Militares no Além

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Capítulo I
Ilustração tribal

Minhas palavras serão poucas


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02/01/1936


Meus filhos as bênçãos de Deus sejam derramadas sobre suas cabeças.

Minha Júlia, meu Aurélio, o céu dê a vocês muitas felicidades.

. Não tenho voos imaginativos e poucos soldados sabem escrever, meu Aurélio. Sofri bastante, meus filhos, neste mundo para onde a morte me arrebatou. Os deveres militares são, às vezes, severos e apesar de praticarmos e agirmos em nome da ordem há sempre um fundo amargo na responsabilidade individual que nos fica de todos os problemas. Felizmente, porém, sinto-me a caminho da compreensão elevada das coisas nobres e profundas da vida. Penso muito em todos os meus que aí deixei e tenho feito o possível para adaptar-me a esse gênero de vida, ao qual ainda não pude me identificar integralmente. Pesou sempre, meu Aurélio, em minha existência a acusação de traição nos tempos detestáveis de 1893, quando a minha atividade não partiu senão do meu bom desejo de trabalhar contra os derramamentos de sangue, largamente praticados a pretexto da consolidação da República. Sabem o que sofri e até hoje vêm à minha lembrança a recordação comovida dos amigos Travassos e Cantuária, lembram-se? Os tiranos da política muito sofrem por aqui, onde as leis já não representam os fios da aranha, que prendem consigo somente os insetos fracos.

Dou graças a Deus por falar a vocês estas palavras. Continuem na crença que hoje lhes felicita o íntimo. Trabalhem muito nessa caridade que é ensinada pelos mensageiros divinos, que batem à porta do coração dos que professam essa Doutrina tão formosa e tão consoladora, e nunca se arrependerão de haver seguido esses passos luminosos.

A todos os meus, deixo as minhas recordações, cheias de afeto e de saudade.

Meu caro amigo, o seu irmão Ambrósio, apesar de desejar estar consigo, não pôde se manifestar por enquanto. O seu desejo, porém, é de que você não o esqueça em tempo algum.

Adeus, meus amigos. Deus os abençoe, concedendo-lhes muita paz.




Conforme publicado no site , acessado em 03 jan 2008, Júlia Pêgo de Amorim “nasceu no Rio de Janeiro, no dia 15 de setembro de 1879, sendo a primogênita do casal Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior e de D. Júlia Amália da Silva Pêgo. Diplomou-se em professora pela antiga Escola Normal do DF em 1898, lecionando em várias escolas da capital. Ocupou o cargo de Diretora de Música da Escola Normal, estagiou na Escola Benjamin Constant, na Praia Vermelha, para cegos e foi diretora da Escola Pública de São Cristóvão, então 6” Distrito Escolar. Casou-se em 1899 com o Dr. Aurélio de Amorim, oficial do Exército, e foram residir no Alto da Boa Vista. Notando a ausência de escolas naquela localidade, D. Júlia empenhou-se junto à Prefeitura Municipal para que ali se fundasse uma, cedendo uma de suas salas para que funcionasse a primeira escola do Alto da Boa Vista, mais tarde substituída pela Escola Menezes Vieira, ainda hoje existente no populoso bairro, da qual foi a primeira diretora. De família espírita, D. Júlia Pêgo de Amorim fez-se abnegada trabalhadora da Doutrina. (…) Ao longo da obra, o leitor verificará que o Marechal a chama também, carinhosamente, de Julinha.


Travassos e Cantuária eram amigos das famílias Pêgo e Amorim.


Ambrósio era irmão de vovô Aurélio e foi casado com a norte-americana Marie Benson.


Pêgo Junior: outro modo como o Marechal Antonio José Maria Pêgo Junior assinava seu nome. Algumas mensagens também são assinadas por ele como Antoninho ou tão somente Pêgo.



Pêgo Junior 
Francisco Cândido Xavier

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