Maria Dolores
Versão para cópiaA mensagem do Pântano
Estaquei para ver, à margem do caminho, O pântano esquecido, Que ali me recordava um mendigo tristonho, Paralisado à força, entre a penúria e o sonho. Aqui e ali, a relva florescente, Além, jequitibás de braços estendidos Para as aves em festa… Não longe, começava o mundo da floresta. Fitando a água parada, Ampliando no chão a cratera barrenta Ou a ferida sangrenta, A deprimir a estrada, Indagava de mim: — “Por que haveria, Um quadro assim na gleba desolada, Em meio à tanta terra, esbanjando beleza, Um pedaço de dor e de agonia, Humilhando o esplendor da natureza?” Foi quando o charco, então, me respondeu: — “Ouve-me, coração! Houve tempo em que eu Também, fui uma parte do jardim, Que encontras neste bosque, Um refúgio de paz, parecendo sem fim… Mas aquele a quem Deus entregou este campo Para ajudar, criar, erguer e produzir, Ante a preparação do futuro melhor, Nunca me viu chorando, em derredor Da mata que trabalha em favor do porvir; Talvez por distração ou por zelo no ganho, Não pensa que eu exista em suplício tamanho… Na posição mais baixa em que vim a nascer, Tive de resguardar na intimidade Enxurrada e detrito Como quem sonha e chora em pesado conflito; Moscas depositaram vermes em meu rosto, Tornei-me, assim, um vaso descomposto, Um recanto enfermiço; Não encontro ninguém que me estenda socorro, Para que eu também tenha um ponto de serviço. Deus que não desampara cousa alguma Deu-me algum verde … O verde que me alcança, A fim de que eu não perca o resto da esperança. Para que o homem note a penúria em que vivo, Deu-me plantas que aguentam minha dor, Que, às vezes, me recobrem de perfume, Em camadas de flor, E ajudando-me em tudo, Manda que a vida espalhe em meus barrancos Lençóis e mais lençóis de lírios brancos, Como a dizer aos homens que eu também, Quero aprender pureza e praticar o bem. Escuta-me! Entretanto, Muito de raro em raro, Passa alguém por aqui a registrar-me o pranto De pleno desamparo, E muita gente crê Que o Céu me fez por terra envilecida, A fim de envenenar a grandeza da vida. Onde está quem me possa libertar Das algemas de lama, Dos vermes que me empestam todo o ar, Da morte que me arrasa, Doando-me, por fim, A minha condição de solo ou de jardim, Capaz de ser o enfeite o brilho de uma casa?” Depois de ouvir o pântano, pensei: Quantos irmãos fora da lei, Quanta gente sem paz a que se arrime, Entregue à ignorância e à dor, à treva e ao crime, Por falta de atenção!… Então, pedi a Deus nos dê mais união, Mais trabalho e mais fé, Mais solidariedade e mais suor, Paz e compreensão, A fim de cultivar, no próprio coração, A bênção de servir na seara do amor! |
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