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Capítulo IV

Aflitos


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“Bem-aventurados os aflitos!” — disse-nos o Divino Mestre. (Mt 5:5)

Cabe-nos, todavia, considerar que semelhante felicidade não decorre simplesmente da dor pela dor.

Não podemos esquecer que a aflição é um dardo espiritual que nos impele à procura. E somente aqueles que procuram a frente se transformam em construtores do progresso.

Quem encontra para si mesmo um acordo acomodatício com as experiências da Terra, dificilmente consegue ausentar-se do vale da estagnação para os luminoso cimos do conhecimento superior, às vezes, tão somente, acessíveis pelos trilhos pedregosos do sofrimento.


Todas as descobertas, que dilataram a alegria e a cultura no planeta, nasceram na aflição de homens desajustados que souberam criar a renovação à custa do próprio sacrifício.

Guttemberg sente a angústia do pensamento enclausurado e estabelece o berço da imprensa.

Colombo reconhece a estreiteza do Mundo Antigo e, preocupado, avança no rumo da América.

Édison experimenta a inquietação das trevas e inventa a lâmpada elétrica que afugenta as sombras noturnas.

Marconi registra o tormento da separação que isola as criaturas entre si e aperfeiçoa o telégrafo, trazendo à civilização a maravilha do rádio.

Pasteur suporta consigo os padecimentos de milhões de enfermos e, atormentado, desenvolve a conquista salvadora contra os perigos do microcosmo.


Alinhamos estas citações para nos referirmos, tão somente, a alguns dos missionários da prosperidade comum.

Não podemos olvidar, porém, acima de tudo, o martirológio do Grande e Inesquecível Aflito da Cruz.

Sentindo na própria alma as chagas da ignorância e da penúria que arruinavam a Humanidade, Cristo vem a nós e imola-se no madeiro, para que o Amor incendeie o coração humano na senda dos séculos.

Por esse motivo, a última lembrança do Divino Flagelado está expressa no desajustamento que o assinala no monte do testemunho.

Nem no Céu indiferente aos enigmas do mundo, nem na Terra esquecido das perfeições celestiais, mas sim suspenso entre os anjos e os homens, como a dizer-nos que somente algemados à cruz de nossos próprios deveres é que acharemos, depois da procura vitoriosa, o excelso caminho de nossa própria ressurreição.




Emmanuel
Francisco Cândido Xavier


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