Luz na Escola
Versão para cópiaAção piedosa dos Espíritos do bem
Já Augusto Comte dizia, em suas intuições do positivismo, que os vivos são sempre, e cada vez mais, governados, necessariamente, pelos “mortos”. Sim, os seres que atravessaram a porta da morte exercem sobre os que ficaram notáveis influências. E as entidades de luz são bem aqueles anjos de que fala o escritor da epístola aos hebreus, aqueles “espíritos ministradores enviados para servir em favor daqueles que hão de herdar a salvação”. (Hb
No Rio de Janeiro, em julho último, o prezado confrade Manuel Quintão, vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, contou-me um fato que bem demonstra, insofismavelmente, a .
Estava o nosso irmão em julho do ano findo de 1939, e resolveu repor em seu lugar o piano da sala, afastado por motivo de limpeza do prédio. Ao segurá-lo, porém, ao dispender os esforços necessários, esquecido de que sua avançada idade não lhe permitiria tamanho gasto de energias, seu corpo, exausto das lutas da vida, não resiste e sofre o nosso confrade contorção da coluna vertebral, caindo ao chão, debaixo de fortes dores. É imediatamente levado para o leito, onde permanece, com a visita inesperada de violentas dores físicas. Enquanto o corpo padece, o espírito trabalha e pensamentos tristes invadem-lhe a mente. O nosso irmão julga não resistir ao choque violento e intimamente calcula que é chegada a hora de deixar a existência planetária. Não sente esperança de cura, notando os rigores da dor física que o retém ao leito.
Dois dias após o ocorrido, da cidade de Pedro Leopoldo o médium Francisco Cândido Xavier, ignorando completamente o acontecido no Rio de Janeiro, escreve pequena e aflitiva carta ao irmão Manuel Quintão, acompanhada de uma confortadora mensagem de Emmanuel. O sábio e bondoso Espírito, ciente do fato doloroso, escreve pelo lápis de Francisco Xavier palavras de ânimo dirigidas ao vice-presidente da Casa de Ismael. Ei-las:
Meu amigo, que Jesus te conceda constantemente ao coração os tesouros de sua paz sacrossanta, restaurando as tuas energias, postas a serviço da semeadura de suas verdade divinas. Não preciso das fórmulas humanas para levar-te a minha visita fraternal, com os meus votos de tranquilidade em nosso divino Mestre, mas sinto-me bem dentro da possibilidade de consolidar esses votos, com a cooperação do instrumento humano.
Temos estado junto de ti, insuflando-te ao coração a coragem necessária para as lutas terrestres. Os anos do mundo são bem os marcos da excursão pelo aprendizado e quando a alma encarnada se senta à beira do caminho, compelida pelo repouso forçado, é quando as meditações tristes a invadem, como se o coração mergulhasse num crepúsculo… Sim, meu amigo, é suave a contemplação das estrelas do céu da consciência, lavada das preocupações inferiores do mundo, mas na minha visita afetuosa e amiga eu ainda não te posso falar no descanso nas perspectivas celestes do Plano invisível, mas sim do trabalho que ainda nos compete no centro das tarefas terrenas. Também eu tenho o meu quinhão de fadigas, porquanto se o operário humano está envolto nas vibrações da carne, o trabalhador invisível encontra-se submerso nos fluidos que circundam os ambientes terrestres. E esses fluidos são, por vezes, bem pesados.
Amigos nossos te auxiliam com a necessária assistência espiritual infundindo-te novas forças, pois as leiras de “Ismael” esperam as tuas mãos. Bastará um repouso físico de mais alguns dias e as tuas reservas vitais, com a dispensa da misericórdia divina em teu favor, e em benefício de nossos trabalhos, estarão novamente restabelecidas.
Não te entregues aos pensamentos relativos às vésperas da Espiritualidade, porquanto a tua cooperação no serviço evangélico é ainda indispensável ao nosso próprio esforço no Plano terrestre. Em companhia de outros amigos espirituais, tenho cooperado, com a minha contribuição humilde, nas aplicações fluídicas, levadas a efeito para o teu restabelecimento físico e para a manutenção da tua serenidade interior.
Fica assim, registrada, em nosso livro do coração, a minha visita fraterna. E que o Mestre dos mestres te ampare o Espírito através das lutas na Terra, conservando-te, acima de tudo, a fé e a paz do espírito, é a súplica fervorosa do irmão e servo,
Acompanhando a mensagem, verdadeiramente enigmática para o médium, este escreveu algumas linhas a Manuel Quintão:
Pedro Leopoldo, 9 de julho de 1939.
Meu caro Quintão,
[…] Psicografando a parte diária do novo romance de Emmanuel (50 anos depois), recebi estas páginas que este nosso amigo do Alto me pediu para endereçar-lhe. Estou muito preocupado… O meu amigo foi vítima de algum acidente? Estarei enganado? Nada direi a ninguém, nem mesmo ao Pedro, se chegar a vê-lo hoje à noite, até que me venha alguma confirmação daí. Permita Deus que esteja bem. Não sei o que terá acontecido. Peço-lhe escrever-me, ouviu? Escrevi-lhe no dia 2 e não posso dizer que suas notícias estejam demorando, pois hoje é 9. Mas em face do comunicado de Emmanuel, dirigido a si, tenho o coração em cuidados por sua saúde. Aguardo suas notícias com a urgência possível, para meu esclarecimento […].
O leitor tem diante do cérebro e do coração um fato indiscutível; é ocioso qualquer comentário. O fato é clamante.
O caso citado é trazido ao conteúdo desse testemunho humilde porque um outro fato, muitíssimo semelhante a esse, se deu aqui em Campos, com referência à mensagem de Olímpia de Andrade. Artur Xavier dos Santos ficou satisfeito com a mensagem de sua mãe adotiva, recebida a 27 de julho. No dia seguinte, Francisco Xavier embarcou de volta a Pedro Leopoldo. Duas semanas depois, justamente na noite de 9 de agosto, sexta-feira, após a reunião doutrinária de costume, sou procurado pelo Artur, que me pergunta se um espírito comunicando-se pode demonstrar desconhecimento da situação de amigos seus já desencarnados também. Respondi-lhe que sim, era fato comum e explicável. Então o nosso irmão Artur apresenta-me uma carta, vinda de Niterói, e recebida na véspera, onde lhe era noticiado, entre outros fatos, a desencarnação da Sra. Adelaide, ocorrida no dia 29 de maio passado. A Sra. Adelaide é a mesma referida na mensagem de Olímpia de Andrade. Artur inquiriu-me, assim, o motivo de Olímpia de Andrade, Espírito, haver enviado sua palavra afetuosa à Sra. Adelaide, se esta já não pertencia mais ao mundo material desde maio. Por que Olímpia desconhecia a nova situação de Adelaide? Respondi-lhe não haver nada de anormal no fato, lembrando que, na pátria espiritual, os espíritos têm variadas tarefas e situações e, por isso, nem sempre estão atualizados com os acontecimentos da Terra. Lembrei-lhe ainda o fato de, ele, Artur dos Santos, vivendo na Terra, desconhecer até a véspera a desencarnação da Sra. Adelaide, ocorrida em Niterói havia cerca de um mês. Campos situa-se próximo a Niterói, mas ambas as famílias não mantinham correspondência constante, em que pese os laços afetivos. Desse modo, não são todos os Espíritos desencarnados, não obstante os laços respeitáveis que os ligam à Terra, que podem conhecer todos os acontecimentos planetários.
O jovem Artur demonstrou-se satisfeito com a explicação que a Doutrina fornece e que lhe foi transmitida. Entretanto, eu supus, intimamente, que Artur conservasse dúvidas íntimas. Achava que eu não lhe explicara convenientemente a simplicidade e naturalidade do fato.
A hora dessa conversação foi as 21h30 de sexta-feira, 9 de agosto de 1940. Dois dias depois, como no caso do amigo Quintão, escreve-me uma carta o irmão Xavier, nos seguintes termos:
Pedro Leopoldo, 11 de agosto de 1940.
Meu prezado Clóvis,
Meus votos de saúde […]. Já coloquei no correio uma carta registrada, que te enderecei com alguns cartões para irmãos nossos daí. Agora pego novamente a pena, como no dia que escrevi a Manuel Quintão (lembras do fato que ele te contou?) para te enviar a página inclusa que recebi na manhã de hoje e que Emmanuel me recomendou fosse destinada ao teu coração. Não devo duvidar se devo ou não enviar-te a mesma. Faço-o como o fiz com o Quintão e espero que me digas o que há. Do que houver espero as tuas notícias com a possível brevidade, ouviste? Se a mesma página não tiver significação, espero ainda, assim mesmo, as tuas notícias a respeito.
Escrevo-te apressadamente e deixarei estas linhas para que sejam postas ainda hoje no correio, porque tenciono ir agora a Belo Horizonte para voltar amanhã e quero aproveitar a primeira condução. Lembranças a todos. […] com um abraço, sou o teu irmão e servo humilde de sempre,
E anexo a mensagem de Emmanuel:
Meu amigo,
Deus te abençoe o coração.
A nossa irmã encontra-se em lutas que a entidade comunicante não conhece. Chegar em primeiro lugar numa corrida não indica que o vencedor da partida deva ser o mais sábio dos concorrentes.
Apesar de sentir-se consolada em seu mundo íntimo, a nossa irmã Olímpia está na situação de uma pessoa ausente do círculo estreito do plano familiar, fortalecendo-se depois de experiências muito penosas e rudes.
A lição a extrair-se é de que a morte do corpo é separação, mas nunca um milagre, como se fora um banho de sabedoria. É por esse motivo que, como nas demais escolas religiosas, o Espiritismo tem os seus problemas transcendentes, como o da observação em curso, cuja elucidação é do domínio do santuário, onde toda razão deve contar com as luzes purificadas do sentimento.
Nada mais é preciso acrescentar. Discutam-se teorias, mas os fatos são indiscutíveis.
[Ação piedosa do bem, alterado para: Ação piedosa dos Espíritos do bem]
A distância de Campos a Niterói é de 240 km. Outro detalhe é que a comunicação à época, 1940, era feita quase que totalmente via correios. (N. O. Flávio Mussa Tavares.)
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