Maria Dolores

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Capítulo XXXVIII

Sinal de Deus


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Ouvi dizer que um Sábio

Procurando caminho,

A fim de sobrepor-se aos outros seres,

Após vencer hesitações em bando,

De alma firme e disposta

Para entender a realidade,

Interpelou a vida perguntando

Se o Tempo era o maior de todos os poderes;

Mas foi o próprio Tempo

Quem lhe trouxe a resposta:


— “Ouve, amigo,

Na marcha em que prossigo,

Não marco a senda em vão…

Sou mudança de tudo em derredor,

Firo e restauro, exalto e obscureço,

Para que o mundo pague o preço

Da corrida ao melhor…


“Impérios vi nascer nos milênios sem data,

Raças, povos, nações, conquistadores, reis…

Mas a vida exigiu estradas novas,

Novas realizações e novas leis

E tudo transformei com força intimorata.


“Vi milhões de pessoas sob algemas,

Vinculadas a lutas de outras eras,

Mas apaguei as aflições extremas,

Que as faziam sofrer

Sob longas esperas…

Ódio, ambição, loucura, em tremendos conflitos,

Sombras assinalando embates infinitos

Em convulsões de guerra

Cederam-me à pressão de gradativo corte,

Porquanto o meu domínio abrange a vida e a morte

Nos caminhos da Terra.


“Tudo segue comigo em todos os instantes

Nos meus braços gigantes,

Homens, legislações, conceitos, normas,

Renovo sem cessar no cadinho das formas…


“Embora isso, devo confessar-te

Que algo existe mais forte, em toda parte

Muito mais forte do que os meus impulsos

Esse algo que fica

E que ninguém relega para trás,

Revelando beleza, luz e paz

É o bem que se pratica.


“Tudo o que vês no mundo em ascensão,

É o bem que nasce, cresce e se alteia de nível,

Quase que atravessando as raias do impossível

Para manter a evolução…


“Ama, serve e constrói nos encargos que levas

E serás novo sol a dissipar as trevas;

Não te prendas a mim,

De idade para idade,

Vive na caridade…

O bem é o talismã da vitória sem fim.”


Somente aí o Sábio compreendeu

Que o Tempo por mais forte sofre a amarra

Da energia que esbarra

Entre limitações de ciclos e museus,

E que apenas o amor sobrevive no mundo,

Por dom inalterável e profundo,

— Permanente sinal da presença de Deus.




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier

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