto, dias transcorreram uns sobre os outros, até que, em certa manhã, despertei para novo deslumbramento. Dessa vez, o fulgor solar não me assegurava a alegria plena, porque entendi no olhar de minha mãe que já não me encontrava na mesma casa a que me habituara ao prazer do tato correspondido. Vastas extensões de Espaços nos cercavam, vestidas de luz sublime, no entanto, a saudade se me instalou no peito arrancando-me as lágrimas que se me faziam companheiras. Queria o João, queria você, esperava o Rui, buscava a nossa Maria Angélica com todas as minhas forças, qual se pudesse ilaquear a realidade mas, pela primeira vez, os clarões da vida me pareceram vazios. Achava-me sem os laços de amor a que me apegara e chorei intensamente. Minha mãe se incumbiu de reconfortar-me, falando-me da grandeza de Deus que não permite a separação definitiva entre os que se amam. Rogou-me calma e paciência em meu próprio benefício e alterada pela visão de luz que emana do Alto, sentia-me enlouquecer entre o júbilo e a tristeza, entre a esperança e a desolação. Creio que para mãe alguma a desencarnação, mesmo feliz, terá sido fácil.
Reconhecia-me na posição da árvore cortada por foice invisível, e transportada para longe dos que eram mais meus, demorei-me no desajuste. Foram precisos muitos dias de meditação para harmonizar-me com a verdade e tão logo se me asserenou o ânimo, pude voltar à nossa família. Abracei o esposo algo abatido, ansiando ser para ele os ombros em que se escorasse e envolvi-lhe o coração com o meu pranto de saudade e de esperança, a dizer-lhe palavras de amor para as quais não havia repercussão em seus ouvidos e depois, fui até você, enlaçando-a com o Renê e com a nossa querida Angélica em meu carinho…
E a peregrinação de ternura, prosseguia, até que pude rever o Ruy e todos os nossos, solicitar-lhes confiança em Deus!
Querida Guiomar estas foram as primeiras impressões de sua mãe para lá do Mais Além, onde outra vida se desdobra, devolvendo-nos os resultados de nossas obras e, desse modo, continuo na expectativa de voltar sempre ao nosso ambiente familiar a que me sinto presa pelos liames do sentimento.
Desejo ao João e a vocês todos, uma longa vida, coroada de êxitos em todos os passos e espero que um dia virá no transcurso dos outros dias, em que nos reencontraremos todos para o continuísmo de nosso amor.
À medida que se me desenvolve a compreensão, noto que devo desejar-lhes uma vida tão longa, quanto possível, porque aos poucos vou assimilando as lições da Terra, aprendendo que, enquanto em seu clima, precisamos viver e aproveitar a existência, tão longamente quanto possível. Viver, sim! Viver com otimismo e confiança para que a nossa existência seja cumprida em todos os tópicos do dever que nos foi assinalado pela Divina Providência. Ainda assim, conhecendo toda a extensão de nossas responsabilidades aprendo, sem pressa, o tempo de nosso reencontro feliz.
Filha, muito grata por todo o seu amor que nunca me faltou nos instantes certos. Diga por mim, à minha querida neta Maria Angélica que não temos mais o telefone para o entendimento de canto a canto do Céu e que, conquanto isso, dialogamos pelo pensamento e me felicita observar que a nossa querida Angélica sabe facear os problemas da vida com calma e coragem reanimando-me as forças.
Não posso escrever mais porque o mergulhar nas lembranças, de certo modo me inibe a faculdade de escrever como se o fizesse a filhos do coração dos quais não desejaria me afastar. A mãe Inácia me acompanha e deixa-lhe um abraço de alma para alma. Ao nosso querido João, você levará minhas notícias, marcadas por sorrisos e lágrimas que ainda me prendem para o contentamento de vê-lo feliz. A todos vocês e em especial à minha querida neta Maria Angélica, o beijo que aprendi a traçar em seu rosto, ponto a ponto, das mãos que não viam e agora veem.
Querida Guiomar, isso é tudo que eu poderia dizer nesta noite de paz e alegria, oferecendo a você o velho e sempre jovem coração de mamãe.
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