Maria Dolores

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Capítulo XXXVII

Uma luz


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Por vezes, tanto empeço na estrada,

Que indagas, coração, de alma desencantada,

Por que meios humanos prosseguir…

Entretanto, ergue a fronte, ao vasto firmamento,

Da nuvem mais pesada ou do céu mais cinzento

Uma luz há de vir…


Deus a ninguém esquece… Ante a sombra noturna,

Sem bússola na selva imóvel e soturna,

O viajor se detém, sem coragem de agir;

Pára, pensando em Deus… A névoa se condensa…

Mas a oração lhe diz, além da sombra imensa:

Uma luz há de vir…


Abate-se na mina a sinistra barragem,

Pedras, detrito e lama impedem a passagem,

Vozes clamam, no fundo, a gemer e a pedir;

Eis que a prece se eleva e, ao socorro da Altura,

Gritam vozes de irmãos, promovendo a abertura:

Uma luz há de vir…


É noite. Sobre o mar, há bulcões em batalha,

Relâmpagos relembram fogo de metralha

No trovão a rugir;

O barco, aos vagalhões, treme, estremece, estala

Pequena multidão, ora, espera e se cala…

Uma luz há de vir…


Desse modo, igualmente, alma fraterna,

Quando a prova por sombra te governa,

Qual noite que te oculta as visões do porvir,

Quando tudo pareça escuridão que avança,

Trabalha, serve, crê e ouve a voz da esperança:

Uma luz há de vir…




Maria Dolores
Francisco Cândido Xavier


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