Na Era do Espírito
Versão para cópiaAs provações
“A página de nossa irmã e benfeitora espiritual Maria Dolores foi recebida em nossa reunião pública. Achava-se conosco distinto jornalista da Guanabara, interessado em observar como se processava a psicografia. Ele mesmo guardou o original a lápis, deixando a cópia em nossas mãos.
Esclareço ainda que na reunião mencionada o tema trazido a estudo foi a questão 738 de O Livro dos Espíritos, () relativa às provações que assediam a humanidade.”
Escuta, alma querida, Aceita as aflições e as lágrimas da vida, Por agentes de acesso à Esfera Superior… Mágoa, queixa, revolta e rebeldia Lembram muralhas sob a noite fria Furtando o coração à luz do amor. Se a prova te retalha a alma sincera, Perdoa, faze o bem, trabalha e espera Aprendendo da estrada em derredor… Tudo o que vive e sonha, sofre e ama, Dos astros do Infinito aos vermes sob a lama, Dando-se à elevação do futuro melhor… O Sol potente que nos ilumina É um gigante em perpétua disciplina, Varando lutas que desconhecemos, Por mais se lhe arremesse lixo à face, Brilha em silêncio como se explicasse Que só o amor domina os Céus Supremos… Corre a fonte da penha ao chão da serra, Depois, ganhando o vale, faz da terra Verdejante celeiro em garbos de jardim… Pelo bem que constrói, de segundo a segundo, Muitas vezes recolhe os detritos do mundo, Mas beija lodo e pedra e canta mesmo assim!… O carvão na lareira acende a chama, O tronco mutilado não reclama, A estrada se aprimora aguentando tratores… No trigo triturado o pão puro se asila, Cria-se a porcelana em fogo sobre a argila, O roseiral podado dá mais flores!… Assim também, alma querida e boa, Não recuses a dor que aperfeiçoa, Se nos espanca os sonhos, teus e meus… Golpes, tribulações, angústias, tempestade São recursos da vida erguendo a Humanidade Para a Bênção de Deus. |
As coisas naturais são constantes lições de paciência ao nosso redor. Tudo no mundo nos ensina duas lições fundamentais: a da evolução e a da imortalidade. Porque tudo se desenvolve em direção ao futuro e tudo morre para renascer. A Ciência reconhece que nada se perde, tudo se transforma. A Filosofia, mesmo em suas correntes mais atuais e mais negativas, reconhece a evolução geral e admite que o homem é um pro-jeto, ou seja, uma flecha que atravessa a existência em direção a um alvo superior.
Se nos recusamos a entender as lições que nos rodeiam e as que brotam do fundo de nós mesmos é porque, segundo explica a questão 738 de O Livro dos Espíritos: () “Durante a vida o homem relaciona tudo ao seu corpo”. Mas, diz a mesma questão: “após a morte pensa de outra maneira”. Apegados ao corpo, limitados pelas percepções físicas, avaliamos a dor pela medida do tempo. Entretanto, os Espíritos nos lembram, nessa mesma questão: “Um século do vosso mundo é um relâmpago na eternidade”.
Jesus nos ensinou, por isso, o desapego, advertindo: “Quem se apega à sua vida perdê-la-á”. Maria Dolores se comunica em poesia para nos tocar ao mesmo tempo o sentimento e a razão. É a mesma técnica usada por Jesus nas parábolas e na, poesia do Sermão do Monte. A didática moderna confirma, a eficiência desse método que nos relaciona com as coisas naturais, que se serve do estímulo do ambiente, da lição das coisas concretas para nos levar à compreensão do sentido da vida.
A dor, ensinou Léon Denis, discípulo e sucessor de Kardec, é uma lei de equilíbrio e educação. A Psicologia moderna comprova que aprendemos através de tentativas frustradas, de ensaios sucessivos. É por meio dos erros que chegamos ao acerto. A sabedoria popular nos diz: “O que arde cura, o que aperta segura”. As pessoas inquietas perguntam porque há de ser assim, porque Deus não nos criou perfeitos e bons. Mas Rousseau já ensinava que tudo sai perfeito das mãos do Criador. A perfeição inclui também o livre arbítrio, pois só através dele chegamos à consciência plena. A dor de um minuto nos desperta para a felicidade sem limites, como a ventania de um instante limpa a atmosfera por muitos dias.
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